MC Rebecca: “Ninguém nasce para ser infeliz”
MC Rebecca | Cantora “Já passei por muito preconceito”
AT2: Como nasceu a parceria com Manaia?
MC Rebecca: Conheci o trabalho dela quando gravei a série da Cleo, “Onde Está Mariana?”, em que sou protagonista. Feminicídio é o assunto principal da trama. E ela super se importa também com questões feministas, inclusive, a letra de “Medo do Escuro” é dela.
Já foi vítima de violência doméstica?
Nunca, mas, na série da Cleo, interpretei a Mariana, que me aproximou dessa realidade. Na preparação, conheci mulheres que viveram e ainda vivem essa situação. Apesar de não ter vivido maus-tratos de um homem, já passei por muito preconceito por ser mulher e negra, cantadas de mau gosto, um relacionamento tóxico...
Na música, trata dessa violência, mas sem usar palavras diretamente ligadas ao problema.
Escolhemos fazer uma coisa menos explícita porque sabemos que a violência doméstica é assim também. Imaginamos a vítima ouvindo essa música ao lado do agressor e criando coragem para denunciar sem que ele perceba que a música fala disso! Nós mulheres devemos saber cuidar umas das outras mesmo que sem usar as palavras.
Tem fé de que pode construir um mundo melhor?
Acredito muito no poder da música. Se não acreditasse, não faria disso a minha profissão. Assim como você escuta uma música romântica e se emociona, ouve um beat 150 BPM e tem vontade de dançar, alguém pode ver o clipe, prestar atenção na letra, não se sentir só e ter coragem de denunciar.
Meu sonho é ter um mundo melhor e mais seguro para a minha filha. Mesmo sonhando com isso, sei que preciso educá-la para se proteger e ser corajosa.
O Espírito Santo é um dos estados que mais possuem registros de violência doméstica. O que diz para essas vítimas?
Primeiro, queria dizer que sinto muito por esses números serem tão altos e que vocês não merecem passar por isso! Estamos juntas nessa e peço que vocês não desistam, acreditem que vocês merecem uma vida melhor, que vocês não são culpadas de nada! Vocês são demais! Resistam e denunciem pelo 180!
Para você, como uma mulher deve ser tratada?
Com carinho, amor e chocolates! (Risos) Estou brincando! Com certeza, com respeito e consideração. As pessoas precisam tratar as outras como elas gostariam que fossem tratadas. Respeito é a palavra para todas as relações.
Agora, lança músicas para os solteiros carentes na quarentena. O que os fãs acharam?
A primeira música do EP foi “Tô Presa em Casa” e foi muito divertido ver as pessoas falando que estão passando pelo mesmo que eu!
Também quer mostrar que não há problema algum em uma mulher sentir falta de sexo?
(Risos) Óbvio! Desde o início da minha carreira falo isso, que mulher também sente prazer! Mulher é um ser humano e sente, sim, falta de sexo, e às vezes também não está muito afim. Sexo é normal, gente, todo mundo transa! Menos na quarentena... (Risos) Mas até lá a gente vai se virando como pode. (Risos)
Esta quarentena, de fato, tem sido um grande sofrimento para você nesse sentido?
“Sofrimento” não, né? Até porque, a gente fica sem sexo presencial, mas tem aí várias formas de você se manter ativa. Tem aplicativos de encontros, os nudes, as videochamadas... O que não falta é opção, mas, mesmo assim, confesso que faço parte do grupo dos solteiros que estão carentes. Tanto que estou lançando um EP inteiro só falando sobre isso!