Doceiras fazem sucesso na pandemia e ganham milhares de fãs

| 26/11/2020, 16:00 16:00 h | Atualizado em 26/11/2020, 17:32

A pandemia teve um efeito dominó, derrubando vários negócios. Mas, para alguns segmentos, ela aumentou vendas, transformou pequenos empreendedores em empresários e multiplicou o número de clientes.

Um dos ramos que passou por isso foi o de doces e confeitaria. O talento para preparar as delícias fez com que algumas doceiras conquistassem até mesmo a fama em vídeos divulgados na internet.

É o caso da administradora Silvia Magda Melo, 38 anos. Ela trabalhava numa multinacional em Vitória. A empresa fechou a filial, e ela, desempregada, descobriu que seu marido estava com câncer.

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“Ele começou a fazer tratamento, e a gente estava com dificuldade financeira. Uma amiga sugeriu que eu fizesse bolo de pote. No início as pessoas compravam para me ajudar. O recheio não chegava nem perto do padrão de hoje”, admitiu.

Fazer bolo servia como uma válvula de escape para ela, que foi se aperfeiçoando. Interagia com confeiteiras, trocando receitas e informações; e fazia cursos na área.

Seu marido passou pelo tratamento e está bem. Hoje eles trabalham com delivery de doces, e neste ano passaram a dar cursos online, conquistando até fãs pela internet. Ela conta com a apoio da equipe formada por Ana Paula Lovatto, Camila Gramelick e Silas Cavalcanti para produzir os vídeos.

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/prod/2020-11/0x0/doceira-971d127a54f1da6bb39bcb9460f84d81/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fprod%2F2020-11%2Fdoceira-971d127a54f1da6bb39bcb9460f84d81.jpeg%3Fxid%3D152095&xid=152095 600w, Caroline e o marido, Rafael, mostram delícias que são sua especialidade
Já Caroline Campos conseguiu 8 mil novos clientes só durante a pandemia. Além disso abriu uma nova loja e está ampliando a fábrica. Ela trabalha com um vasto cardápio e contou como começou:

“Minha irmã sofreu um acidente de carro e morreu. Minha sobrinha ficou em coma por três meses e depois começou a reabilitação. Como ela precisava de cuidados, saí do emprego para ajudar a minha mãe a tomar conta dela.”

Desempregada, ela começou a fazer bombons para o marido, Rafael Dantas Faroni, 31 anos, vender no trabalho dele.

“Ele me deu um dinheiro e comecei. Vendi R$ 40 mil. Fazia tudo artesanal, botava aliança dentro, pedido de namoro. Vinha gente de tudo quanto é lugar do Estado comprar, dava fila.”

Ela então começou a fazer doces personalizados para festas infantis, abriu um food truck e, finalmente, sua doceria. Hoje tem duas lojas, emprega 19 profissionais e planeja contratar mais 50. Seu faturamento anual chega a R$ 1 milhão:

“Não dá para comparar este ano com 2019. Estava todo mundo em casa querendo doces.” O marido pediu demissão para se dedicar ao negócio.

Procura por prazer e satisfação

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O isolamento social devido à pandemia e a incerteza sobre o futuro aumentou a ansiedade dos consumidores. Paralelamente ouve um aumento significativo no consumo de doces.

Levantamento do Grupo Pão de Açúcar mostrou aumento de 96% no consumo de doces e sobremesas, entre março e junho, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Para a psicóloga Savya Barbosa Cerqueira Knup, o consumo de doces representa uma tentativa de alívio para ansiedade e uma forma de proporcionar prazer.

A nutricionista Fernanda Pignaton lembrou que alguns chocolates liberam endorfina (hormônio). Além disso, o açúcar é viciante, causando uma dependência ao seu consumo. Enfatizou ainda que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece que o consumo seja de no máximo 50g por dia, mas o recomendado é que não exceda 25g/dia.

“O açúcar provoca poços de insulina e acúmulo de gordura localizada. É muito inflamatório e a longo prazo o consumo desordenado pode levar a resistência à insulina e ao Diabetes tipo II”.

Mudança após sonho com irmã que morreu em acidente
Às vezes um sonho pode estimular uma mudança de vida. Foi o caso da confeiteira Caroline Campos. Após um sonho, ela decidiu se dedicar, com ajuda do marido, Rafael Dantas Faroni, à produção de doces.

“Sonhei que era Páscoa. Estávamos na casa da minha avó e minha irmã morta estava sentada, olhando a gente se divertindo. Até que tocou a campainha”, revelou.

Ela contou que, no sonho, foi olhar da varanda para ver quem estava chamando, e falaram que era encomenda.

“Minha avó disse que podia subir. Era um caminhão com muitas caixas, começaram a empilhar. Desci para olhar o que era, e eram muitos ovos de Páscoa, e escrito: Caroline Campos”, narrou.

No sonho, ela perguntou à avó o que era e o que fazer com aquilo.

“Ela respondeu que eram ovos de Páscoa que ela havia ganhado para vender. Senti um toque nas costas, olhei para traz e era minha irmã. Ela estava com um ovo de Páscoa gigantesco. Falou que o melhor ela tinha guardado para mim”.

A psicóloga e analista biodinâmica Sandra Milessi explicou que os sonhos são manifestações do inconsciente. “Quando você faz uma análise profunda deles, encontra conhecimento e recurso para se autoconhecer e evoluir.”

Tempo para produzir bolos de pote na quarentena
Formada em Direito, Rafaela Morena Soares Freitas, 27 anos, trabalha no administrativo de uma agência de publicidade, mas também assume a cozinha fazendo bolos de pote para vender.

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“Às vezes não consigo atender às demandas porque são muitos pedidos”, salientou.

Ela explicou que sempre pensava em fazer, mas nunca tinha tempo, trabalhando e estudando.

“Acabou que, na quarentena, tirei férias e acabei fazendo no Dia dos Pais. Fiz para o meu pai e um pouco a mais para os meus tios e começou assim”.

Empreendedorismo: Delícias viram negócio com 91 novas empresas

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Um total de 992 microempreendedores individuias e microempresários trabalham no ramo do comércio varejista de doces, balas, bombons e semelhantes no Estado. Só este ano, 91 empresas foram abertas no setor, de acordo com dados do Sebrae.

Luiz Felipe Sardinha, gerente de competitividade e produtividade do órgão, calculou que o número representa pouco mais de 9% do total de empresas atuando neste segmento no Estado.

Segundo ele, com o aumento da procura por fontes alternativas de renda, muitas pessoas buscaram por mercados onde o grau de especialização e a necessidade de investimento são baixos.

“Além disso, os hábitos de consumo foram impactados e identificou-se uma tendência de os consumidores concentrarem as compras em itens de primeira necessidade”, observou.

Atentos a essa mudança, empreendedores têm apostado no nicho de doces por ser uma categoria que tem sido cada vez mais consumida no e-commerce.

“Eles têm buscado cada vez mais utilizar os canais e plataformas digitais de forma estratégica. Podemos dizer que o digital é uma via de mão dupla, onde de um lado há a oferta do produto e, por outro prisma, temos o cliente emitindo sinais, se manifestando nas redes sociais”.

Destacou ainda que “é fundamental que os empreendedores desenvolvam a capacidade de coletar esses dados e transformá-los em informação que os permitam ajustar a sua oferta e melhorar o seu negócio. É um ciclo vicioso onde ambas as partes saem ganhando”, ressaltou.

Cacau
No início do ano, a cotação do cacau caiu no mercado internacional, mas vem acontecendo uma recuperação. Paulo Roberto Gonçalves, presidente do Sindicacau e integrante da Câmara de Alimentos da Federação das Indústrias do Estado (Findes) explicou que “o chocolate verdadeiro, com alto teor de massa de cacau traz benefícios para a saúde”.

A nutricionista Fernanda Pignaton explicou que são considerados com alto teor, aqueles com mais de 60% de cacau. Entre os benefícios, ela destacou que previne o envelhecimento precoce, é um ótimo anti-inflamatório, serve como pré-treino, previne doenças cardiovasculares e AVC, reduz o estresse e alivia dores.


SAIBA MAIS


Consumo cresceu 92% este ano

Fome de doce
Levantamento do Grupo Pão de Açúcar mostra que houve um aumento de 96% no consumo de doces e sobremesas, entre março e junho, na comparação com o mesmo período do ano passado.
A Nestlé observou um aumento de 50% na comercialização de leite condensado desde o início da quarentena, Com base nas vendas online de supermercados.
Segundo especialistas, o consumo aumentou durante a pandemia porque os consumidores ficaram mais em casa, durante a quarentena, e também foram tomados pela ansiedade.
Números no Estado
Um total de 992 microempreendedores individuias e microempresários trabalham no ramo do comércio varejista de doces, balas, bombons e semelhantes no Espírito Santo.
Somente este ano, 91 empresas foram abertas no setor, de acordo com dados do Sebrae.
Fonte: Pessoas e entidades citadas.

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