O que define a saúde do cérebro na terceira idade?

Para a especialista, a forma de cuidar da mente e do corpo ao longo da vida define como será o cérebro depois dos 60 anos

Rafael Gomes, de Jornal A Tribuna | 25/07/2022, 10:46 10:46 h | Atualizado em 25/07/2022, 10:47

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O envelhecimento populacional confirma uma realidade: a expectativa de vida aumentou e as pessoas estão vivendo mais. 

Por outro lado, o estilo de vida atual e a longevidade trazem novos fatores de risco, ou seja, aumentam a possibilidade de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson na população idosa.

Mas  afinal, o que de fato define a saúde do nosso cérebro na terceira idade? É possível fazer algo para se preparar melhor para o envelhecimento?

Para responder a questionamentos como esses, A Tribuna conversou com a neurologista Letícia Rebello, especialista em Neurologia Vascular e coordenadora de Neurologia do Hospital Sírio-Libanês de Brasília.

A Tribuna - O que define a saúde do cérebro na terceira idade?

Letícia Rebello - É muito complexo, mas passa pelo quanto a pessoa consegue envelhecer mantendo uma boa qualidade de vida e os estímulos que têm durante a juventude. 

É fato que a forma como tratamos o nosso corpo e o nosso cérebro hoje vai ter impacto no idoso que seremos. 

Há como se preparar desde cedo para ter um cérebro saudável quando idoso?

É um ponto importante. Muitos se perguntam: ‘como faço para envelhecer bem?’ É deixando o cérebro ativo para evitar os maiores vilões, que são os processos demenciais, como o Alzheimer. A melhor forma de conseguir isso é fazendo a prevenção dos fatores de risco cardiovasculares, o combate à pressão alta, diabete, colesterol, ao cigarro, tendo estímulo à atividade, combatendo a obesidade, o sedentarismo, se alimentando bem, e também mantendo o estímulo cognitivo.

Hoje, quais são os principais problemas ligados ao cérebro na população idosa?

O maior impacto é em relação ao Acidente Vascular Cerebral (AVC). Muitos podem desenvolver AVC de tamanhos e impactos diferentes ao longo da vida, mas é lá na frente que ele pode representar a perda da capacidade cognitiva.

O cérebro reduz de tamanho e perde a capacidade cognitiva com o tempo?

Sim, conforme a gente vai ficando mais velho, mas é algo natural a diminuição de tamanho. Isso não deve ser interpretado como uma doença ou como uma certeza de que o paciente vai ter alguma limitação. 

Algumas estruturas diminuem até 1% a cada ano. À medida que o tempo passa, o cérebro atrofia, é natural. Isso pode não significar nada para uma pessoa, mas pode, eventualmente, significar uma perda cognitiva mais leve, como uma pessoa que tem o hábito de ler, precisar de mais tempo para fazer uma leitura. O importante é perceber quando esse envelhecimento causa impacto no dia a dia da pessoa.

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Com o envelhecimento da população, há diferença no cérebro de uma pessoa com 50 anos hoje na comparação com uma da mesma idade de décadas atrás?

Possivelmente. É por conta do estilo de vida de hoje, o nível de carga emocional, o trabalho e a falta de autocuidado. 

Então seria algo prejudicial hoje...

Sim, e com o envelhecimento populacional, doenças surgiram, como pressão alta, que surge mais nas pessoas mais velhas, e o próprio AVC, que acontece em qualquer idade, mas  a partir da sexta década de vida, ele duplica. Então, vamos ganhando novos fatores de risco com o envelhecimento populacional.

Existem exames preventivos para evitar o envelhecimento do cérebro?

Os exames preventivos existem e devem ser feitos de acordo com o histórico familiar do paciente. Dependendo do caso, é preciso um pouco mais de cuidado, fazer a prevenção um pouco antes. De forma geral, não há um pacote de exames para a prevenção para o cérebro. O pacote, geralmente, é cardiovascular. Cardiologistas, geriatras e até ginecologistas, para as mulheres, podem indicar os exames.

Pessoas que mantêm hábitos relacionados à atividade intelectual, como ler, estudar, desafios ao cérebro, têm uma menor predisposição a desenvolver doenças neurodegenerativas?

A pessoa que se mantém desafiada intelectualmente, com estímulo, pode ter, possivelmente, casos mais retardados caso tenha predisposição, pois a pessoa está sempre se estimulando. Muitos, quando se aposentam, deixam de produzir, de ter estímulos, e é nesse momento que se instala uma piora da parte cognitiva. 

O que mais é importante?

Fazer atividade física, se alimentar bem, ter uma qualidade no sono, tudo isso reduz os riscos de doenças. A saúde do sono  está diretamente ligada à redução de risco cardiovascular. Quem faz isso, tem menos consequências negativas. E nunca é tarde para começar a fazer. O ideal é começar ainda jovem, mas não é porque a pessoa nunca fez que ela não pode iniciar já adulto. Cuidar da saúde do corpo vai ter impacto no cérebro.


Quem é?


Letícia Rebello

  • Neurologista formada no Hospital de Base do Distrito Federal e especialista em Neurologia Vascular.
  • Letícia também tem formação no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e no Grady Memorial Hospital (EUA).
  • publicou  artigos científicos, participou de ensaios clínicos e ministrou aulas em congressos. 
  • Atualmente, está na diretoria da Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares  e é coordenadora de Neurologia do Hospital Sírio-Libanês de Brasília.

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