Zagallo, único tetracampeão mundial, faleceu na última sexta-feira (05) |  Foto: Reprodução Instagram @zagallooficial

De todas as faces de Zagallo a que mais me fascinava era a do guardião que zelava pela história do futebol brasileiro. Era incansável na defesa das honras que ajudou a construir, Primeiro, como um jogador que vingou o choro do soldado que viu, de prontidão no estádio, a derrota de 2 a 1 para o Uruguai no “Maracanazo” de 1950. Depois, como o treinador e coordenador que levou a seleção a mais duas conquistas em Mundiais, com seu nacionalismo exacerbado.

Trabalhou nos quatro grandes clubes do Rio, com passagens por América, onde iniciou a carreira de jogador, e Bangu, clube que dirigiu em 1988, já na fase pós Castor de Andrade. Mas queria ter feito a diferença também no futebol paulista. Por isso, em 99, após o segundo lugar na Copa da França, topou a experiência no comando técnico da Portuguesa, onde esperava chamar atenção de clubes paulistas. Mas a aventura durou dez meses e em outubro ele assumiu o Flamengo.

Aliás, nunca se soube ao certo as cores do coração do “Velho Lobo”. Foi iniciado pelo América, clube vizinho à residência dos pais, mas foi o Flamengo tricampeão nos anos 50 que o levou à seleção campeã do mundo em 58. Só que, ao retornar, mudou-se para General Severiano e ali, com a camisa do Botafogo consolidou a carreira de jogador vitorioso e iniciou a de técnico igualmente laureado. Nesta função, entre 66 e 2006, teve quatro passagens pelo alvinegro e três pelo rubro-negro.

Sempre considerei Zagallo mais inserido na história do Botafogo. Até que percebi nas entrelinhas de algumas de suas declarações que ele trazia da infância maior simpatia pelo Flamengo. No entanto, o homem de múltiplas conquistas jamais se interessou em alimentar polêmicas vazias. E respondia com sabedoria que o coração dele era verde e amarelo. Discurso que fazia muito sentido pela espontaneidade e pelos 20 anos de trabalho na direção da seleção.

Zagallo era do tipo que gostava da resenha, aceitava o debate e não temia o confronto. Falava da seleção brasileira com a paixão de torcedor, sentimento que ia além da narrativa profissional. Era o espírito guardião que nos servia de proteção. Mal ou bem, quem nos fazia crer que a camisa verde e amarela tinha um encanto a mais. Agora, com sua morte, a defesa do maior símbolo do futebol brasileiro, tão maltratado pela CBF, ficou ainda mais vulnerável.