Fim do home office e volta ao trabalho presencial para 20 mil
Empresas têm chamado de volta os empregados para o modelo híbrido ou presencial. É o caso da Vale, onde será preciso ir três vezes por semana
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Impulsionado pelas restrições da pandemia, o trabalho em home office acabou virando a saída nos tempos da covid-19, mas, com a normalização, vem sendo substituído pelos modelos híbrido — em que se trabalha alguns dias em casa e outros na empresa — ou totalmente presenciais.
Desde que essa movimentação se tornou mais forte, há cerca de um ano, em torno de 20 mil profissionais no Estado voltaram ao trabalho presencial em empresas privadas e repartições públicas, conforme estimativa do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Espírito Santo (ABIH-ES), Fernando Otávio Campos.
Um dos casos é da Vale. Na última semana, ela definiu a volta de empregados que estavam em home office para o escritório. A empresa confirmou que alterou seu atual modelo de trabalho híbrido, passando de “acesso eventual ou frequente” para presença de, no mínimo, três vezes por semana.
A implantação, segundo a empresa, será gradual e é “resultado de uma avaliação contínua da empresa em busca de excelência”.
No serviço público, alguns órgãos também já haviam retomado as atividades presenciais, a exemplo do Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES). Segundo o órgão, o formato presencial foi retomado nos últimos anos em todas as unidades: “Os casos de autorização para trabalho remoto ou híbrido são excepcionais e justificados.”
O retorno tem seguido uma tendência internacional. A Amazon, com 1,5 milhão de empregados no mundo, informou em setembro o fim do trabalho híbrido e remoto. A mudança, para cinco vezes por semana de forma presencial, entra em vigor a partir de janeiro.
Fernando Otávio afirmou que, em janeiro deste ano, mais de 2 milhões de brasileiros já haviam deixado o home office. A expectativa, diz ele, é que no Estado, o número chegue a 20 mil até o fim do ano.
Para ele, a mudança no modelo de trabalho de grandes empresas deve provocar adesão de outras.
“Várias grandes empresas já estavam se movendo neste sentido de terminar o home office, seja por razões técnicas, redução de produtividade, segurança digital e para aumentar a gestão sobre a saúde do trabalhador. Elas acabavam adiando a mudança com receio de perder funcionários. Sendo uma tendência, este risco diminui, apesar de ainda existir”, enfatizou.
Direitos no retorno ao escritório
Apesar da tendência de retomada do trabalho presencial, a maioria dos trabalhadores que estão no modelo remoto ou híbrido diz que não gostariam de voltar a ter de ir todo dia para os escritórios.
De acordo com um estudo elaborado pela plataforma de emprego Resume Builder, 90% das empresas retornarão ao escritório até o final do ano. Em contrapartida, um levantamento da Bare International revelou que 70% dos trabalhadores não gostariam de voltar.
A retomada do trabalho presencial, segundo especialistas, também garante alguns direitos.
A advogada trabalhista e presidente da Comissão de Direito do Trabalho da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Espírito Santo (OAB-ES), Alice Cardoso, explicou que no caso do regime home office que tenha sido implementado como medida temporária, em razão da pandemia, trabalhadores que estão retornando ao presencial devem ter preservadas as mesmas condições anteriores.
“Em relação aos empregados que foram morar longe, o retorno deve ser comunicado com antecedência razoável. A empresa pode ser responsável por custos de reinstalação, dependendo do contrato ou acordo coletivo que tenha feito para ir ao home office.”
Ela frisou, ainda, que o empregado não pode se recusar ao retorno sem uma justificativa, podendo ser caracterizado como ato de insubordinação.
A advogada e professora universitária Aline Simonelli frisou que os custos de uma eventual mudança realizada quando foi instituído trabalho em home office geralmente são de responsabilidade do trabalhador, exceto se houver cláusula contratual que indique o contrário.
“Equipamentos fornecidos pela empresa para o trabalho em home office, como notebook, por exemplo, podem ser solicitados de volta, a menos que o contrato determine outra coisa. Se havia auxílio pago para cobrir despesas, como de internet, energia, também podem ser suspensos no retorno ao trabalho presencial”.
Mercado imobiliário afetado
A volta de trabalhadores a escritórios de empresas privadas e repartições públicas provocam impactos até mesmo no comércio de bairros e no mercado imobiliário.
O vice-presidente da Associação Empresas do Mercado Imobiliário do Espírito Santo (Ademi-ES), Alexandre Schubert, revelou que na pandemia houve um esvaziamento forte de escritórios no País inteiro. “Estamos vendo é uma retomada da normalidade, com ocupação de espaços”.
Quanto a áreas residenciais, ele destaca que as pessoas voltaram a morar perto do trabalho. “Aqui não houve grande afastamento de grandes centros, mas muitas pessoas optaram por apartamentos maiores ou mudança para casas”.
Outro movimento, segundo ele, é que quem conseguiu ficar em uma segunda residência, mais afastada, retornou ao espaço que tinha na cidade, mas mantendo o espaço para fins de semana.
O presidente da ABIH-ES, Fernando Otávio Campos, destacou que no caso de empresas grandes, a exemplo da Vale, muitos funcionários moravam em Jardim Camburi e Mata da Praia e, no home office, mudaram de bairro, cidade até de estado. “Guarapari, por exemplo, tem muitos que trabalham na Vale e teriam que mudar ou ficar horas no trânsito”.
Saiba mais
Como fica o retorno ao trabalho presencial
No caso de empresas ou repartições públicas que adotaram o regime home office na época da pandemia, de forma temporária, elas podem solicitar o retorno ao modelo presencial.
Para isso, devem ter preservadas as mesmas condições anteriores à sua colocação em home office a fim de que ele não sofra prejuízos ou tenha violado seus direitos.
Advogados explicam que no caso de trabalhadores que foram morar longe, o retorno deve ser comunicado com antecedência razoável.
A empresa pode ser responsável por custos de reinstalação ou ajuda de custo, dependendo do contrato ou acordo coletivo que tenham feito para ele ir para o home office.
O trabalhador volta a ter direito ao vale-transporte, podendo optar pelo benefício já que terá que se deslocar ao trabalho.
O empregado pode buscar junto à empresa manter o trabalho remoto, desde que tenha uma justificativa como razões de saúde ou motivos de força maior.
Repartições públicas e empresas privadas
Vale
Alterou seu atual modelo de trabalho híbrido, passando de acesso eventual ou frequente para presença de, no mínimo, três vezes por semana. A implantação, segundo a Vale, será gradual.
Petrobras
O Coordenador do Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro-ES), Valnisio Hoffmann, afirmou que até o momento a maior parte dos trabalhadores atua de forma híbrida – presencialmente duas vezes por semana.
Tribunal de Justiça
Tem parte dos servidores trabalhando em regime de teletrabalho.
Ministério Público Estadual
já retornou ao formato de trabalho presencial em todas as suas unidades. Casos de autorização para trabalho remoto ou híbrido são excepcionais e justificados
Ministério Público Federal
Disse que 85% dos servidores da Procuradoria da República no Espírito Santo fazem trabalho não presencial – maioria em regime híbrido
Fonte: especialistas, empresas e repartições.
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