O ciúme: mocinho ou vilão?

Coluna foi publicada nesta quinta-feira (25)

Sátina Pimenta | 25/04/2024, 10:36 10:36 h | Atualizado em 25/04/2024, 20:18

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/170000/372x236/O-ciume-mocinho-ou-vilao0017809700202404251036/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F170000%2FO-ciume-mocinho-ou-vilao0017809700202404251036.jpg%3Fxid%3D790416&xid=790416 600w, Sátina Pimenta é psicóloga clínica, advogada e professora universitária

Por muito tempo acreditamos que ciúme era uma demonstração de amor. Acreditávamos que o ciúme estava relacionado ao medo de perder e inferíamos que o medo era perder algo precioso que seríamos nós. Isto mesmo, o ciúme inflava o ego de muita gente por aí!

David Muss, estudioso da Psicologia Evolutiva, possui pesquisas que afirmam que antigamente o ciúme tinha uma função de adaptação, haja visto que com ele era possível lidar com as ameaças da perda do parceiro e consequentemente a diminuição da reprodução.

Ele afirma que tal visão pode explicar por que o ciúme é um sentimento universal, porém com manifestações diferenciadas dependendo da cultura e da sociedade.

E outra psicóloga social chamada Patrícia Noller nos oferta estudos aprofundados sobre o ciúme.

Primeiramente, ela o classifica em emocional e sexual, sendo que o primeiro se dá nas relações com terceiros (amigos, parentes, pais, etc) e o segundo com fidelidade sexual.

A estudiosa ainda afirma que o ciúme é influenciado por fatores como segurança emocional individual, confiança mútua e comunicação eficaz e clara entre os sujeitos.

E que ele possui sim efeitos negativos, mas também efeitos positivos no relacionamento, como por exemplo motivar comportamentos de cuidado e proteção.

O problema é que os efeitos negativos do ciúme são devastadores e a parte vilã dele tem se apresentado com grande constância nas mídias, principalmente as policiais!

O Dr. Robert L. Leahy, psicólogo e autor de livros famosos sobre o ciúme, indica que a pessoa ciumenta possui certas características como insegurança, desconfiança, possessividade e reações emocionais intensas.

As mudanças sociais influenciadas principalmente pela inclusão da mulher no mercado de trabalho, o feminismo, a luta dos direitos humanos e da igualdade de gênero nos alertam para os malefícios e para a não alienação romantizada do ciúme.

Nesta nova visão maligna, o ciúme desdobra-se como um movimento de posse sobre o outro! E se eu possuo o outro, ninguém poderá mais possuí-lo, nem o próprio outro!

Como assim?! O outro, quando é objeto do ciúme, priva-se daquilo que deseja, pois, por saber os malefícios do ciúme que virá, deixa de ser quem é para tentar evitá-lo.

E tudo isto é antagônico. Veja: se eu me apaixonei por quem estava livre e pela sua maneira de viver tal liberdade, por que agora quero prendê-la em um gaiola imaginária de desejos e expectativas só minhas!?

Pense na metáfora: eu tenho no quintal um canário que vem na minha janela todos os dias cantar, eu o prendo na gaiola para só cantar para mim, ele se entristece e para de cantar; chateado, eu brigo com ele e ele morre.

Eu ainda possuo um pássaro na gaiola, mas ele não tem mais vida! O que me parece é que o amor perdeu para a posse! E quanto mais ela é impetrada, mais o amor se esvai.

Mas ainda há esperança! Inclusive, no consultório possuo algumas pessoas que buscam a terapia para deixar que o sentimento do ciúme os controle, afinal, tal sentimento machuca não só a vítima do ciúme, mas também a pessoa que o possui. O amor é livre! E se assim não o for, deixou de ser amor!

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