“O desespero coletivo tem afetado nossos sonhos”, afirma especialista

| 26/04/2020, 18:03 18:03 h | Atualizado em 26/04/2020, 18:22

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/prod/2020-04/372x236/o-desespero-coletivo-tem-afetado-nossos-sonhos-feb3a05fbc88a95198c847ba181456c2/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fprod%2F2020-04%2Fo-desespero-coletivo-tem-afetado-nossos-sonhos-feb3a05fbc88a95198c847ba181456c2.jpg%3Fxid%3D118944&xid=118944 600w, João Oliveira disse que o sonho visa à compensação das emoções
Problemas ligados ao sono têm se tornado fonte de reclamação comum entre as pessoas durante a pandemia do novo coronavírus. Uma das causas para tanto é a sensação de desespero coletivo, que tem afetado até a forma de dormir e de sonhar.

A explicação é do professor João Oliveira, psicólogo especialista em hipnose clínica neurossensorial. Segundo o psicólogo, a pandemia afeta todas as pessoas e cria uma comoção geral, perturbando a hora do sono e aumentando as chances de se desenvolver outros distúrbios emocionais. “O ambiente em que vivemos afeta muito o que a gente sonha”.

A TRIBUNA – O que são os sonhos?
João Oliveira – Há várias teorias. Uma delas diz que se trata de um ruído cerebral. Outra diz que o sonho é o repensar da história das pessoas, uma tentativa de equalizar as emoções. E há uma terceira explicação, que é mais aceita, que combina as duas possibilidades. Mas, certamente, não acredito que seja o que se vende em revistas sobre interpretações de sonhos.

É possível sonhar em todas as fases do sono?
Nós temos sonhos até nas fases mais leves do sono, como quando não sabemos se estamos dormindo ou acordados, ou se é algo bem cotidiano. Mas são sonhos mais superficiais. Os sonhos mais profundos estão na fase REM, que é um estágio mais avançado do sono.

Há quem diga que não sonha ou não se lembra dos sonhos. Há algum motivo?
No mundo inteiro, apenas 4% ou 5% das pessoas não sonham com imagens, e isso ocorre ou porque nasceram cegas, ou têm algum problema específico. Mas a maioria sonha.

Quando a pessoa não lembra do sonho e não está bebendo, tomando remédios, ou coisa do tipo, geralmente é porque tem uma dissonância cognitiva muito alta, tem algum trauma. Mas é reversível.

De onde vem a sensação de que estamos sonhando mais neste período de pandemia?
Não é apenas isso. Nas últimas semanas tenho atendido uma série de pacientes com choro espontâneo, às vezes por razões que nem entendem. Choram olhando para o cachorro, pensando na família e, em um caso, uma pessoa chorou porque ganhou dinheiro com ações na bolsa. Choram por tudo.

O que ocorre é que o sonho visa, em primeira instância, à compensação das emoções. Quando há uma grande comoção social, como a pandemia, todas as pessoas são afetadas. Há uma onda de tristeza coletiva. Devido a essa situação, as pessoas tendem a sonhar mais.

Então tem relação com o clima de ansiedade e tensão?
Sim.

Há alguma forma de limpar a mente antes de dormir para evitar ter pesadelos?
Há várias técnicas. Uma delas é, ao deitar, pegar o travesseiro, mudar de posição para simbolizar para você que não vai dormir ainda, e repensar o dia. Escute áudios de frequência binaural (sons em oscilações diferentes para cada ouvido). Faça a respiração em quatro tempos. Esse exercício te dá um banho de endorfina, que é bom contra ansiedade, pânico, e ajuda a dormir melhor.

Além disso, existe algo chamado de higiene do sono. Está ligada a práticas como evitar bebidas com cafeína após a tarde, limitar a exposição à luz das telas à noite, usar o quarto somente para dormir, e não para comer ou ver TV, não ficar acompanhando os noticiários antes de dormir.

Isso tudo afeta o sono. E não existe isso de compensar no fim de semana. O mal causado por uma noite mal dormida te acompanha pelo resto da vida. Dormir bem é fundamental.

Perfil

João Oliveira

  • Doutor em Saúde Pública.
  • Mestre em Cognição e Linguagem pela UENF-RJ.
  • Pós-Graduado em Hipnose Clínica, Hospitalar e Organizacional.
  • Pós-Graduado em Psicologia Existencial Humanista.
  • Pós-Graduado em Comunicação, Cultura e Linguagem.
  • Psicólogo.
  • Professor universitário.
  • Diretor de Cursos do Instituto de Psicologia Ser e Crescer.

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