Aumento de manias entre os jovens vira desafio para especialistas
Ranger os dentes, fazer caretas e piscar os olhos excessivamente são alguns dos tiques nervosos observados
Presos em casa devido à pandemia, crianças e adolescentes começaram a desenvolver não apenas problemas de ansiedade, como também tiques nervosos e manias que passaram a preocupar os especialistas.
O aumento desse quadro, que já era estudado há anos por médicos, foi ainda mais agravado após o isolamento social e a grande exposição dos pequenos às telas.
Entre os principais tiques e manias que surgiram, estão roer as unhas, piscar os olhos várias vezes seguidas, ranger os dentes, morder a gola da blusa, e mexer exageradamente no cabelo e nas orelhas.
A médica pediatra e hebiatra Bruna Bressanelli observou esse crescimento nos consultórios e apontou que o problema está relacionado, na maioria das vezes, a uma alta sobrecarga de estresse.
Os primeiros sintomas são parecidos com o de doenças comportamentais, a exemplo da depressão, como mudanças no sono e tristeza, entre outros. Em seguida, como consequência, surgem os tiques.
“Quando a criança ou o adolescente apresenta algum tique, significa que algo está errado na sua saúde mental. Às vezes, também pode ser um problema neurológico, mas é bem mais raro”, alertou.
De acordo com uma pesquisa feita por cientistas do Reino Unido e divulgada neste ano, os cacoetes afetam, normalmente, crianças entre 5 e 7 anos. Além disso, os diagnósticos acontecem com mais frequência entre meninos.
“Há aqueles que são transitórios, que somem com o passar do tempo, mas alguns, se não forem tratados, podem ter consequências até durante a vida adulta”, ressaltou Bruna.
É por isso que as famílias devem buscar ajuda o quanto antes, sobretudo se já houver prejuízos nas atividades cotidianas dos pequenos, segundo a psiquiatra infantil Fernanda Mappa.
“Uma das consequências disso é que, no futuro, a criança pode sofrer e cometer bullying com outras crianças, assim como ter transtornos comportamentais sérios. Precisamos romper esse ciclo”, disse.
Outra orientação é que os pais não ignorem os sinais e tentem acolher o pequeno, em vez de repreender. “Esse é um ato involuntário, que ele sequer percebe quando faz. Não dá para dizer 'para com isso', ou algo do tipo. Só vai piorar a situação”, orientou o médico psiquiatra Vicente Ramatis.
Dança e pintura para distrair os filhos
Ranger os dentes, piscar os olhos repetidamente e roer as unhas foram algumas das manias que os filhos do casal Eliza Campos, de 32 anos, e Fábio Campos, 33, apresentaram nos últimos meses.
Para resolver o problema, os dois começaram a fazer atividades que distraíssem os pequenos, como dançar e pintar em família.
“Eles precisavam gastar energia e se desligar desse isolamento. Deu supercerto”, conta Eliza, mãe de Davi, de 7 anos, e de Ester, de 3, além dos gêmeos Iza e Natan, de 1 ano.
TIQUES E MANIAS
Pandemia
- Um novo problema ocasionado pela pandemia já desafia os profissionais da saúde: o aumento de tiques nervosos e manias, sobretudo em crianças e adolescentes.
- Esse quadro, segundo especialistas, é consequência do estresse, pelas mudanças na vida social e do excesso de tempo em frente às telas.
- 20% das crianças possuem tiques. Muitas delas não são avaliadas ou diagnosticadas, conforme uma pesquisa da Akron Children's Hospital, dos EUA.
Diferenças
- Apesar de parecerem iguais, os tiques nervosos se diferenciam das manias.
Tiques nervosos
- São caracterizados por ações inconscientes – ou seja, quem sofre com o problema não percebe que está agindo de tal maneira.
- Além disso, eles costumam se manifestar com movimentos bruscos no corpo, como se fosse um espasmo.
Os transtornos de tiques são classificados em três tipos:
- 1 - provisional: dura menos de 1 ano, com tiques motores ou vocais.
- 2 - persistente: mais de um ano, com tiques motores ou vocais.
- 3 - Síndrome de Tourette: mais de um ano, com tiques tanto motores quanto vocais.
Os mais comuns:
- Piscar os olhos várias vezes seguidas.
- Ranger os dentes.
- Fazer caretas.
- Estalar a língua.
- Mexer exageradamente nas orelhas e no cabelo.
Síndrome de Tourette
- Caso os tiques de crianças e adolescentes durem por um período maior do que um ano, é possível que eles sejam, na verdade, manifestações da síndrome de Tourette.
- A doença é um quadro mais grave, já que a pessoa pode se machucar e até gritar palavras ofensivas em público, sem autocontrole.
- Ela também se diferencia do transtorno compulsivo obsessivo (TOC), que caracteriza-se mais por medos irracionais, como de contrair germes e bactérias pelas mãos e, por isso, higienizá-las exageradamente.
Manias
- Já as manias são mais brandas. Elas possuem um propósito e acabam sendo feitas de forma mais consciente, trazendo uma maior sensação de satisfação ao corpo.
As mais comuns:
- Quanto às manias, vale a pena citar:
- Roer as unhas.
- Morder a barra da blusa.
- Separar a comida no prato.
Fatores de risco
- Quanto mais ansiosa e estressada a criança ou o adolescente estiver, maior o risco de ela desenvolver algum tipo de tique nervoso ou mania – embora não seja um fator definidor, ou seja, que toda criança ansiosa terá tique.
- Entre alguns dos principais sintomas de que algo está errado, são destaques: perda ou ganho de excesso de peso, tristeza, mudanças no padrão de sono, automutilação e idealização suicida.
- Caso a família também reaja mal ao problema da criança, afirmando que é “frescura” ou mandando que ela pare, apesar de o pequeno fazer isso de forma inconsciente, há risco de o quadro ser agravado.
Tratamentos
- Um tique precisa de atenção quando começa a prejudicar a vida de quem o tem. Crianças, por exemplo, podem começar a sofrer bullying por causa do problema.
- Caso os tiques interfiram na autoimagem da criança e do adolescente, também devem ser avaliados por profissionais da área, como psicólogos, psiquiatras e terapeutas ocupacionais.
- Somente em casos graves, há a recomendação de medicamentos.
- Os especialistas indicam ainda que os responsáveis desenvolvam atividades que o filho goste e que o distraiam do transtorno.
Fonte: Especialistas entrevistados e pesquisa AT.
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