Assassinato de petista em Foz do Iguaçu teve motivo torpe, conclui polícia

Jorge foi indiciado por homicídio duplamente qualificado

Mauren Luc, da Agência Folhapress | 15/07/2022, 17:02 17:02 h | Atualizado em 15/07/2022, 17:06

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/120000/372x236/inline_00120060_00/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F120000%2Finline_00120060_00.webp%3Fxid%3D359240&xid=359240 600w, Marcelo Arruda foi morto em festa de aniversário
 

A Polícia Civil do Paraná anunciou nesta sexta-feira (15) a conclusão do inquérito que investigou em menos de uma semana o assassinato do guarda municipal petista Marcelo Arruda pelo policial penal bolsonarista Jorge Guaranho.

De acordo com a polícia, o crime ocorrido no último sábado (9) em Foz do Iguaçu teve motivo torpe e, tecnicamente, não será enquadrado como crime de ódio, político ou contra o estado democrático de direito, por falta de elementos para isso.

A polícia diz que tudo começou sim em uma provocação do bolsonarista seguida de discussão por questões política e ideológica. Mas que, para enquadrá-lo como um crime político, seriam necessários requisitos para isso, como o de tentar impedir ou dificultar outra pessoa de exercer direitos políticos.

Jorge foi indiciado por homicídio duplamente qualificado. Ele invadiu a festa de 50 anos de Marcelo, que tinha o PT como tema, e o matou -o bolsonarista acabou baleado pelo petista e segue internado em estado grave.

Segundo a polícia, na tarde de sábado, Jorge estava em um churrasco regado a bebidas e lá ficou sabendo da festa temática do PT e, diante disso, decidiu agir -um outro convidado do churrasco era funcionário do clube no qual Marcelo havia alugado o salão de festa e, por isso, tinha acesso às câmeras de segurança.

Esse funcionário visualizou as imagens do salão em meio ao churrasco, como rotina, segundo a polícia, e foi nesse momento, em meio a um roda de amigos, que o bolsonarista ficou sabendo da festa temática do PT -a polícia diz não ver nenhum crime por parte desse funcionário.

Segundo testemunhas, Marcelo e Jorge não se conheciam, e Jorge inicialmente invadiu o local da festa gritando palavras de ordem a favor de Bolsonaro e contra o PT e Lula.

Jorge estava em seu carro, com a esposa e uma criança no banco traseiro. Em meio a suas provocações, como mostram as imagens, Marcelo enche a mão com um punho de terra e pequenas pedras de um jardim na entrada do salão e o atira em direção ao carro de Jorge, que promete voltar e deixa o local.

Jorge então retorna minutos depois, agora armado e sem a esposa e a criança. O único foco dele era Marcelo, por causa da discussão anterior.

Jorge atira primeiro, o que levou a polícia a descartar legítima defesa. Ele efetuou quatro disparos, sendo que dois atingiram Marcelo, que revidou com dez disparos, sendo que quatro deles atingiram o bolsonarista.

Em resumo, segundo a polícia, Jorge foi inicialmente ao salão para provocar os participantes da festa por causa do tema político do aniversário. Mas, durante as discussões, passou a ter Marcelo como seu único foco. E que teria cometido o assassinato por impulso, após discussão, e não de forma premeditada.

"Chegamos à conclusão que vamos indiciar o agente penal pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe e por causar perigo a outras pessoas no local, que poderiam ter sido atingidas pelos disparos", afirmou a delegada Camila Cecconello, chefe da investigação.

Marcelo era tesoureiro do PT municipal. No partido havia mais de dez anos, ele concorreu a vereador e a vice-prefeito pela sigla em eleições recentes.

Ainda segundo a polícia, Jorge foi agredido por três convidados da festa de Marcelo, quando caiu ferido no salão. Um inquérito sobre esse ponto específico segue em andamento -a polícia quer saber se as lesões em Jorge foram causadas ou agravadas por essas agressões.

A polícia afirma ainda que não haverá reconstituição do crime e que aguarda o resultado da apuração do Instituto de Criminalística para desvendar outros detalhes, como a dosagem alcoólica em ambos.

Durante as investigações, segundo a polícia, foram ouvidas 17 pessoas, entre as quais testemunhas que estavam no salão de festa, palco do assassinato, além de familiares do petista e do bolsonarista.

A conclusão do inquérito foi anunciada em entrevista do secretário estadual da Segurança Pública, Wagner Mesquita, da delegada-chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa, Camila Cecconello, e do promotor Tiago Lisboa.

O Paraná é governado por Ratinho Júnior (PSD), aliado do presidente Jair Bolsonaro e que buscará a reeleição em outubro.

O crime em Foz provou forte reação do mundo político. O PT, por exemplo, recorreu à PGR (Procuradoria-Geral da República) com cobranças sobre mais segurança nas eleições. Já a Polícia Federal decidiu ampliar sua mobilização para proteger os presidenciáveis durante a campanha eleitoral.

Já o presidente Bolsonaro desde o assassinato incluiu discurso dúbio sobre o crime, ataques à esquerda e, por último, uma ofensiva por sua imagem.

A ofensiva por sua imagem em ano de eleição teve seu ponto alto na terça-feira (12), quando usou um deputado federal aliado para se aproximar de uma ala da família de Marcelo mais simpática a ele.

Numa conversa por telefone com esses familiares, Bolsonaro se preocupou mais em se defender do que em se solidarizar com os parentes do petista assassinado. Ele disse que a esquerda tenta "politizar" a morte para desgastar o governo e convidou parentes para irem a Brasília.

A ligação por vídeo foi feita pelo deputado bolsonarista Otoni de Paula (MDB-RJ), que esteve na casa de um dos irmãos de Marcelo, com o aval de Bolsonaro, para intermediar a conversa. Segundo ele, o presidente falou com dois irmãos do petista assassinado: José e Luiz de Arruda.

A iniciativa, porém, irritou os familiares mais próximos de Marcelo, incluindo a viúva, Pâmela Suellen Silva. Ela afirmou ao UOL ter ficado surpresa com o telefonema do presidente aos irmãos de Marcelo ("absurdo, eu não sabia", disse) e ressaltou que eles nem estavam na festa de aniversário onde ele foi assassinado.

O atirador Jorge, que está internado após também ser baleado por Marcelo, se define como conservador e cristão. Ele usa as redes sociais principalmente para defender Bolsonaro, se diz contra o aborto e as drogas e considera arma sinônimo de defesa.

Em junho de 2021, ele aparece sorrindo em uma foto ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do mandatário. "Vamos fortalecer a direita", escreveu em 30 de abril numa corrente da "#DireitaForte" para impulsionar perfis de conservadores com poucos seguidores.

Sua última postagem antes do crime é um retuíte de uma publicação do ex-presidente da Fundação Cultural Palmares Sérgio Camargo, dizendo: "Não podemos permitir que bandidos travestidos de políticos retornem ao poder no Brasil. A responsabilidade é de cada um de nós".

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