Metapizza não mata a fome

Os professores, especialmente os de ensino básico, sabem o quanto é difícil competir pela atenção das crianças e adolescentes com a internet. Para enfrentar o sem-fim de jogos, música e entretenimento, os pedagogos têm que manejar novas estratégias que não dispensam o uso dos próprios instrumentos tecnológicos.

Tribuna Livre | 05/01/2022, 13:35 13:35 h | Atualizado em 05/01/2022, 13:36

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As empresas de vendas em varejo perceberam o filão do consumo pela internet e se adaptaram para sobreviver. Algumas, como a Amazon, têm sua proposta operacional estritamente voltada para o comércio virtual. 

A tecnologia de ponta, como a produção de químicos e farmacêuticos, depende de meios tecnológicos para fazer cálculos e simulações em larga escala. O desafio tecnológico em praticamente todas as áreas da atuação humana causa perplexidade nas gerações mais antigas e instiga os olhares mais jovens.

O desafio vai aumentar com a evolução da internet para a nova tecnologia chamada metaverso, uma experiência mais imersiva em que usuários poderão interagir com percepções sensoriais e comunicativas mais realistas, além de terem uma percepção de espacialidade que lhes dará impressão de uma territorialidade verdadeira, com pessoas em avatares virtuais circulando em espaços comuns, como se estivessem numa cidade ou numa empresa real.

É de se esperar a construção de periféricos sensoriais como luvas, óculos e fones de ouvido que permitirão maior penetração nesse nível de simbiose real-virtual. 

Assim como o espaço real envolve a prestação de serviços e produção material, também haverá seus equivalentes virtuais. Já se tem notícia de tênis virtuais sendo vendidos por milhares de dólares para serem usados em futuros pés virtuais, além de terrenos vendidos por milhões para a construção de prédios virtuais. Também há mercado de arte virtual voltada para o metaverso.

Toda essa complexa nova realidade imaterial decorre de uma abundância de dinheiro formado em bolhas especulativas que monetizam os bens de modo muito superior a seus valores reais.

Há cálculos (de duvidosa precisão) que estimam o total de riqueza do mundo como valendo 350 trilhões de dólares, enquanto o valor monetário circulante chaga a 700 trilhões. 

Ou seja, o dinheiro ora em circulação no mundo é o dobro do que o total da riqueza material. O metaverso é uma possível válvula de escape para criar um PIB imaterial, mas monetizável, de coisas que não existem, mas têm valor atribuído.

Fora desse alegre universo de serviços imateriais e de uma população infantilizada viciada em jogos e entretenimentos, há uma população vivendo na miséria e com pouquíssimo acesso aos bens da nova economia. No Brasil, 14% da população está desempregada (os números verdadeiros são muito maiores, pois o governo distorceu a metodologia), 9% passam fome e mais da metade vive em algum nível de insegurança alimentar.

A nova economia contaminou os humanos reais de uma realidade de avatares e falsas riquezas, escancarando um desenvolvimento econômico que os dispensa de seu papel de criador de riquezas e aniquila a real percepção do conceito de riqueza. 

O futuro projeta mais acumulação financeira, menos produção de riqueza material e mais exclusão social.

SÉRGIO LIEVORE é advogado.

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