Carlos Alberto Parreira, o técnico da Seleção Brasileira na conquista do tetracampeonato, hoje com 77 anos, foi um dos técnicos mais globalizados do futebol brasileiro. Dirigiu outras quatro seleções em Copas do Mundo (Arábia Saudita, Emirados Árabes, Kuwait e África do Sul) e treinou a de Gana por um ano, em 1967. Tudo porque no final da década de 60, já formado em Educação Física, dominava bem a língua inglesa.

A passagem pelo futebol africano o levou aos estudos na Lower Saxon Football Association, em Hannover, na Alemanha, e abriu as portas para estágios no Tottenham e no Chelsea, tudo em 1968.

Tanto que em 71, quando ingressou no Comitê de Estudos Técnicos da Fifa, já tinha um Mundial no currículo como auxiliar da preparação física brasileira tricampeã no México. Em suma: a busca pelo conhecimento alicerçou a carreira de Parreira.

Palmeiras

Lembrei destes detalhes ao refletir sobre a chegada ao Palmeiras do jovem português Abel Ferreira, aumentando para cinco o número de estrangeiros à frente de times da Série A.

E não me surpreendi ao saber que o próprio Parreira vê o intercâmbio com bons olhos, desde que não seja visto como modismo, e que as duas partes (clubes e treinadores) encontrem soluções para superar o choque cultural que os separa.

Calendário

O calendário apertado, com falta de tempo para treinos e jogos com intervalo entre 48 a 66 horas, segundo Parreira, reduz a oportunidade de obter dos europeus, sobretudo os portugueses, o conteúdo didático que têm a oferecer.

“O futebol é o mesmo desde os conceitos trazidos pelos europeus na Copa de 66, baseados em atacar e defender com máxima eficiência: compactação, diminuição de espaços, pressão no homem da bola, transição rápida. O que mudou foi a forma de implementa-los...”

Tudo muito elementar, mas que exige constante atualização no aprendizado dos mecanismos de implementação.

Parreira elogia o processo de formação dos portugueses, preparando-os cada vez mais jovens. Mas lembra que nos últimos dez anos a CBF vem se preocupando com o aperfeiçoamento dos treinadores brasileiros. “Não tenho a menor dúvida de que dentro de pouco tempo nós teremos uma ótima geração de treinadores...”, prevê.

Me parece claro que não se deve esperar destes estrangeiros o sucesso que Jorge Jesus obteve em nove meses de trabalho no Flamengo. Mas se cada um entregar a meta proposta já estará de bom tamanho. O importante é saber qual a meta encomenda a cada um deles...