Viúva que mobilizou Cuiabá após morte de marido foi a mandante do crime, diz polícia
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Uma mulher que passou um ano pedindo justiça pelo assassinato do marido em Cuiabá (MT) agora é apontada pelas autoridades como a mandante do crime e está presa.
A suspeita é a vendedora Ana Claudia de Souza Oliveira Flor, 34, denunciada pelo Ministério Público de Mato Grosso por homicídio qualificado - segundo a investigação, a morte foi combinada pelo WhatsApp. Caso a denúncia seja aceita pela Justiça, ela pode ir a júri popular.
Depois do crime, Ana Claudia continuou frequentando normalmente a casa de familiares do marido, o empresário do setor de alimentos Toni da Silva Flor, 38. Os dois estavam casados havia 15 anos e têm três filhas.
Toni foi atingido por quatro tiros em 11 de agosto de 2020 quando chegava por volta das 7h à academia que frequentava na capital de Mato Grosso. Ele chegou a ser levado para um hospital e a passar por cirurgias, mas morreu no dia seguinte.
Após a morte, Ana Claudia mandou fazer camisetas estampadas com a foto do marido e a palavra "Justiça", além de organizar carreatas e protestos pela cidade cobrando o andamento das investigações.
As apurações apontaram, no entanto, que a própria vendedora é que procurou e contratou um pistoleiro para assassinar o marido. O autor dos disparos, conforme a denúncia, foi Igor Espinosa, 25, que teria recebido R$ 20 mil pelo serviço -ele também está preso. Segundo a polícia, ele usou esse dinheiro para passar cerca de dois meses no Rio de Janeiro após o crime.
Toni era um empresário bem sucedido em Cuiabá, responsável pelo abastecimento de diversos supermercados da cidade.
A denúncia do Ministério Público afirma que o casamento vinha se deteriorando por causa de relacionamentos extraconjugais de Ana Claudia, e que Toni teria dito à mulher que pretendia se separar dela.
"Inconformada com a anunciada separação e, com a torpe motivação de se apropriar da totalidade dos bens do casal, Ana Claudia começou a engendrar um plano para extinguir a vida de Toni (...)", afirma na denúncia o promotor Samuel Frungilo, responsável pelo caso.
A mãe de Toni, Leonice Flor, 68, afirmou à reportagem que um dia antes de ser morto, seu filho disse que iria de fato se separar da mulher. "Ele me disse que ela estava muito violenta, e que chegou a machucá-lo no braço", contou.
Segundo ela, Ana Claudia foi diversas vezes a sua casa depois do assassinato do filho. "Ela chegava aqui e eu estava chorando. Ela chorava também e dizia que tudo isso ia passar. Eu falava que não, que a morte de um filho não passa. É uma mulher fria e calculista".
Leonice disse ainda que quer que as três filhas do casal passem a viver com ela -elas atualmente estão na casa da mãe de Ana Claudia. "Toni era um filho muito bom. Às vezes, quando eu estava deprimida, me colocava no carro enquanto fazia suas vendas. 'Eu vou vendendo e a senhora vai passeando', dizia ele", afirmou.
Para chegar à conclusão de que a mulher encomendou a morte do marido, a polícia primeiro prendeu Igor, o suspeito de ter efetuado os disparos, no último dia 10 de agosto após uma denúncia anônima.
O delegado responsável pelas investigações, Marcel Gomes de Oliveira, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa em Cuiabá, disse que Igor já cumpriu pena por tráfico de drogas.
Ainda segundo ele, o suspeito teria deixado a penitenciária há dois anos, mas continuava usando tornozeleira eletrônica. Doze dias antes do crime, porém, ele teria quebrado o aparelho.
A Polícia Civil afirmou que já desconfiava da participação de Ana Claudia no crime, mas que a certeza só veio após a prisão de Igor, quando ele a apontou como mandante. Com isso, a mulher foi presa no dia 19 de agosto.
As investigações indicaram ainda o envolvimento de outras quatro pessoas que teriam ajudado a vendedora a localizar Igor e contratá-lo -uma delas trabalhava no salão de beleza frequentado por Ana Claudia.
Segundo o delegado, essas quatro pessoas teriam recebido juntas R$ 60 mil para intermediar o acerto com o atirador, tudo negociado por mensagens de WhatsApp.
O advogado de Ana Claudia, Jorge Henrique Franco Godoy, disse que sua cliente conhece a funcionária do salão de beleza, mas que nunca teve contato com nenhum dos outros suspeitos de participação no crime. A reportagem não conseguiu contato a defesa de Igor.
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