ROSSANDRO KLINJEY | “Esforço pode valer mais que dom”

| 09/02/2020, 19:01 19:01 h | Atualizado em 09/02/2020, 19:29

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/prod/2020-02/372x236/rossandro-klinjey-palestrante-escritor-e-psicologo-1e326ab81470a6b31b7ba882346cdb30/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fprod%2F2020-02%2Frossandro-klinjey-palestrante-escritor-e-psicologo-1e326ab81470a6b31b7ba882346cdb30.jpg%3Fxid%3D107901&xid=107901 600w, Rossandro afirma que o esforço leva a  outro talento, que é a garra
Cada pessoa tem os seus próprios talentos. Há quem seja bom em música, outros em cálculos e alguns em fotografia, por exemplo. São várias as habilidades e os dons que já vêm de berço.

Porém, há aqueles talentos que precisam ser lapidados e é aí que entra o esforço para conseguir os resultados esperados. Com bastante dedicação, dá para aprender a tocar um instrumento com maestria. Também dá para aprender a fazer um belo móvel ou ainda confeitar um bolo.

Para explicar a relação de esforço e talento, o palestrante, escritor e psicólogo clínico Rossandro Klinjey conversou com A Tribuna.

Ele disse que o esforço é louvável, mas que nem sempre as pessoas possuem o dom, ou até mesmo a característica física para conseguir alcançar um sonho. Com isso, é preciso saber lidar com a frustração.

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Entrevista


A TRIBUNA – O esforço pode valer mais que o talento?
Rossandro Klinjey – Sim. O esforço pode valer mais que o talento e o dom. Na verdade, o esforço acaba gerando outro talento, que é a garra, a vontade de conquistar algo. Mas, quando se persiste demais para conseguir alguma coisa, pode resultar em impotência. Não porque a pessoa não seja capaz, mas porque ela realmente não tem aptidão para se tornar boa naquilo que ela sonha em ser.

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E dá para driblar isso?
Sim. O ideal é que a pessoa não condicione a vida dela no sucesso que ela pretende ter. Não dá para dizer que vai namorar depois de conseguir tal coisa, e nem que vai sair com os amigos, ou que vai arrumar um emprego. Se não dá para ser um cantor famoso, que vá ser vendedor de instrumentos e formar a família, se for o caso.

O importante é colocar a realidade para caminhar junto com o sonho que se almeja alcançar. É preciso trilhar o caminho certo.

Como identificar se o caminho traçado é o certo?
Em primeiro lugar é preciso levar em consideração se a aposta no sonho não vem de uma cobrança. Muitas vezes, lá na infância, a pessoa ouviu que não seria alguém, que não conquistaria tal coisa, e acaba colocando a energia toda nisso. Ela quer reverter essa profecia, mas aposta em coisas que só dão errado. Isso acontece muito em relacionamentos.

A pessoa atrai outra que vai ferrar com ela, e dali arruma outra pior, e outra pior. Nesse momento, é bom contar com uma rede de apoio, com alguém que dê um toque nela e a oriente a tomar outro rumo.

Qual é o caminho para sair da zona de conforto e buscar novos rumos?
A pessoa, muitas vezes, fica estagnada naquilo que ela é e tem. E, em muitos casos, se torna infeliz. Tudo o que é estagnado, apodrece. Até a água parada adoece. E é isso que temos: pessoas doentes que se preocupam mais e passam mais tempo olhando a vida das outras que elas gostariam de ser.

Daí a gente se torna pagadores de boletos, vive aquela vida estagnada e não faz nada para mudar. Só se sai dessa situação se a pessoa perceber que realmente precisa dar um passo a mais. Se isso significa estudar e se dedicar a coisas totalmente diferentes do que se está habituado, pois que seja. Sempre é tempo de recomeçar.

Qual é o preço que se paga pelo recomeço?
Todos os sonhos têm um preço. Se dedicar a um novo talento ou habilidade requer abrir mão de pequenos prazeres. Muitas pessoas, em certo momento da vida, se dão conta de que poderiam ter sido menos “cigarras” e mais “formigas”, ou seja, deveriam ter aberto mão de prazeres imediatos para que lá na frente colhessem mais frutos com o trabalho.

Se você perguntar a uma criança se ela quer um chocolate agora ou 10 no final do mês, certamente ela vai querer o doce agora, sem a percepção de que comendo um agora, deixará de comer mais nove.

Com os adultos não. A gente tem essa percepção de que abrir mão do prazer imediato pode render mais prazeres futuramente. Então, eu deixo um pouco as séries de lado, as redes sociais, o bar com os amigos e vou estudar nessas horas. Assim, quem sabe no futuro, eu terei mais tempo e qualidade de vida para aproveitar tudo isso e muito mais.

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Então a persistência é importante?
Sim. Eu conheço pessoas que prestaram concurso por 14 anos até conseguir passar. Os estudos sempre vão agregar conhecimento e pode ser que uma hora chegue a vez daquele que abdicou de tanta coisa para ter essa conquista.

Diferente do dom. Tem gente que sonha em ser como a Ivete Sangalo, ou como o Neymar, mas nunca vai deixar de tocar em bares ou de jogar em times de base. O sucesso é o conjunto de diversos fatores, que muitas vezes nem dependem só da gente.

Em vários casos, o que paga as nossas contas é uma profissão diferente daquilo que a gente ama fazer. Um advogado que ama música pode viver da profissão, mas também tocar com os amigos em uma festa ou num barzinho. O importante é não deixar o talento de lado.

Os talentos podem “morrer” se não forem cultivados?
Claro! Como diz a música, “não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar”, não deixe o talento morrer. Os talentos podem ser muito prazerosos e não é bom que a gente deixe isso de lado.
Os talentos se despertam muito quando temos ao nosso lado pessoas que têm o mesmo objetivo.

Se a pessoa quer estudar mais, deve andar com quem estuda. Se quer cantar, dançar, ir para a academia, deve andar com pessoas que queiram o mesmo. Não adianta o sujeito querer parar de beber e continuar saindo com a mesma turma que bebe. A mudança requer novas atitudes e novas companhias.

É possível alcançar a realização?
O ser humano nunca está satisfeito com o que tem. A verdade é que tudo tem um preço. Eu, por exemplo, passo 22 dias do mês viajando. Tenho de deixar a minha casa, a minha esposa, as pessoas que eu amo, um aniversário, enterro, datas especiais para mim.

Quem me vê, pensa que eu sou a pessoa mais realizada do mundo. Claro que tenho as minhas realizações, e amo o que eu faço, mas isso tem um preço. Todas as escolhas têm. Se alguém não está satisfeito com a profissão e quer mudar, deve saber que em outra também terá dificuldades. Isso faz parte da vida.

Como ser feliz no que se faz?
A gente precisa entender que nasceu para servir. Todo mundo, em qualquer posição que esteja, serve a alguém. O que precisa ficar bem claro é como estou servindo e de que maneira posso melhorar o meu servir.

A vida tem mais sentido quando se passa a servir alguém. A gente precisa se aproximar de pessoas que nos fazem crer numa sociedade melhor, menos doente. Isso é buscar novos caminhos e o amadurecimento.

O que você aprendeu com sua convivência com o outro?
Aprendi nas minhas viagens que o que me faz feliz está em casa. Eu sempre conto as horas para voltar e, quando estou no avião para casa, é como se eu estivesse na Disney. Mas não penso em parar, pois não posso ser irresponsável com o meu dom. Esse é o meu servir.

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