Financiamento estudantil: treze mil jovens estão endividados
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Aprender uma profissão é o sonho de muitas pessoas que, para realizá-lo, recorrem ao Financiamento Estudantil (Fies) do Ministério da Educação (MEC). Porém, o sonho para muitos recém-formados virou pesadelo. No Estado, 13.657 capixabas não conseguem quitar a dívida com o programa. No Brasil, são cerca de 1 milhão nessa situação.
Essas pessoas estão com as parcelas atrasadas há pelo menos 90 dias depois do período de carência do programa – contado após 18 meses da formatura, e não conseguem negociar a dívida.
“Esse é um período de incerteza que ocasionou muita insegurança e impulsionou ainda mais o endividamento”, afirmou a professora de Economia da Universidade de Vila Velha (VV), Ana Maria Zen.
Como consequência disso, fica mais difícil conseguir espaço no mercado de trabalho e pagar a dívida, que aumenta progressivamente, de acordo com ela.
Apesar disso, a professora reforça a importância do programa para o aluno que está em busca de qualificar-se e a necessidade de renegociação da dívida.
“Se existe dificuldade na negociação da dívida, isso reduz o número de alunos nas faculdades e o faturamento dessas instituições caem de forma significativa, toda a economia sofre”, explica.
“Muitas vezes o sonho do ensino superior se torna um pesadelo”, explica o sociólogo e mestrando em política social Guilherme Cogo. Segundo ele, o endividamento dos alunos do Fies também é consequência do desemprego e da pandemia.
“Em julho de 2020, o Fies sofreu o maior impacto de inadimplência da história com 54,3% dos contratos atrasados naquele mês”. Atualmente, esse número é de 50%, segundo o Ministério da Educação.
Para solucionar de vez o endividamento, Guilherme acredita que o governo federal deveria abrir a renegociação da dívida das pessoas com parcela em atraso, assim como suspender a cobrança do valor e dos juros durante a pandemia. “Isso porque o impacto na economia e na vida das pessoas foi enorme”, defende.
“Pensei que não conseguiria pagar”
Uma publicitária, de 22 anos, que não quis se identificar, moradora de Cariacica, não tinha condições de pagar uma graduação em 2017. Ela então recorreu ao Financiamento Estudantil (Fies). Hoje, ainda no período de carência do programa, acumula três meses de atraso.
“Cheguei a pensar que não conseguiria pagar a dívida porque não estava conseguindo nenhum serviço”, contou.
Em julho, ela finalmente conseguiu um trabalho e agora pretende colocar em dia o pagamento.
A estudante se formou em dezembro de 2020, com o subsídio de 66% do curso. Após isso, ela e o pai ficaram desempregados, mas, apesar do débito, ela não se arrependeu da escolha. “Antes da pandemia eu não atrasava nenhum boleto”.
Auxílio-estudantil na Ufes
A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) anunciou a ampliação do Programa de Assistência Estudantil (Proaes-Ufes). Está previsto um aumento de quase 50% no número de alunos beneficiados, que atualmente são 5 mil, segundo o reitor Paulo Vargas.
A inclusão de novos alunos no programa ocorrerá ainda neste semestre. Para isso, uma das ações será a inclusão efetiva de estudantes que estão na lista de espera, no programa de assistência.
Assim, entre 1.000 a 1.100 alunos passarão a receber o benefício a partir do mês que vem, de acordo com o reitor. O valor varia de R$ 50 a R$ 350.
Por outro lado, um edital para abertura de novas vagas será divulgado na próxima semana. “Essa decisão é voltada para os estudantes que ingressaram na universidade mas ainda não tinham acesso à assistência estudantil. A previsão é a abertura de 1.200 a 1.300 vagas”, conta Paulo.
Segundo ele, o aumento no número foi pensado para amenizar as dificuldades que alunos em vulnerabilidade social, com renda familiar inferior a um salário mínimo e meio, enfrentam durante a pandemia.
Ele explicou a importância da ação sobretudo em um possível retorno de aulas presenciais, que será votado no dia 30 deste mês. “Esse programa é fundamental para que eles possam permanecer na Ufes e continuar as suas graduações”.
Saiba mais
O Fies
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É o programa de Financiamento Estudantil do Ministério da Educação, do governo federal.
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O objetivo é possibilitar o financiamento de cursos de graduação para estudantes.
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O programa tem diferentes modalidades e financiamentos diversificados, de acordo com o perfil econômico do estudante.
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O financiamento não pode mais ser de 100% do valor do curso.
Como funciona
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O estudante pagará, a cada três meses, os juros do financiamento, nas fases de utilização (período de realização do curso) e carência (até 18 meses depois da formatura).
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O valor máximo das parcelas pode ser de R$ 150.
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Depois da fase de carência, tem início a amortização: o estudante começa a pagar o saldo devedor, que será parcelado em até três vezes o período financiado da duração do curso.
Fonte: Especialistas e pesquisa A Tribuna.
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