Treinadora de cão-guia reclama que animal foi barrado em supermercado de Vitória
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Voluntária para treinamento de socialização de cão-guia, usado para deficientes visuais, a empresária Lara Zanon, de 25 anos, relata que passou por momento de constrangimento em um supermercado no bairro Jardim da Penha, em Vitória, nesta terça-feira (20).
Ela atua como voluntária do Instituto de Responsabilidade e Inclusão Social (IRIS) para treinamento de socialização da labrador Zoe desde janeiro e conta que começou a atuar no processo pelo fato do marido, Ícaro Klippel Lugão, ser deficiente visual e ter baixa visão.

"Estou socializando a Zoe desde janeiro e, como parte do treinamento, eu a levo para espaços públicos, com a devida identificação, para ela entender como as pessoas se comportam", comentou Lara.
A empresária conta que já esteve com a cão-guia em diversos locais e nunca sofreu nenhum tipo de discriminação, até que foi barrada no supermercado em Jardim da Penha em três ocasiões em que estava acompanhada da Zoe.
Na primeira vez, a empresária diz que havia ido ao estabelecimento para fazer uma encomenda e foi abordada pelo gerente, que a informou que animais não são permitidos no local.
Surpresa com a atitude, já que o animal estava identificado com colete de cão-guia, Lara explicou que, pela Lei 11.126, é permitida a entrada de cão de assistência em todos os tipos de estabelecimentos e apresentou a documentação do animal. Ela foi liberada.
No outro dia, quando retornou ao estabelecimento para buscar a encomenda, Lara conta que novamente foi abordada por um funcionário e explicou que já havia conversado com a gerência e que poderia entrar no local com a cão-guia.
A terceira ocasião foi na última terça-feira, a quase uma semana do dia internacional do cão-guia, comemorado na próxima quarta-feira (28). A empresária relata que foi ao mercado acompanhada da mãe e da cão-guia.

"Um segurança me abordou gritando no meio do supermercado lotado, dizendo que eu não podia entrar com cachorro no estabelecimento. Eu contei que já havia informado aos gerentes que se tratava de um cão-guia em treinamento e que não queria discutir mais sobre isso. Começaram a questionar se eu era cega e me senti muito constrangida. A sensação que fica é que deficientes visuais não têm espaço em ambientes públicos", lamenta.
O Instituto Iris, que é responsável pela cão-guia, lamenta a atitude e aponta que a socialização é de extrema importância para a formação do cão, que irá entender como o ser humano se comporta.
"O Iris lamenta profundamente os últimos acontecimentos com uma de suas voluntárias, por parte da conduta de funcionários do supermercado, que distrataram a voluntária que socializava um cão por três vezes em que tentou frequentar o estabelecimento. O Iris não vai deixar que os cães-guias e cães em treinamento sejam retirados ou hostilizados em espaços abertos ao público de uso coletivo no qual possuem direito, adquirido pela lei 11.126, de estarem ali presentes", lamentou o Instituto por meio de nota.
Supermercado nega discriminação
A reportagem do Tribuna Online entrou em contato com um dos proprietários do supermercado, que negou que tenha acontecido ato de discriminação contra a empresária e a cão-guia. Ele lamentou o ocorrido.
Segundo ele, um funcionário, que não tinha conhecimento da legislação que permite a entrada de cão-guia em estabelecimentos, abordou a empresária e questionou sobre a presença do animal. Após explicações, ela foi liberada para permanecer no estabelecimento.
O proprietário conta ainda que os gerentes fizeram um treinamento com os funcionários a fim de explicar sobre a legislação para que o caso não volte a ocorrer.
Treinamento leva cerca de 1 ano e 6 meses
O treinamento dos cães-guias leva em média um ano e meio para ser concluído e o processo começa desde a seleção dos filhotes, passando pela socialização, na qual os cães são recebidos por famílias voluntárias que conduzirão a educação inicial do cão, para então passar por um adestramento.
Durante o processo de socialização, o cão-guia precisa ser inserido na sociedade por meio do convívio com socializadores voluntários. Nesta fase, o socializador voluntário é orientado a levar este cão em treinamento para estabelecimentos públicos que costuma frequentar.
A presença desse animais é permitido por meio da Lei Federal 11.126, que “dispõe sobre o direito da pessoa com deficiência de ingressar e permanecer com cão de assistência em todos os meios de transporte e em estabelecimentos abertos ao público, de uso público e privados de uso coletivo”.
O Instituto Iris é uma organização sem fins lucrativos que atua desde 2002 no treinamento e doação de cães-guia para pessoas com deficiência visual.
A organização já treinou e entregou 40 cães-guias para pessoas com deficiência visual no país. Atualmente, a organização conta com lista de espera por um cão-guia no Instituto tem aproximadamente 3 mil nomes.
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