Valor do dólar sem prazo para baixar

| 19/10/2020, 11:34 11:34 h | Atualizado em 19/10/2020, 11:39

O real foi a moeda que mais se desvalorizou frente ao dólar em 2020 e, segundo especialistas, a moeda norte-americana, atualmente cotada em R$ 5,65, não deve voltar a um patamar mais baixo tão cedo, devendo pressionar os preços ao consumidor.

Um levantamento da agência de riscos brasileira Austin Rating indicou que, entre os países emergentes, o real foi a moeda que mais caiu de janeiro a setembro, com uma desvalorização acumulada de 28,5%, atrás da lira turca (23,1%) e do rublo russo (19,9%).

A crise econômica mundial, causada pela pandemia de Covid-19, a queda da demanda internacional e os problemas fiscais do Brasil foram alguns dos fatores que levaram à fuga do capital estrangeiro e contribuíram para a disparada do dólar.

De acordo com o economista e assessor de investimentos da Valor, Pedro Lang, o dólar em alta também é efeito da determinação do governo de manter os juros baixos, movimento que deve prevalecer por algum tempo.

Em agosto, a Selic, taxa básica de juros da economia, foi definida em 2% pelo Banco Central, menor patamar da história.

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“Temos uma economia que está em um momento delicado, e uma das maneiras de estimulá-la são os juros baixos. Antes havia uma disparidade grande. Os Estados Unidos tinham juros baixos e aqui você tinha 14%. Fazia sentido trazer dinheiro para cá. Agora, os EUA estão com juros zero, e aqui, em 2%. Como a inflação está controlada, o Banco Central aproveita para o câmbio explodir”, afirmou.

Em setembro, a alta no preço dos alimentos gerou o maior índice de inflação em 17 anos, de 0,64%, de acordo com o IBGE. Os produtos com maiores altas foram óleo de soja (27,54%) e arroz (17,98%).

Segundo Pedro, dentro da estratégia do ministro da Economia, Paulo Guedes, que já atrelou a alta do dólar ao movimento de juros baixos, por enquanto faz sentido que a moeda estrangeira permaneça valorizada, o que deve continuar favorecendo as exportações.

O ministro defende que os juros baixos beneficiam os empreendedores, por meio do barateamento do crédito, estimulando a produção e a industrialização.

“Gera uma parte do problema de preços, não só de alimentos, mas de toda a cadeia produtiva, que vai preferir vender para fora. Foi o que aconteceu com o arroz e outros insumos. É um movimento natural do mercado, já que o dólar está valorizado”, afirmou Pedro.

Entenda

Dólar acima dos R$ 5

  • Em 2020, o dólar acumula valorização de 40,7% frente ao real.
  • Na última semana, a moeda americana teve valorização de 2,12%.
  • O real foi a moeda que mais perdeu valor em relação ao dólar nos nove primeiros meses de 2020.

Causas

  • Entre as causas da disparada do dólar e sua manutenção, estão as menores taxas de juros que tornam menos atraente o investimento no Brasil. A política de juros baixos é defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
  • A situação fiscal do Brasil também é um sinal de alerta para os investidores estrangeiros, provocando uma fuga de capitais.
  • No primeiro semestre do ano, o Brasil registrou o menor volume de investimentos em 11 anos, segundo o Banco Central.

Preços mais altos

  • O dólar valorizado favorece a exportação, que se torna mais vantajosa do que o mercado interno.
  • Como consequência, pode haver desabastecimento e alta de preços em diversos setores e produtos.
  • Em setembro, os alimentos já registraram alta de 2,28%, e foram os principais responsáveis pela alta de 0,64% na inflação do mês.
  • Apesar disso, o Banco Central considera a inflação como controlada, com acúmulo de 3,14% em um ano.

Fonte: Especialistas ouvidos.

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