"Ele tentou me acuar", denuncia professora após abordagem de vereador

| 22/06/2021, 19:54 19:54 h | Atualizado em 22/06/2021, 19:58

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/prod/2021-06/372x236/rafaella-machado-d54eec23054f1225a54af6e5edcb13fd/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fprod%2F2021-06%2Frafaella-machado-d54eec23054f1225a54af6e5edcb13fd.jpeg%3Fxid%3D177895&xid=177895 600w, Professora denunciou vereador por ameaça

"Tenho absoluta certeza de que minha liberdade de cátedra não pode ser ameaçada por um vereador. Ele tentou me acuar e quem acabou acuado foi ele". A denúncia é da professora de inglês Rafaella Machado dos Santos contra o vereador de Vitória, Gilvan da Federal (Patriotas). 

Segundo ela, na última sexta-feira (18), o parlamentar foi até a Escola Estadual de Ensino Médio Professor Renato Pacheco, em Jardim Camburi, na capital, onde ela trabalha para falar sobre uma atividade de classe que a professora passou aos alunos. 

O trabalho trazia a temática LGBTQIA+, que desagradou a mãe de uma aluna. O texto do exercício falava sobre o Orgulho LGBTQ, celebrado no mês de junho. Essa mãe acionou o vereador, que foi até a escola. 

"O vereador Gilvan, mais um homem e a mãe de uma aluna estavam me aguardando na recepção da escola. Ele me abordou e perguntou se eu era a professora de inglês Rafaella. Falei que sim e ele falou que queria falar comigo. Eu pedi que ele procurasse a pedagogia e entrei na sala dos professores. Quando saí, ele veio de novo querendo falar comigo, dizendo que era rapidinho. Ele ultrapassou o portão da escola, que é delimitado para o acesso de pais e responsáveis. Ele continuou insistindo e mudou o tom, falando que ia tomar providências em relação a mim por conta daquela atividade, que eu não poderia fazer com os alunos", disse Rafaella, em entrevista a TV Tribuna/SBT.

A professora registrou um boletim de ocorrência online contra o vereador ao descobrir a circulação de um áudio, no qual o vereador se identifica e diz que iria até a escola para "acuar" Rafaella. 

Em defesa da profissional, os alunos e pais realizaram um protesto na noite de segunda-feira (21), na frente da escola. Em seguida, eles caminharam pelas ruas do bairro demonstrando apoio à Rafaella. 

"A importância desse tipo de tema dentro da sala de aula é que essas pessoas existem na sociedade e nas escolas. O que o vereador Gilvan faz, além de um ataque a mim e aos profissionais de educação, foi também um ataque à existência dessas pessoas", afirmou a professora.

Em entrevista a TV Tribuna/SBT, o vereador explicou o motivo da ida até a unidade de ensino.

"A professora de inglês exigiu. em um trabalho sobre movimento LGBT. que se falasse bem. Quem falasse mal, perderia os pontos. Essa adolescente se sentiu acuada e a mãe pediu socorro. Fui até a escola a pedido da mãe, entramos na escola numa boa, a pedagoga e a coordenadora conversaram com a gente numa boa e foi tudo numa boa", afirmou ele. 

SEDU ACIONA O MINISTÉRIO PÚBLICO

Em nota, a Sedu informou que o caso será encaminhado ao Ministério Público. "A Sedu informa que acompanha o caso e que tomará as medidas cabíveis junto ao Ministério Público diante à possível configuração de ameaça contra a professora".

O secretário de Estado da Educação, Vitor de Angelo, postou no Twitter mensagem sobre o caso e afirmou que repudia a atitude do vereador: "Manifestamos nossa solidariedade à professora da rede estadual intimidada no exercício do seu trabalho, e repudiamos qualquer atitude dessa natureza. Acionamos o MP para apurar as ameaças atribuídas ao vereador Gilvan da Federal contra nossa servidora".

Procurado, o Ministério Público do Estado informou que não consta na Ouvidoria-Geral do MPES nenhuma manifestação referente ao assunto em questão. A investigação será feita pela Comissão de Direito à Diversidade Sexual.

"Tão logo a Comissão seja acionada, adotará as medidas cabíveis e previstas em lei", informou. 

A reportagem também procurou a Câmara de Vereadores de Vitória, que até a tarde desta terça (22), não recebeu nenhuma denúncia sobre o ocorrido. "Caso receba, irá apurar os fatos", disse.

O Corregedor da Câmara, vereador Anderson Goggi (PTB), também foi procurado. A assessoria informou que, até o momento, nenhuma representação foi protocolada.

OUTRO LADO

Na segunda-feira (21), a assessoria do vereador Gilvan da Federal foi procurada e encaminhou uma nota. No texto, diz que "há murmúrios de um movimento de militantes esquerdistas, que buscam se promover sob argumentos deturpados e discursos desequilibrados contra a minha honra".

O parlamentar completa declarando que "indepedentemente de difamações, notas de repúdio e ataques a minha pessoa, continuarei firme na defesa da Lei, da Ordem e dos valores da família e da pátria".

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