O chicote que nos pertence! Você se pune demais?
Coluna foi publicada nesta quinta-feira (18)
Sabemos que a sociedade nos cobra o tempo inteiro, mas já reparou que tem coisas que somos nós que estamos nos cobrando e ninguém mais? Eu falo com meus pacientes na terapia que constantemente estamos munidos de um chicote.
Ele pertence a nós e, com grande frequência, emprestamos a outra pessoa. Ocorre que somos ensinados desde que nascemos que existem expectativas que precisamos cumprir como sujeitos sociais.
Assim, a cada papel que nos é ofertado no mundo, existirão para a sociedade comportamentos que precisamos possuir para exercê-lo com eficácia.
Vamos trazer alguns exemplos. Ser filho de alguém é um papel que nos é ofertado. Dentro deste papel existem atitudes que são esperadas de um bom filho: cuidar de seus pais, dar orgulhos a eles, respeitá-los, ser presente, etc.
Quando uma destas atitudes não é cumprida pela pessoa, ela empresta do chicote dela para a sociedade, que a pune.
Outro exemplo bem atual é sobre produtividade. Na sociedade em que vivemos, ser produtivo é uma obrigação.
E as pessoas que se apresentam diferentes desta ótica são tidas como preguiçosas frente a um sistema que acha lindo a exaustão.
Portanto, se você não está produzindo, você será cobrado a produzir, mesmo que isto valha a sua saúde mental.
Isto acontece porque aprendemos com modelos sociais existentes o que é ser filho e a importância de se ser produtivo na sociedade.
Inclusive, o psicólogo Albert Bandura, criador da teoria da aprendizagem social, diz que muito do que somos se dá por imitarmos estes modelos e sermos recompensados socialmente quando o fazemos com eficácia.
O estudioso ainda afirma que a influência por observação pode gerar a autoeficácia social, porém caso a pessoa sofra grande pressão social para se alcançar o que é determinado para este papel ela pode se tornar ansiosa e reduzir a sua confiança em si.
Ocorre que este processo é tão comum no dia a dia que “de vez em sempre”, mesmo que ninguém nos cobre, sacamos o nosso chicote e começamos a nos punir.
Queremos apresentar resultados maiores, queremos nos tornar destaque em tudo que fazemos, passamos a comparar a nossa vida com as vidas fakes apresentadas nas redes sociais (mesmo sabendo que elas são fakes).
Passamos a acreditar que somos invencíveis, superpoderosos e imbatíveis! Isto tudo até a chegada da frustração.
Porque uma certeza eu tenho como psicóloga: ela chegará! Afinal, não dá para todo mundo ser o melhor em tudo.
Neste ponto, se não compreendermos que o chicote é nosso e somos nós que determinamos quando, quanto e por que o usaremos, nos perdemos e nos machucamos em excesso.
Se a sociedade que não sabe quem somos por vezes é injusta conosco, é mais injusto ainda nos ferirmos sabendo quem somos.
Então vem a pergunta: será que sabemos quem somos?
A cobrança sempre existirá, afinal queremos sim ser bons e evoluirmos, mas se não sabemos qual o nosso limite de “ser” e “estar”, não sabemos o quanto será o limite desta cobrança para conosco.
Então, lhe sugiro: eu sei que o seu chicote está aí! Mas use-o com moderação e consciência.