Os oito jogos que separam o Flamengo de seu oitavo título do Brasileiro marcam um tempo valioso para Rogério Ceni: o da luta pela continuidade do trabalho. Creio que a permanência dele no cargo não está condicionada à conquista do título. Mas ajudaria bastante se ele, que é um dos treinadores mais promissores da nova geração, comprovasse nesta reta final ser capaz de devolver virtuosismo e competitividade ao melhor elenco já formado pelo clube nos últimos 40 anos.

Com as vitórias seguidas sobre Goiás e Palmeiras, Ceni ganhou ao menos um pouco mais de confiança e tranquilidade para trabalhar suas convicções.

Os números ainda não ajudam, e há por parte da torcida um olhar de desconfiança para as apostas do treinador. Mas o simples fato de o Flamengo estar de volta à disputa do título, dependendo só de suas próprias forças, renova as expectativas em torno do trabalho que tem apenas dois meses, intervalado pelo período de festas de final de ano.

Acabou sendo positiva para o treinador a transferência do Rio para Brasília do jogo contra o Palmeiras, entre os confrontos fora de casa contra Goiás e Athletico/PR.

Porque funcionou como concentração em tempo integral, sem espaços para eventos sociais noturnos, e máxima dedicação à preparação física e mental.

Alguns jogadores melhoraram o nível de competitividade e coletivamente o Flamengo foi um pouco do que já mostrou em 2019, principalmente sem a posse da bola.

Vocês hão de lembrar que uma das principais cobranças de Jorge Jesus para com o futebol brasileiro prendia-se ao fato de que a preocupação estratégica por aqui esteve sempre voltada para o controle da bola.

E que só após a passagem pelo futebol europeu é que a maioria dos jogadores entendia a importância de saber jogar sem a posse dela, ocupando os espaços e fechando as linhas na hora certa.

É o tal do jogo mental, que exige foco nas manobras do adversário e bom preparo físico para execução das ações de ataque após a retomada da bola.

É até chato rememorar estes conceitos de tão óbvio que são. Mas claro está que o problema do Flamengo, tanto antes com Domènec quanto agora com Ceni, sempre foi mais de atitude dos jogadores do que de padrão tático.

E acho que o técnico percebeu que seu maior desafio estava em reagrupar os jogadores em torno de um único objetivo. E se os rivais não abrirem o olho, o melhor elenco do país vai fazer o carnaval em fevereiro. Sem a máscara que travava o time e com o desfile apoteótico sonhado pela torcida. Vejamos...