A criativa surdez de Beethoven

| 07/09/2021, 10:20 10:20 h | Atualizado em 07/09/2021, 10:22

Talento é o que um ser humano possui. Gênio é o que possui um ser humano. Um trágico destino resolveu forjar a genialidade de Ludwig van Beethoven na bigorna da dor física e emocional, batendo em sua vida com o martelo da miséria e da enfermidade.

Compositor de inigualável imaginação, paixão e poder, Beethoven soube galopar nos campos do pensamento, transformando sofrimento em música sublime.

Doenças limitadoras atuam de forma depressora e angustiante quando atingem setores do organismo habitualmente solicitados nas atividades de rotina. Essas situações, não excepcionais, têm se manifestado muitas vezes em artistas, criadores ou executantes, em todas as modalidades de arte, podendo acarretar abatimento, isolamento, renúncia ou revolta e luta contra o infortúnio.

A surdez progressiva de um dos maiores compositores musicais de todos os tempos, adubou o sofrimento que fertilizou sua carreira, na conquista de seu reino musical, poderoso e expressivo, original e emocionante, que enriqueceu o mundo.

Calaram-se para Beethoven os sons da terra a fim de que, no meio do silêncio, ele pudesse captar as harmonias do céu.

A perda da audição do músico deve ter se iniciado pouco antes dos trinta anos, progredindo de forma inexorável, podendo admitir-se que, antes dos cinquenta anos, Beethoven já apresentava dificuldade à conversação, e nos períodos finais nada conseguisse ouvir.

A causa da afecção auditiva foi justificada como resultado de esgotamento nervoso, abuso de vinho, sífilis, tuberculose e febre tifoide.

Um dia após a morte de Beethoven, o médico Johannes Wagner fez necropsia do cadáver e encontrou o fígado inflamado e diminuído de tamanho, caracterizando cirrose pelo consumo de álcool.

Beethoven tomava vinho com regularidade. Estabeleceu-se a conexão entre o consumo dessa bebida e um possível envenenamento por chumbo, baseando-se numa amostra de cabelo do compositor, que indicou a presença desse metal.

A intoxicação por chumbo é conhecida como saturnismo. Esse metal não tem qualquer papel no corpo, sendo sua toxidade proveniente da habilidade de seus íons em substituir outros metais, como cálcio, ferro e zinco, responsáveis por desempenharem importantes funções orgânicas.

O chumbo compromete as conexões nervosas, além de provocar uma série de distúrbios digestivos, como diarreia, dor abdominal intensa, perda de apetite e vômitos.

As intoxicações agudas vêm acompanhadas de encefalopatia, convulsões, coma e morte. Os quadros crônicos geram fraqueza, anemia, perda de peso, fadiga, dores de cabeça e alterações das funções cognitivas, traduzidas pelos delírios, alucinações, agitação psicomotora, além de surdez progressiva.

Torturado pelo sofrimento, Beethoven dizia: “Eu me tomo de paciência e penso: Todo mal traz em si mesmo um bem qualquer”.
Este ser desditoso, pobre, enfermo, solitário, a quem o destino recusa a paz, cria músicas imortais, legando sua arte à humanidade.

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