Uma cidade do ES onde 10 mil moradores vivem da pesca
Dos 34 mil habitantes que atualmente moram em Itapemirim, mais de 10 mil trabalham exclusivamente com os pescados
É do mar que vem a maior renda dos moradores da cidade de Itapemirim, no litoral Sul capixaba. Dos 34 mil habitantes que atualmente moram no município, mais de 10 mil vivem exclusivamente da pesca.
Considerado o maior terminal pesqueiro do Estado, com 640 embarcações de grande, médio e pequeno porte registradas no município, o porto de Itaipava, distrito de Itapemirim, é o principal ponto de partida e de chegada desses trabalhadores.
O preparador de pescado Leandro Scheider, 40, e o pescador Uielis Martins Costa, 40, recebiam as toneladas de atum que chegavam nos barcos de pesca durante essa semana e mostraram a espécie com orgulho à reportagem.
O pescador Rogério Lima Coimbra, de 48 anos, começou na pescaria aos 15 anos e herdou a profissão da família. “A única oportunidade de emprego no passado recente aqui em Itapemirim é a pesca. Já venho de uma família de pescadores, então é algo bem comum. Comecei como tripulante, e sempre com a visão de ter o próprio barco. Tenho meu próprio barco, e agora organizo as viagens para os pescadores, e fico em terra”, conta Rogério.
“A pesca é tudo aqui. Nossa cidade vive da pesca, principalmente Itaipava e Itaoca. Crescemos da pesca, e vivemos dela até hoje. De 10 casas que você passar, pelo menos seis são de pescadores. A economia das famílias gira em torno da pesca”, ressalta.
O pescador André Gustavo, 41, conta que entrou para a profissão aos 13 anos de idade e, aos 18, virou mestre do barco. Hoje possui três embarcações. Quando vai para o mar, chega a ficar até 20 dias.
“Dependemos diretamente da pesca. Até mesmo os pedreiros, os comerciantes, todo mundo. A vida na pescaria não é fácil. Com 41 anos já busco uma maneira de me aposentar”, explica.
“Para sair com o barco temos uma despesa muito alta. O custo é de R$ 60 mil. E como vamos saber se terá peixe? Só Deus mesmo. Já saímos para pescar e voltamos sem nada. O mar é imprevisível”.
Em terra, grande parte das mulheres dos pescadores é marisqueira. Elas buscam o sururu nas ilhas de Itapemirim, levam para cozinhar, tiram da concha e ensacolam o marisco para a venda.
Última geração de pescadores
Os barcos que vêm da China, Espanha e de outros países começam a preocupar os pescadores de Itapemirim. Eles contam que com barcos gigantes, que possuem capacidade até 10 vezes maior do que as embarcações capixabas, essa pode ser a última geração de pescadores artesanais.
O pescador Dioner Benevides, 38, conta que em alto-mar a concorrência é desleal, já que as embarcações estrangeiras estão invadindo cada vez mais o litoral brasileiro. Eles foram autorizados a pescar no Brasil em 2010, para atingir a cota anual da pesca de atum espadarte, de 4,720 toneladas.
O secretário municipal de Agricultura e Pesca, Pércio Pablo Raposo Viana, frisa que para ajudar os pescadores está vigente em Itapemirim o subsídio de óleo diesel, no total de 30% para cada barco.
“Temos o abastecimento aqui, e na hora de pagar eles pagam 70% do abastecimento. São pescadores registrados no Programa Estatística Pesqueira de Itapemirim”, explica.
Pescados exportados principalmente para os EUA
Considerado um dos maiores exportadores de atum do País, o município de Itapemirim vende a maioria dos seus pescados para os Estados Unidos.
Segundo dados da Associação Brasileira de Piscicultura, somente o Rio Grande do Norte pesca mais atum do que Itapemirim.
O secretário municipal de Agricultura e Pesca, Pércio Pablo Raposo Viana, que também é pescador, explica que os profissionais fazem principalmente a pesca pela modalidade espinhel horizontal para fisgar o atum.
“Quando vamos para o mar, trazemos várias espécies de peixes, mas as principais são o atum e o dourado. Os pescadores saem do porto de Itaipava e não necessariamente voltam até aqui para a comercialização do pescado. As embarcações passam em outros portos para a venda”, destaca.
A venda às vezes é feita antes de chegar no porto, e assim que os peixes são desembarcados, já vão direto para os caminhões que levam para diferentes cidades e até para fora do País.
“Os EUA são o país que mais compram o atum, mas também comercializamos para São Paulo, Rio de Janeiro e todo o Espírito Santo. Alguns pescadores chegam a ter renda mensal de mais de R$ 50 mil. Esses são donos de embarcações, que cresceram e hoje fazem somente a gestão dos barcos”.