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Tribuna Livre

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Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

Você sabe com quem está falando?

| 25/07/2020, 09:31 09:31 h | Atualizado em 25/07/2020, 09:35

No início de julho, matéria jornalística exibiu vídeo no qual uma mulher humilhava um fiscal responsável por conferir o cumprimento das normas contra a Covid-19, num bar do Rio de Janeiro. Ao ser chamado de cidadão pelo fiscal, que cumpria seu dever, a esposa do indivíduo vociferou: “Cidadão não, engenheiro civil, formado, melhor que você”. O comportamento da mulher foi condenado pela empresa em que ela trabalhava, gerando sua demissão.

Na última semana, fato semelhante aconteceu em São Paulo. Um desembargador caminhava pela faixa de areia do litoral santista sem utilizar máscara (conforme determina as normas do município) quando foi abordado pela fiscalização.

Após ser alertado pelo guarda municipal da irregularidade, o magistrado, além de se recusar a cumprir a norma municipal, telefonou para o secretário de segurança para demonstrar sua influência e, portanto, o motivo pelo qual ele estaria acima das normas.

Não satisfeito, rasgou e jogou ao chão a multa que lhe foi aplicada. Ao telefone, o desembargador explicou ao seu interlocutor que o guarda municipal responsável pela abordagem era um analfabeto, que não entendia o que ele estava explicando.

Situações desse tipo não são novas na vida do desembargador. Em outro vídeo disponível na internet, o mesmo servidor público demonstra toda sua superioridade falando em francês com guardas municipais que lhe orientam a caminhar fora da ciclovia.

Para demonstrar seu poder, apresenta a um dos servidores seu celular com diversos contatos de oficiais da Polícia Militar e diz que seu irmão é o procurador de Justiça que atua nos chamados IPMs (inquéritos policiais militares).

Em nota, a Prefeitura de Santos apoiou a postura do guarda. O Tribunal de Justiça informou que um procedimento interno foi instaurado para apurar os fatos. Em manifestação à imprensa, o ministro do STF, Marco Aurélio, afirmou que o desembargador deve ser punido e acrescentou que o comportamento inadequado do magistrado não prejudicou apenas os guardas municipais de Santos, mas todos os servidores do Judiciário.

Na visão do antropólogo Roberto DaMatta, a “carteirada” é o sintoma de uma cultura que tem aversão ao igualitarismo. Ainda percebemos, de forma muito forte, resquícios do coronelismo que acaba por confundir o público e o privado em nosso País.

Se por um lado, lamentamos ter que conviver com reações e condutas como as que foram narradas aqui, por outro, temos motivos para acreditar que a sociedade está mais intolerante a esses comportamentos. Já não há, atualmente, espaço para o coronelismo, para o jeitinho e a carteirada. Ou nós, servidores públicos, de todos os poderes, passamos a compreender os limites e a natureza dos nossos cargos, ou viveremos presos a um Brasil feudal, que luta, no entanto, para superar os desafios impostos pelo século XXI.

EUGÊNIO RICAS é delegado federal, adido da Polícia Federal nos EUA e mestre em Gestão Pública pela Ufes

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