Governo pede estudos e admite horário de verão

| 17/09/2021, 20:13 20:13 h | Atualizado em 17/09/2021, 21:18

O governo federal está avaliando a possibilidade de retomar o horário de verão este ano.

A decisão seria baseada no agravamento da crise hídrica nacional — a maior dos últimos 91 anos — e no pedido de empresários do setor de turismo e alimentação, inclusive do Estado.

Dessa forma, o Ministério de Minas e Energia (MME) solicitou que o Operador Nacional do Sistema (ONS) faça um estudo, avaliando os possíveis impactos positivos da medida.

Nos últimos 2 anos, o Brasil não teve horário de verão, devido a um decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Esta semana, a reavaliação do recurso para poupar eletricidade foi endossada pelo Instituto Clima e Sociedade (ICS), Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e Iniciativa Energética Internacional (IEI).

Para as instituições, o governo precisa utilizar todos os recursos possíveis para evitar os apagões de energia.

O Instituto Clima e Sociedade (ICS) divulgou um estudo este mês mostrando que a economia de energia com o horário de verão seria de “2% a 3% no consumo dos meses de verão”.

“O ganho é pequeno, mas neste momento precisamos contar megawatt por megawatt”, disse o ex-diretor do ONS Luiz Eduardo Barata.

A Associação Brasileira das Companhias de Energia Elétrica (ABCE) também é favorável. O diretor-presidente da entidade, Alexei Vivan, lembrou que o País está gerando toda a sua capacidade térmica, o que já vem criando tarifas mais caras este ano, com tendência de novos aumentos em 2022.

Empresários brasileiros enviaram uma carta ao presidente da República, pedindo o retorno do horário de verão.

O documento foi assinado por diversas entidades que representam áreas prejudicadas pela pandemia da covid-19, como comércio, bares e restaurantes.

“A adoção do horário diferenciado beneficia muito setores ligados ao comércio, serviços e turismo, especialmente bares e restaurantes, que conseguem aproveitar a hora extra de luz do sol para incrementar o faturamento”, diz um trecho da carta.

Empresários defendem a medida

Diversos setores da economia poderão ser beneficiados com a retomada do horário de verão, segundo os empresários.

Para Alfonso Silva, presidente do Sindicato de Empresas de Promoção de Eventos do Estado, as pessoas ficarão disponíveis mais tempo para o lazer.

“Sair às 18h do serviço com o dia ainda claro deixa as pessoas mais dispostas, o que iria influenciar diretamente na recuperação do setor”, afirmou.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Estado, Gustavo Guimarães, concorda. “Com o horário de verão, é como se a gente oferecesse um produto com maior prazo de duração, como as praias e todo o turismo de lazer capixaba”.

Apesar de, historicamente, a questão dividir os comerciantes, a Federação do Comércio (Fecomércio-ES) acredita que mais tempo de luz do dia irá incentivar o consumo.

“Fica um clima de férias, de lazer, e também tem o maior aproveitamento da luz do sol para poupar energia”, disse o diretor José Carlos Bergamin.

Em relação aos bares e restaurantes, o sindicato está ansioso para a aprovação da medida. “Ajudaria para que o setor já começasse a se recuperar este ano”, apontou o presidente Rodrigo Vervloet.

O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado (Findes), Fernando Otávio Campos, lembrou que é possível reduzir custos de operação no setor. “O horário de verão possibilita um menor gasto com energia elétrica, beneficiando a indústria”, completou.

Especialista vê benefício para a economia, sem poupar energia

Especialistas afirmam que não haverá economia de energia com o horário de verão, porque o pico do consumo já não acontece à noite, como era décadas atrás.

“As pessoas vão sair e consumir, a argumentação econômica é válida, mas não haverá redução de consumo. Hoje, a maior demanda acontece no meio da tarde, quando o dia ainda está claro, com o uso do ar-condicionado”, disse o engenheiro eletricista e professor da UVV, Gilberto Drumond.

Antes, o pico do uso de energia acontecia às 19h, quando os trabalhadores chegavam em casa, ligavam lâmpadas incandescentes e chuveiros elétricos. Por isso, havia uma certa economia.

De acordo com o diretor do Sindicato das Indústrias de Energia do Estado, Carlos Sena, as pessoas dormem pior, perdem produtividade e se concentram menos no horário de verão. “O relatório deve apontar redução zero de consumo, não há vantagens”.

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Entenda: mudança no relógio já durou seis meses

O horário de verão

  • No Brasil, o horário de verão foi instituído pela primeira vez no verão de 1931/1932, pelo então presidente Getúlio Vargas. Sua versão de estreia durou quase seis meses, vigorando de 3 de outubro de 1931 a 31 de março de 1932.
  • No verão seguinte, a medida foi novamente adotada, mas, depois, começou a ser em períodos não consecutivos. Primeiro, entre 1949 e 1953, depois, de 1963 a 1968, voltando em 1985 até 2019.
  • O período de vigência do horário de verão era variável, mas, em média, durava 120 dias.
  • Em 2008, o horário de verão passou a ter caráter permanente, com o objetivo de economizar o consumo de energia em 10 estados que registram maior luminosidade entre outubro e fevereiro.

Pico de consumo

  • Quando o recurso foi implementado, o auge do consumo de energia acontecia às 19h, quando os trabalhadores chegavam em casa e ligavam a luz elétrica e dos chuveiros.
  • Hoje, o pico é em plena luz do dia, por volta das 15h, quando há muitos aparelhos de ar-condicionado ligados nas casas e empresas.

Fim com governo Bolsonaro

  • Em 2019, o presidente Jair Bolsonaro assinou um decreto revogando o horário de verão, que também não foi implementado em 2020.
  • Segundo ele, a medida seguiu estudos que analisaram a economia de energia no período e como o relógio biológico da população é afetado.

Fonte: Pesquisa AT.

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