Vírus e pânico trazem desafio para a economia mundial
Parece que o estado de saúde da economia mundial, por conta do surto pandêmico do Covid-19 (coronavírus) e da recente guerra de preços dos sauditas contra os russos, é extremamente grave.
O surto, que se iniciou na China, reduziu, simultaneamente, a demanda mundial de commodities e a oferta de produtos chineses no mercado internacional, afetando, em um primeiro momento, o fluxo global de mercadorias (commodities, componentes eletrônicos e produtos manufaturados).
E, em um segundo momento, com exportação do Covid-19 para outros países, o fluxo de pessoas reduziu-se fortemente, atingindo a indústria do turismo (companhias aéreas, hotéis, restaurantes, museus, teatros, transfers etc).
Recentemente, o fracasso da negociação, realizada em Viena, entre Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e a Rússia, para reduzir a oferta mundial de petróleo, levou os sauditas a promoverem uma forte queda no preço do petróleo, derrubando os preços das ações nas bolsas e gerando um pânico mundial.
Ainda não há um diagnóstico sobre a saúde econômica mundial e como os mercados irão se comportar nos próximos dias, embora o Fundo Monetário Internacional (FMI) já tenha alertado sobre o risco de uma recessão.
No Brasil, os impactos foram sentidos nos preços das commodities, cujo principal mercado é a China, reduzindo as expectativas de receitas cambiais e acelerando a desvalorização do real frente o dólar.
No mercado de ações, a queda de braço entre sauditas e russos criou pânico no mercado, deprimindo fortemente a cotação da Petrobras, ativando, só nesta semana, quatro vezes o Circuit Breaker.
O presidente Jair Bolsonaro insinuou que a crise é uma fantasia e o ministro da Economia, Paulo Guedes, sinalizou que a economia brasileira está vacinada e preparada para enfrentar a sua primeira crise global.
Será um bom teste para a equipe econômica mostrar que conhece outras formas de estimular o crescimento econômico, a geração de empregos e renda sem depender, exclusivamente, das milagrosas reformas.
Neste momento, a economia mundial encontra-se diante de um grande desafio e controlar o surto do Covid-19 é a condição sine qua non para estancar a crise mundial e permitir que pessoas, produtos e serviços voltem a circular livremente pelo mundo.
O sistema capitalista, que ao longo da sua existência já passou por diversas crises, com destaque para a Grande Depressão de 1929, precisa de uma ação rápida dos bancos centrais dos países desenvolvidos e de todos os governos dos países infectados.
Isto torna-se necessário para pôr em prática políticas macroeconômicas anticíclicas e articuladas com a Organização Mundial de Saúde (OMS) para evitar que o Covid-19 sofra uma nova mutação e se transforme em Covid-1929.
Luís Frechiani é mestre em Economia e professor.