O Flamengo venceu apenas quatro das últimas dez partidas que fez com Rogério Ceni comandando os jogadores à beira do campo. E favor não confundir com o desempenho do time nos últimos dez confrontos, onde soma sete vitórias, duas derrotas e um empate. Mas é que como Ceni contraiu a Covid, em três jogos, contra Coritiba (duas vezes) e América/MG, quem o dirigiu foi Maurício Souza.

Com ele no banco, o Flamengo perdeu dois e empatou quatro dos dez últimos jogos. Teve 53,3% de aproveitamento, e somou 16 dos 30 pontos disputados – o que em parte justifica a antipatia da torcida.

E digo em parte porque no fundo a insatisfação está mais voltada para as escolhas do que para os resultados obtidos por ele. Os números ainda o protegem e isso rubro-negro nenhum questionará.

Pressionado e questionado, errando e acertando, o técnico conquistou quatro títulos desde que assinou com o clube em 10 de novembro.
Venceu 11 dos 23 jogos (47,8%) em 2020/21, e 12 dos 21 (57,8%) da atual temporada. É claro que se tratam de dados contaminados pela pobreza técnica do Carioca. Mesmo assim, os números provam que o trabalho evolui — sem falar na renovação do elenco.

Podemos criticar as escolhas do treinador, as inconstâncias do time, e até se queixar da forma como ele busca as vitórias. Mas fora as duas eliminações nas Copas (do Brasil e Libertadores) do ano passado, dias após sua chegada, Ceni ganhou tudo o que disputou de importante. Trata-se ao menos de um cara de sorte – mas nem por isso tem merecido elogios!

O futebol apresentado pelo Flamengo, por um ou outro motivo, não gera encanto. Vence porque seu orçamento o distingue da maioria. Vence porque, mesmo desfalcado, tem as melhores opções. E vence porque os jogos mais espinhosos foram adiados.

Isso tudo, aliás, quando vence. Porque, como lembrei no início, ele conseguiu apenas quatro vitórias nos dez últimos confrontos.

Ceni é um jovem treinador (começou em 2017), e parece ser dos mais estudiosos entre os que vieram do campo nessa geração. Se esforça para não fazer o óbvio e isso faz bem ao futebol.

Mas ele se tranca em convicções estranhas e acaba gastando seus créditos. E nessa era pós-Jesus, os treinadores do Flamengo terão de prestar contas com o passado recente — e já vimos isso com Domènec Torrent.

É cruel, mas Ceni só terá os erros tolerados empilhando taças na Gávea. É bom, portanto, que no Fla-Flu de hoje, em São Paulo, ele não dê margens para mais desconforto.