Maradona virou "Dios" com controle excepcional da bola na perna esquerda

| 26/11/2020, 09:16 09:16 h | Atualizado em 26/11/2020, 09:25

Diego Maradona se tornou um personagem tão forte, uma figura construída também em torno de um carisma radiante, que o seu talento no futebol, por vezes, chega a ser deixado em segundo plano. Mas quem viu o argentino com a bola nos pés -ou no pé, já que ele dificilmente usava o direito- não se esquece de sua qualidade excepcional.

Desde menino, quando começou a chamar a atenção nas categorias de base do Argentinos Juniors, o craque mostrou uma capacidade impressionante no controle da bola. Aliando esse controle a uma alta velocidade e também a uma agilidade no espaço curto, foi conquistando território na Argentina, no mundo e na história do esporte.

"O que ele fazia com a bola era sacanagem", disse em várias entrevistas Careca, seu companheiro no Napoli entre 1987 e 1991. "Você tinha que acompanhar o pensamento do cara ou ficava para trás, passava vergonha. Até nas peladinhas, no coletivo, no treino em campo reduzido, o que ele fazia era absurdo."

Maradona era um meia, um camisa 10 que admirava o brasileiro Rivellino, mas não era um jogador estático, satisfeito em distribuir passes. Ele gostava de arrancar com a bola -como se vê em um de seus históricos gols contra a Inglaterra, na Copa do Mundo de 1986-, e fazia algo que os treinadores modernos pedem muito a seus meias: estava na área com frequência.

"Ele era pequeno, mas troncudo. Então, o pessoal batia, e ele não caía, não simulava", recordou Careca.
Assim, mesmo não sendo um atacante propriamente dito, o argentino balançava a rede com frequência.

Foram 345 gols em 675 partidas por Argentinos Juniors, Boca Juniors, Barcelona, Napoli, Sevilla, Newell's Old Boys e seleção argentina -há variações nos números, não muito significativas, com diferentes critérios de contagem.

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/prod/2020-11/372x236/diego-maradona-como-tecnico-da-argentina-na-copa-de-2010-na-africa-do-sul-30a275c43b289366de01ac9849334311/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fprod%2F2020-11%2Fdiego-maradona-como-tecnico-da-argentina-na-copa-de-2010-na-africa-do-sul-30a275c43b289366de01ac9849334311.jpeg%3Fxid%3D152030&xid=152030 600w, Diego Maradona como técnico da Argentina, na copa de 2010 na África do Sul

No tempo em que transcorreu a carreira de Maradona, entre 1975 e 1997, as assistências ainda não eram uma categoria estatística registrada rotineiramente. Mas a visão de jogo do camisa 10 impressionava, e ele chegou a dar alguns passes para gol de bicicleta, contorcendo-se para achar o companheiro com precisão.

"Foi o melhor jogador que teve na minha geração. Tinha uma facilidade incrível no controle de bola. E não usava a perna direita. Era só um apoio mesmo. Ele até criou a letra ao contrário. Via tudo. De costas, de frente. Era fantástico", elogiou Zico, que o enfrentou no Campeonato Italiano e, com a camisa do Brasil, derrotou-o na Copa de 1982.

Todo esse talento foi visto com maior intensidade na segunda metade dos anos 1980. Maradona conquistou a Copa de 1986 pela Argentina, sendo de longe o melhor jogador da competição, e teve um papel fundamental na ascensão do Napoli, campeão italiano nas temporadas 1986/87 e 1989/90 e vencedor da Copa da Uefa de 1988/89.

Seu grande momento foi mesmo o Mundial de 1986, no México, onde ganhou o status de "Dios" para os argentinos. Contra a Inglaterra, nas quartas de final, fez dois gols que marcaram a história das Copas: um com a mão, outro em arrancada espetacular.

A campanha foi fechada com Maradona exibindo a outra faceta de seu jogo. Com um toque preciso, deixou Burruchaga na cara do gol para definir a vitória por 3 a 2 sobre a Alemanha e a conquista da seleção alviceleste.

Em alguns times, Maradona jogou atrás de dois atacantes, municiando-os e se aproximando deles com frequência. Em outros, atuou mais perto do centroavante, como uma espécie de ponta de lança. Na Copa de 1986, ele era o que os argentinos chamam de "enganche", ligando a linha de quatro meio-campistas ao centroavante Valdano.

Na reta final da carreira, o craque perdeu a velocidade com que se impunha sobre os adversários e foi gradativamente caindo de rendimento, embora jamais tenha perdido a intimidade com a bola. Quando ela caía em seus pés, o camisa 10 geralmente sabia o que fazia com ela.

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