"Pensamos ser resfriado, mas era um câncer", dizem pais de menino de 9 anos

Inicialmente, ele teve como sintoma do tumor somente uma secreção nasal

Ana Carolina Favalessa | 15/02/2022, 08:58 08:58 h | Atualizado em 16/02/2022, 19:44

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/110000/372x236/inline_00111231_00/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F110000%2Finline_00111231_00.jpg%3Fxid%3D295225&xid=295225 600w, Patrícia e Vanilson com o filho Fillipe, de 9 anos, que venceu o câncer
 

O que parecia ser um simples resfriado, na verdade, era um linfoma de Hodgkin, um tipo de câncer que atinge o sistema imunológico. Apesar de ser pouco comum de acometer crianças, especialistas reforçam a importância de se observar os sinais.

Esse foi o caso do pequeno Fillipe Soares, de 9 anos. Inicialmente, ele teve como sintoma do tumor  somente uma secreção nasal. Os pais dele, a costureira Patrícia Vaz, 36, e o operador de serra elétrica Vanilson Ferreira, 48, moradores de Guarapari, acreditavam que era apenas um resfriado.

“Quando vimos que demos xarope e ele não melhorava, o levamos a uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) infantil. Chegando lá, o médico disse que era um resfriado e passou antibiótico. Depois, quando ele parou de tomar o remédio, o nariz voltou a escorrer de novo”, contou a mãe. 

Estranhando a situação, Patrícia levou novamente o filho ao médico, que passou um remédio para sinusite. Ao fim do tratamento, a secreção retornou e, dessa vez, amarelada. Com o agravamento, Fillipe foi encaminhado para um otorrinolaringologista. 

“Ele começou a não respirar direito pelo nariz e estava sempre com o nariz entupido”, relatou. O garoto também passou a sentir outros sintomas mais graves, como febre e sangramento pelo nariz. 

Diante da situação, foram feitos exames, que saíram em julho do ano passado, e evidenciaram que ele estava com linfoma de Hodgkin, um tumor maligno que atingiu a região entre o pescoço e o nariz. Na época, Fillipe tinha 8 anos.  

Após cinco sessões de quimioterapia, ele conseguiu vencer o câncer e se curar, diagnóstico dado em dezembro. Agora, realiza somente acompanhamento médico. 

“Tenho orientado muita gente que conheço. Pensávamos que era um resfriado, mas, na verdade, era um câncer. Se tivéssemos deixado para lá, nosso filho não estaria com a gente hoje”, disse Patrícia. 

A otorrinolaringologista da Rede Meridional Nathalia Manhães Távora pontuou que esse tipo de câncer costuma ser mais comum em homens jovens. 

Ela ressaltou que é preciso ficar atento a todos os sinais da criança. “Nariz entupido, secreção, alteração da anatomia, do rosto e sangramento são sinais de que pode ter algo alterado”, disse. “Não se deve achar que não é nada. Pode ser só uma rinite, mas é importante o especialista avaliar”, orientou.

Escola também pode ajudar

Além da observação da família, outro aliado importante na observação dos sinais manifestados pelas crianças é a escola. A comunicação entre essas duas esferas é fundamental para o diagnóstico precoce, segundo os especialistas.

A psiquiatra Letícia Mameri pontuou que, às vezes,  o encaminhamento para o psiquiatra vem da própria escola, depois de perceber alguma alteração do aluno.

“Quando a criança começa a ir para a escola, é muito importante que a família esteja próxima, para que a escola repasse os sinais que perceber na criança para a família e, da mesma forma, que a família repasse o que notar para a escola”, pontuou a médica. 

“Muitas vezes, a  escola vai ter mais contato com a criança do que os pais. Precisamos ter um canal de comunicação direto”, completou.

Com o dia a dia, a família também pode se acostumar a certos hábitos da criança, que podem ser perceptíveis na creche. Quando há o repasse das informações para os pais, eles podem procurar um especialista, que avaliará cada caso individualmente.

A otorrinolaringologista da Rede Meridional Nathalia Manhães Távora pontuou que há hábitos que a criança faz na escola  que podem indicar sinais de  problemas na audição, por exemplo.

“Ela pode querer sentar só de um lado da sala, porque não está ouvindo bem do outro. Por questão de adaptação, não porque ela sabe que está com uma perda; por isso, vai sempre procurar (escutar) pelo ouvido melhor”, disse.

A médica também salientou que é importante as escolas avaliarem se a criança está atingindo os marcos esperados para a idade, em relação às outras crianças – como o desenvolvimento e a interação com os colegas. 

“A escola vai muito além do ensinar, e essa comunicação com a família é fundamental”, destacou.

“Inclusive, há casos de crianças em que pedimos um relatório da própria escola, para saber se ela está se desenvolvendo, por exemplo”, completou a especialista.


SINAIS DE ALERTA


Dicas para os pais

Hábitos corriqueiros podem ser normais, mas também podem ser indicativos de algum problema. A reportagem selecionou dicas para os pais ficarem atentos  e não deixarem de ir periodicamente ao médico.   

Reflexo alterado nos olhos

Quando a pupila fica branca ou fosca após o contato da luz com o olho, pode ser sinal de alerta. Isso pode ser observado, às vezes, na fotografia com flash. Entre possíveis problemas estão: catarata, glaucoma, retinoblastoma, doenças de córnea, conjuntivites e inflamações.

Mau desempenho escolar

Quando a criança apresenta características de mau desempenho, diversos problemas podem estar associados. Entre eles, doenças como miopia, astigmatismo, hipermetropia, glaucoma e catarata. 

Olhos muito perto da tela

Quando a criança fica por muito tempo com os olhos bem perto da tela pode ser um sinal para problemas na visão, como hipermetropia, miopia e astigmatismo. 

Lacrimejamento

Ficar frequentemente com os olhos lacrimejando também pode ser sinal de alerta para doenças como glaucoma, catarata, conjuntivites e inflamações oculares. 

Coceira nos olhos

Quando a criança costuma coçar muito os olhos, é importante ficar atento. Conjuntivite, corpo estranho no olho e olho seco podem estar associados à causa da coceira.  

Pernas tortas assimétricas

Quando a criança apresenta as pernas tortas assimétricas, é importante os pais procurarem atendimento de um ortopedista. Esse sinal pode estar associado a uma doença rara, tíbia vara de Blount, e a enfermidades como pseudoartrose congênita de tíbia e tíbia torta congênita.

Dor ao andar

Se a criança sentir dor ao andar e/ou tiver um membro mais curto, é preciso procurar atendimento. Esses sinais podem estar associados à displasia do quadril, à doença de Legg-Calve-Perthes (doença rara que atinge o fêmur) ou à epifisiólise (escorregamento da cabeça do fêmur).

Pés com deformidades

Caso o bebê apresente pé com deformidade, é preciso atenção. Pode estar associado ao pé torto congênito, à sindactilia (condição rara que provoca a junção de dedos das mãos ou pés) ou à macrodactilia (anomalia rara, caracterizada pelo crescimento desproporcional dos dedos).

Vômitos e dor de cabeça 

Sintomas como vômitos, dor de cabeça e perda de alguma habilidade adquirida, por exemplo, também são sinais de alerta que devem ser avaliados por um especialista. Em conjunto, podem estar associados a tumores do sistema nervoso central.

Regressão de conhecimentos 

Caso o bebê regrida em aprendizados que já dominava – por exemplo, já sabia sentar e passou a não conseguir mais –, esse é um sinal de alerta. Pode ser associado a vários fatores. Um deles é a hidrocefalia, doença que leva ao aumento do perímetro cefálico, segundo o pediatra Rodrigo Aboudib. É importante levá-lo para avaliação de um especialista.

Anemia entre os sintomas de leucemia

Anemia frequente e palidez

Anemia frequente, palidez e febre de mais de oito dias são sinais de alerta. Repare se a criança costumava brincar e correr e passou a ficar mais parada. Esses sinais, segundo a oncologista pediatra Gláucia Perini Zouain Figueiredo, podem estar associados a leucemias.

Outros sintomas das leucemias são frequentes roxos na pele  e sangramento nasal e na gengiva.  

Dor óssea na perna ou braço

A dor constante e localizada em algumas regiões, como perna, braço ou abdômen, pode ser algum problema ósseo. É importante consultar um especialista. Pode estar associada, inclusive, a tumores ósseos.

Perda de equilíbrio

O  equilíbrio humano é composto por ouvido, cérebro, coluna, tato, esqueleto e visão. Quando alguma dessas áreas está alterada, pode provocar a perda de equilíbrio. Se a criança cair muito, é importante ficar atento. Entre as causas, estão doenças que atingem o ouvido e, até mesmo, tumores do sistema nervoso central.

Agitação e alteração do sono

Não dormir direito, ter alteração do sono, agitação e irritação frequentes também são sinais de alerta. Eles podem estar associados a fatores, como hipertrofia das adenoides e/ou amígdalas e problemas neurológicos, como transtorno do espectro do autismo (TEA) e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). 

Não reagir a algum barulho

Não se assustar, não reagir a barulhos ou não entender direito o que outra pessoa diz podem ser sinais de alguma perda auditiva. É preciso ter investigação de um especialista.

Coriza constante e sangramento pelo nariz

Quando a criança apresenta secreção constante pelo nariz e sangramentos é importante a ida ao médico o mais rápido possível. Ambos os sintomas podem estar associados a doenças, como rinite alérgica e rompimento de vasos sanguíneos do nariz, respectivamente, mas podem ter relação até mesmo com tumores.

Não interagir e não fazer contato visual

Quando a criança não interage socialmente e/ou não faz contato visual, é importante ter atenção. Esses sinais podem estar associados a condições neurológicas como o transtorno do espectro do autismo (TEA).

Movimentos repetitivos

Realizar movimentos repetitivos, como andar somente na ponta dos pés, é um sinal de alerta para problemas neurológicos, como o TEA. Como cada caso é isolado, é importante a avaliação do especialista.

Fonte: Oftalmologista e pediatra Arthur Mesquisa;  cirurgião ortopedista Lucas Campagnaro; oncologista pediatra Gláucia Zouain; otorrinolaringologista Nathalia Manhães; psiquiatra Letícia Mameri; e pediatra Rodrigo Aboudib.

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