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Cidades

“Busca pela beleza não é passaporte para felicidade”


Imagem ilustrativa da imagem “Busca pela beleza não é passaporte para felicidade”
Joana de Vilhena: “Beleza é vitalidade, não estar acometido por depressão” |  Foto: Divulgação

Buscar o melhor ângulo, esconder linhas de expressão e adicionar filtros de beleza. Nas redes sociais, é comum a exibição de corpos sarados.
Para quem acha que a beleza traz felicidade, procedimentos estéticos, cirurgias plásticas e dietas da moda podem ser a solução para retardar o tão temível envelhecimento. Mas, até que ponto, a busca pela beleza é saudável?

Médica, pós-doutora em Psicologia Social e coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Joana de Vilhena Novaes explica que muitas pessoas acham que, com uma nova aparência, será possível conquistar um bom emprego, sucesso e amor.

Ela ressalta ainda os exageros que têm sido feitos em busca de um padrão de beleza, como o excesso de procedimentos estéticos.

“A busca pela beleza não é o passaporte para a felicidade. Essa busca é tudo que fazemos para fugir da feiura, ou seja, para não nos sentirmos excluídos socialmente”.

A Tribuna – O que é ser belo?

Joana de Vilhena NovaesComo psicanalista e professora, eu te responderia que beleza é vitalidade. É eu poder sentir que meu corpo é companheiro, que não levanto cheia de dor. Ou seja, é ausência de doença, é esse corpo me responder. É não ficar entrevado em uma cama, quer seja por um problema físico ou subjetivo, não estar acometido por uma depressão. É a ausência dessas feiuras, externas ou internas.

Como sujeito comum, eu diria que ser belo é um capital, uma moeda de troca. É ter os traços desagradáveis do envelhecimento atenuados. As pessoas entendem beleza como esticar a juventude pelo máximo de tempo possível. E, preferencialmente, dentro dessa juventude, não ostentar muita gordura corporal. Beleza, juventude e magreza.

No imaginário social, a pessoa vai te responder isso, que a pessoa bela tem uma aparência jovem, vitalidade e um corpo leve.

A grande representação social de beleza na atualidade é essa: não pode ter um corpo pesado. E a gente entende, infelizmente, que velhice e gordura em excesso, são paradigmas de feiura.

Há uma falsa ideia de que ser belo é ser feliz?

Certamente, porque ser jovem e magro te dá acesso a uma série de bens de consumo. É ter as portas abertas. Convite para festas, viagens, um bom networking, circular em lugares da moda, as pessoas quererem estar perto e copiar o estilo de vida. Isso tudo vem com a beleza, ela abre portas.

Por isso, as pessoas entendem que a beleza é um passaporte para a felicidade. Estou dizendo o que a sociedade do consumo nos informa como valor agregado da beleza.

Mas a busca pela beleza é um passaporte para ser feliz?

Não. A busca pela beleza não é o passaporte para a felicidade. Essa busca é tudo que a gente faz para fugir da feiura e não nos sentirmos excluídos socialmente. Por isso, meu primeiro livro tem esse nome: “O intolerável peso da feiura”.

Há quem ache que a beleza ajude a ter sucesso...

Não tenho a menor dúvida. Não acho que ela ajude, acho que ela é fundamental. O mercado funciona dessa maneira. Ele vai te dizer, clarissimamente, vai dar evidências de que os belos têm mais facilidade para namorar, arrumar trabalho, para ter amigos, para ter convites. A beleza abre portas.

Pode explicar?

Sabemos que pode não ser dito explicitamente, atualmente, para o empregador não sofrer um processo, ser acusado de preconceito, mas as empresas não gostam de contratar pessoas gordas e nem muito velhas.

Por quê? Porque esses dois grupos, velhos e gordos, são compreendidos como aqueles que produzem lentamente e menos. Estamos em uma cultura da performance. Uma cultura que associa traços estéticos a caráter e a performatividade.

O discurso que temos é que só é feio quem quer. Se só é feio quem quer, criamos um imaginário social da mais aguda intolerância à feiura.
Como eu disse anteriormente, se a feiura é sintetizada em gordura e velhice, já deu para entender quem são os feios, os marginais, quem são os excluídos, que não vão conseguir boas colocações no mercado de trabalho, que vão estar excluídos do mercado amoroso, que terão a sexualidade vista com escárnio.

De onde vem o padrão de beleza estabelecido hoje em dia?

É uma cultura bulímica. Ela te oferece todos os excessos, de comida, roupa, viagens e, depois, manda você se virar para se livrar desse excesso.

Comida nunca foi uma facilidade tão grande, como é hoje em dia. Isso é típico de uma sociedade de consumo.

Se perguntarmos aos nossos avós, não se tinha essa facilidade que há hoje. Carnes raras, doces, especiarias.

É uma cultura da abundância, que começa a ser identificada no final da década de 1960 e início de 1970. É uma cultura que te convoca à compulsão, te apresenta toda sorte de estímulo, para depois te exigir privar deles. Nunca estivemos tão expostos a tantas delícias e facilidades.

Imagem ilustrativa da imagem “Busca pela beleza não é passaporte para felicidade”
Jovem em academia de ginástica: especialista alerta para os casos em que o excesso de cuidados com o próprio corpo, em nome da beleza, começa a limitar e prejudicar a vida social |  Foto: Divulgação

“As pessoas banalizam o risco para serem aceitas”, diz especialista

Para não se sentirem excluídas socialmente, as pessoas se submetem a práticas estéticas perigosas e banalizam os riscos, segundo a psicóloga Joana de Vilhena Novaes.

Qual o motivo de tantas pessoas buscarem por transformações estéticas cada vez mais frequentes?

Porque você monetiza. Ela (a beleza) não traz felicidade, mas facilita, digamos. As pessoas banalizam o risco. O que eu quero dizer? quem puder fazer isso de uma forma cuidadosa, em um hospital, com profissionais gabaritados, vai fazer. Agora quem não puder, vai fazer de qualquer jeito. É esse “de qualquer jeito” que estou chamando de banalização do risco. É aí que você tem mortes e sequelas.
Estudo isso há 20 anos, e as estatísticas não diminuem, apesar dos movimentos de ações terem aumentado. As pessoas continuam morrendo. Se mesmo as pessoas famosas, para se sentirem aceitas, terem mais seguidores e mais contratos, se submetem a práticas perigosas, já imaginou quem não tem dinheiro? Em nome de não se sentir excluído, há um número maior de pessoas querendo se adequar.

O que é cuidado com o corpo e o que é doença?

Antes, o que era considerado como comportamento patológico, é ressignificado e reavaliado moralmente e, hoje, é compreendido como vaidade.

Há outros parâmetros mais concretos, dentro da área da saúde, como: o quanto de limitação e empobrecimento na minha vida associativa, os cuidados em nome da beleza, estão me trazendo? Deixei de namorar, sair com meus amigos? Deixei de ir à praia, viajar; não saio antes de malhar? Mudei minha dieta radicalmente? Vivo para cima e para baixo de marmita?

O quanto da minha vida social passa a estar limitada, e a relação rígida, de não poder negociar, com esses hábitos, é que vão determinar o critério para eu identificar se alguém tem uma relação patológica ou não com o próprio corpo.

Por outro lado, há a obesidade como problema de saúde pública. O que está acontecendo?

Temos uma série de veículos e redes sociais tentando ensinar as pessoas como perder peso, e nem por isso as pessoas estão se alimentando melhor. Isso é uma falência e fracasso, em termos de estratégia do combate à obesidade. Quando se criminaliza a gordura e cria terrorismo alimentar, criam-se sujeitos ansiosos, com profundo mal-estar e insatisfação com a própria imagem.
 


Quem é


Joana de Vilhena Novaes

  • É mestre e doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), pós-doutora em Psicologia Social e médica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

  • É coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social da PUC-Rio.

  • Especialista em Transtornos Alimentares pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.

  • É autora dos livros “O intolerável peso da feiura. Sobre as mulheres e seus corpos” (2006) e “O que pode um corpo? Diálogos Interdisciplinares” (2019), entre outros.

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