Uso em excesso de celular e games faz casos de miopia em crianças dispararem

Confinamento em casa e maior tempo em frente a tablets e videogames aceleraram problemas de visão do público infantil e jovem

Lydia Lourenço, do jornal A Tribuna | 31/01/2022, 17:29 17:29 h | Atualizado em 31/01/2022, 17:30

O uso de celulares, tablets e computadores tem aumentado cada vez mais, sobretudo entre crianças e adolescentes, ainda mais durante a pandemia. 

De acordo com a Sociedade Brasileira de Lentes de Contato (Soblec) e outras entidades oftalmológicas, se a utilização continuar neste ritmo, até 2050 metade da população mundial será míope, com o público infantil e jovem entre os mais atingidos.

Um estudo publicado pela revista JAMA, da Associação Médica Americana, apontou que em 2020 o número de casos de miopia em crianças de 6 a 13 anos triplicou durante a pandemia de covid-19.

A oftalmologista e gestora estadual da Soblec, Liliana Nóbrega, alerta que o excesso de telas com a visão de perto pode desencadear a doença neste público. 

“O estímulo excessivo da visão de perto cria um mecanismo dentro do olho que provoca uma dificuldade de ver de longe, sobretudo em crianças em desenvolvimento. A criança precisa alternar a visão entre longe e perto”, ressalta.

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Liliana Nóbrega afirma ainda que a utilização de celulares e qualquer outro aparelho eletrônico não deve ser usado por crianças por mais de duas horas e deve haver intervalos entre as telas. 

“Antes a gente acreditava que a criança só poderia ter esse problema por conta da genética. Mas podemos observar que os hábitos podem potencializar essa predisposição”, acrescenta Nóbrega.

Com o contexto pandêmico, o especialista em oftalmopediatria Arthur Mesquita explica que casos de progressão ou desenvolvimento da miopia foi muito comum.

“Atendi uma menina de 5 anos, que anteriormente tinha se consultado e, após a pandemia, retornou e estava com 5 graus de miopia, o que pode ter sido fruto da alta estimulação de telas neste período”, conta.

Para o oftalmologista Alexandre Pinheiro, outro fator relacionado ao aumento da doença é o fato de as crianças terem ficado confinadas em casa, por conta da pandemia, e com a ausência de sol.

“Esportes, brincadeiras e outras atividades ao ar livre devem ser estimuladas. O sol ajuda na prevenção da progressão da miopia”.

O especialista afirmou ainda que atualmente há mais de 80 milhões de crianças míopes no mundo. “A alta miopia está associada a complicações danosas ao sistema visual, como glaucoma e o descolamento de retina”, concluiu.

Perto da televisão

A empresária Giseli Zanelato conta que o filho Adagner, de 13 anos, foi diagnosticado com miopia aos 6 anos. “Ele começou a fazer uso de eletrônicos por volta dessa idade, jogava muito videogame e sempre muito perto da TV. Comecei a pedir para se sentar mais distante, mas ele disse que assim não enxergava. Quando o levei ao oftalmologista, ele já estava com grau 1,5”. 

Nem Giseli nem o marido são míopes. Ela explica que desde o início da  pandemia tem sido mais difícil controlar os horários de uso de eletrônicos do filho. “Penso que o grau dele tenha aumentado em razão do isolamento”.


SAIBA MAIS


Características

  • A miopia é caracterizada pela dificuldade de focar em objetos de longe. É uma doença multifatorial, que tem influência genética, da não estimulação da visão para longe e de estímulo excessivo da visão para perto.

Prevenção 

  • Fazer exames oftamológicos de rotina anualmente, tomar sol e diminuir o tempo de uso de eletrônicos.
  • A cada 20 minutos de exposição de tela para perto, é preciso parar durante 20 segundos ou descansar 5 minutos a cada 50 minutos.

Sem exposição

  • A Sociedade Brasileira de Oftalmopediatria recomenda que crianças de 0 a 3 anos não sejam expostas a telas de aparelhos eletrônicos.
  • Entre 3 e 5 anos, o limite de exposição é de até uma1 hora, já para aqueles entre 6 e 8 anos, a recomendação é de no máximo duas horas de uso de telas.

Exames

  • Recém-nascidos: o Teste do Reflexo Vermelho (TRV) deve ser realizado pelo pediatra nas primeiras 72h de vida. O TRV deve ser repetido pelo menos três vezes ao ano durante os primeiros 3 anos de vida. 
  • Para crianças de até 3 anos, deve ser feita a inspeção dos olhos e anexos (pálpebras, córnea, conjuntiva, íris e pupila), fixação e alinhamento ocular, etc.
  • Crianças de 3 a 5 anos devem ser submetidas a um exame oftalmológico completo.

Fonte: Especialistas consultados.

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