Overdose de remédios leva adolescentes aos hospitais, alertam médicos
Médicos revelam aumento de casos e pedem atenção dos pais para mudanças de comportamento dos filhos em casa
Em um cenário preocupante e que requer o olhar atento dos pais, médicos revelam que aumentou o número de adolescentes que chegam a prontos-socorros após overdose de medicamentos, incluindo tranquilizantes.
Depois atender a dois casos em um mesmo dia de meninas de 16 anos que tentaram suicídio, a pediatra Ana Claudia Bastianello, que atua em um hospital particular, usou suas redes sociais para alertar os pais e fazer um desabafo para o grave problema.
Afirmou que ela não passa mais de uma ou duas semanas sem atender pacientes por esse motivo. “Muito triste ver uma mãe chegando ao pronto-socorro vendo a filha desfalecendo. Tem sido muito frequente, mais do que vocês imaginam. Esses adolescentes precisam ser vistos”, alertou.
De acordo com a médica, a maior parte dos casos que chega aos hospitais é de meninas, entre 14 e 16 anos. Geralmente, elas usam uma superdosagem de medicamentos, como antidepressivos ou mesmo alguns mais simples do dia a dia.
“É o que chamamos de intoxicação exógena. Esses adolescentes usam medicamentos do pai ou da mãe, ou até deles mesmos. É preciso que os pais estejam atentos a toda mudança de comportamento do filho e que não menosprezem os sinais.”
O pediatra Rodolfo Nicolau Soares, que atende no Hospital Infantil de Vila Velha (Himaba), relatou também um aumento de todos os quadros psiquiátricos.
“A Organização Pan-Americana de Saúde divulgou um aumento de 50% nas tentativas de suicídio na população jovem, entre 15 e 29 anos. Como o hospital é referência na psiquiatria infantil, todo dia recebemos pacientes diretamente ou encaminhados de outros serviços. Há casos de automutilação e de tentativa de autoextermínio.”
Entre as orientações aos pais, ele destaca um olhar atento às redes sociais e a mudanças no comportamento do filho em casa e na escola.
A pediatra e hebiatra (médico de adolescentes) Bruna Bressanelli, que também atende em pronto-socorro de um hospital da Grande Vitória e em consultório, revelou que esses casos de tentativas de suicídios têm chegado com maior frequência.
“De uma forma geral têm aumentado os sintomas de ansiedade e depressão até mesmo em crianças a partir dos 7 anos. Os pais precisam buscar ajuda ao perceber sinais de que algo não está bem com o filho, para que se possa identificar o quanto antes e encaminhar ao tratamento.”
Pais não devem ignorar os sinais
O aumento de casos observados por médicos de tentativas de suicídios e automutilação entre adolescentes geralmente está associado a quadros de depressão, já manifestados, muitas vezes, há um tempo.
Para médicos, os pais devem tratar esses sinais com seriedade, já que não se trata de tentativa de chamar a atenção, mas um pedido de ajuda.
Pediatra e mestranda em Pediatria, Rachel Mocelin Dias Coelho revelou que atende no Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil de Vila Velha (Caps Infantil), onde é feito o acompanhamento de adolescentes nessa situação.
“A principal queixa deles quando os ouvimos é que os pais não param para conversar e ouvir. É preciso que os pais se interessem, busquem conversar e entender os motivos que os levaram a mudar o comportamento ou a aquele quadro.”
Ela destacou que muitos pais acabam vendo o que está acontecendo e achando apenas se tratar de algo normal para a idade ou uma tentativa de chamar atenção. “Os pais não devem desmerecer esses sinais. São formas de eles pedirem ajuda.”
O pediatra Rodolfo Nicolau Soares também destacou a necessidade de os pais tratarem os sintomas como uma forma dos filhos pedirem ajuda para um problema que estão passando. “Não é um capricho. A depressão é uma doença e precisamos tratar como tal.”
A pediatra e hebiatra Bruna Bressanelli reforçou que uma tentativa de suicídio geralmente não é provocada por algo repentino, como uma briga com os pais ou um amigo.
“Geralmente, esses adolescentes já estão doentes. E por que não se dá valor às doenças mentais como se dá às físicas? Se a pessoa está com diabetes, ela vai a um endocrinologista. Então, se ela apresenta depressão ou ansiedade, não é frescura. Ela também precisa de um médico.”
Os sinais
Mudanças no comportamento e hábitos
Por exemplo, adolescentes que gostam de praticar um esporte, de cozinhar, e deixam de fazer essa prática. Ou que gostava de sair e passa a só querer ficar no quarto.
Mudanças no sono
Mudanças no padrão de sono, como dormir a maior parte do dia ou perder o sono com frequência.
Alimentação
Mudanças na alimentação, como comer demais, engordando de uma hora para outra. Também pode se apresentar como um emagrecimento repentino, mesmo sem que o adolescente queira emagrecer ou faça dieta.
Na escola
O rendimento escolar pode cair. Pais devem ficar atentos a relatos de professores, que muitas vezes detectam as mudanças e as comunicam aos próprios pais.
Irritabilidade
Irritabilidade ou mesmo a demonstração de tristeza e melancolia.
Aparência
Descuido ou mudanças bruscas na aparência física ou no modo de se vestir.