Volta às aulas vai exigir mais tempo e dedicação dos pais
A redução nos números de casos e mortes pelo novo coronavírus (Covid-19) no Estado tem feito com que algumas rotinas realizadas antes da pandemia sejam retomadas. Comércio, academias, restaurantes e parques têm voltado, aos poucos, com suas atividades, ainda que com restrições.
Assim como os demais, apesar de não ter ainda uma data definida, o retorno às aulas presenciais também deve acontecer em alguns meses e vai exigir mais tempo e dedicação dos pais na criação dos filhos, segundo especialistas.
Isso ocorrerá porque uma nova rotina terá de ser adotada, já que muitas escolas planejam um ensino híbrido, com aulas online e em casa. Flexibilidade, diálogo constante, acompanhamento e adaptação serão alguns dos desafios que os pais terão de ter no recomeço.
A psicóloga Nanda Perim destaca que vai ser preciso ainda mais paciência para lidar com a nova rotina dos filhos.
“Essa volta vai demandar um tempo de elaboração. Tudo isso vai precisar de um tempo de transição e adaptação. Os pais precisam ser informados sobre como fazer esse processo, caso contrário, as crianças vão sofrer muito”.
A doutora em Educação Edna Tavares reforça que o diálogo deverá ser constante entre pais e filhos. “A família terá que dialogar frequentemente, pois a saúde emocional, seja dos adultos ou das crianças, está abalada”, disse.
“Os pais deverão demonstrar segurança nas ações e precisarão ser mais flexíveis em alguns momentos, já que a pandemia impôs uma mudança drástica na rotina diária. Não será num passe de mágica que tudo retornará ao normal”.
Especialistas ressaltam ainda que os pais devem dar total apoio aos filhos, sem que isso gere um estresse familiar.
“O melhor caminho para as famílias é tentar lidar com isso sem muita ansiedade. É preciso entender que será um processo de retomada, recuperação e que o seu apoio às crianças será vital”, afirmou a gerente pedagógica da Nova Escola, Ana Ligia Scachetti.
Presença constante faz parte das ações que os pais vão ter de adotar, segundo afirmou a coordenadora de Implementação Municipal do Itaú Social, Sonia Dias. “O papel dos pais não será apenas de dedicação ao acompanhamento escolar, mas também de suporte emocional”.
Ajuda nas atividades escolares
Preocupados com a educação dos filhos Lucas, de 16 anos, e Pedro, de 10, a dona de casa Daniela de Oliveira, 42, e o recepcionista de hotel Marcos César Oliveira, 47, acreditam que precisarão ter ainda mais dedicação quando as aulas presenciais voltarem.
“As aulas estão ocorrendo pela televisão e com material impresso. Mesmo assim, eu sinto que eles estão tendo dificuldades. Teremos de ajudar ainda mais com as atividades”, prevê Daniela.
Cuidado redobrado
Caso as escolas adotem aulas online e presenciais, a empresária Patrícia Volkers, 34, afirma que terá de reorganizar a rotina, para poder auxiliar os filhos Maria Clara, de 10 anos, e João Henrique, de 5.
“Estudando em casa, as crianças exigem mais de nós, pois na escola elas são assistidas por toda a equipe. Em casa, nós fazemos parte desse processo. Não é uma tarefa simples. Além de que, o rigor na vigilância com a higiene, mesmo que ela já exista, deverá ser redobrado”.
SAIBA MAIS
O que vai mudar para os pais
Controle emocional
- Os responsáveis pelas crianças precisarão estar atentos às necessidades, limitações e expressões emocionais delas, bem como com as suas próprias.
- Algumas crianças e adolescentes podem demonstrar euforia, ansiedade e agitação com o retorno às aulas. Outras podem manifestar medo, preocupação ou tristeza.
- Os pais devem se empenhar para transmitir tranquilidade e segurança aos filhos. As famílias que não se sentirem emocionalmente preparadas para esse retorno, devem buscar ajuda com a equipe escolar.
Diálogo
- A conversa franca e honesta, com diálogo apropriado para cada idade, pode ser uma saída nesse momento de volta às aulas presenciais.
- Mais do que uma imposição de limites e disciplinas, o diálogo será fundamental.
Adaptação
- Nas primeiras semanas de aula, os pais devem estar mais atentos e disponíveis, física e emocionalmente. Com a mudança no ensino, podendo ocorrer de forma híbrida (em um dia, a criança pode estar na escola e em outro, estudando em casa), pode ser necessário pedir uma flexibilização no horário no trabalho.
- Pode ser preciso ainda contar com a ajuda de uma rede de apoio (avós, parentes, amigos), além de manter o telefone ligado e ter de acumular algumas demandas. Será preciso paciência para lidar com a rotina.
Organização
- Quando as aulas presenciais voltarem, será preciso organizar as tarefas. Especialistas recomendam que, em um domingo, por exemplo, os pais sentem e organizem os horários e as atividades que as crianças terão de realizar, tendo por base se as aulas serão presenciais ou remotas, naquela semana. Dessa forma os pais poderão se programar, de acordo com as aulas dos filhos.
Rotina
- O esquema de aula semipresencial colocará as famílias em uma situação atípica. Haverá semanas em que os filhos estarão em aula presencial, e outras em que estarão em casa, com aulas remotas.
- Famílias com dois ou mais filhos terão de organizar, junto com a escola, para que essas semanas, de presença física no espaço, possam coincidir, facilitando a rotina da casa. Quanto mais filhos, mais complicada será a logística.
- As atividades de contraturno, como natação, balé, judô e música, também podem não voltar de imediato, o que fará com que a rotina “normal” demore ainda mais para ser reconstruída. Será preciso definir o adulto que leva e que busca, e quem fica em casa acompanhando as aulas.
Relacionamento
- Com a nova rotina, especialistas ressaltam que as crianças e os pais precisarão dedicar um tempo para si e para suas relações.
- Deve-se investir em uma relação onde há equilíbrio e qualidade dos momentos juntos, onde se pode errar e falar sobre o que se sente. Os pais devem estar próximos, respeitando a autonomia das crianças.
Divisão
- Com o retorno das aulas, será preciso compartilhar ainda mais as tarefas da casa.
- É preciso que toda a família divida as tarefas, levando em conta a forma como cada um pode contribuir. Se tudo o que o filho pequeno puder fazer for arrumar a própria cama, já está valendo.
Fonte: Especialistas entrevistadas.
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