Vasco vai encarar uma Série B amarga pela frente
Uma queda anunciada e um retorno incerto. Assim ficou o pensamento do torcedor do Vasco após se concretizar seu o quarto rebaixamento. Agora o time se junta ao rival Botafogo na próxima Série B de 2021.
O descenso, que ficou praticamente sacramentada no empate em 0 a 0 com o Corinthians na penúltima rodada, foi consumado na última quinta-feira contra o Goiás, quando o time precisava tirar uma diferença de 12 gols para se manter na elite. O placar de 3 a 2 obviamente não foi suficiente.
O cruz-maltino já havia sido rebaixado em 2008, 2013 e 2015. Em todas as vezes, conseguiu subir de volta já no ano seguinte: campeão da Segundona em 2009 e terceiro em 2014 e 2016. Mas, agora, a disputa promete ser acirrada, na competição que começa no dia 29 de maio e termina em 27 de novembro.
A próxima temporada da divisão de acesso terá o recorde de cinco campeões da Série A: Vasco, Botafogo, Cruzeiro, Coritiba e Guarani. Também estarão na Segundona times que costumam frequentar a elite, como Avaí, Náutico, Ponte Preta, Remo, Vitória/BA e Goiás.
Para o ex-zagueiro e ídolo Mauro Galvão, a troca constante de treinadores foi um dos pontos que levaram o clube ao quarto rebaixamento. “Não conseguem segurar o Luxemburgo, depois vem Abel, Ramon, depois vem o Sá Pinto… Uma coisa é um português chegar ao Flamengo e ao Palmeiras, com grupo forte”.
Já o ex-zagueiro capixaba Thiago Martinelli, com passagem por Vasco em 2010 e que disputou a Série B por Paulista e São Caetano, acredita que o clube terá dificuldades para conquistar o acesso.
“A Série B está cheia de times que disputavam a Série A. A competitividade é a mesma. E tem um fator que torna a torna mais difícil, que são as viagens mais longas, pois tem times de todos os lugares do Pais”, diz Martinelli
O capixaba, que vestiu a camisa do Cruzeiro entre 2007 e 2008, pega o exemplo da Raposa como alerta para o Vasco. O time mineiro ficou em 11º lugar e não conseguiu o acesso.
“O Cruzeiro foi uma prova de como disputar a Série B é complicada para time que não faz um trabalho bem-feito. Tem que ficar esperto. Sem preparação adequada acaba não subindo. E time que fica muito tempo longe das grandes competições perde torcedor. Hoje a garotada prefere torcer para Flamengo, Palmeiras, times em evidencia”.
De potência à decadência
Caos financeiro, inferioridade perante rivais estaduais, perda de relevância nacional, participação quase nula em competições continentais. De potência na virada do século, com o título da Libertadores em 1999 e Brasileiro em 2000, o Vasco assumiu papel de coadjuvante nos últimos duas décadas.
Tetracampeão brasileiro, e agora rebaixado pelo mesmo número de vezes que levantou a taça, o Vasco igualou na noite da última quinta-feira o recorde negativo, junto a Avaí, Vitória e Coritiba, como os clubes mais vezes caíram para a Série B.
O último título do Vasco no Brasileirão foi conquistado em 2000. A equipe ainda não levantou a taça na era dos pontos corridos. O melhor desempenho nesse formato, iniciado em 2003, foi em 2011, quando o cruz-maltino terminou na vice-liderança e viu o Corinthians se tornar campeão.
Este é o quarto descenso em menos de 15 anos. O time havia sido rebaixado em 2008, 2013 e 2015. Retrospecto que em nada lembra o esquadrão que entre 1997 e 2000 empilhou taças em São Januário: Estadual, Rio-São Paulo, dois Brasileiros, Libertadores e Mercosul.
O tetracampeão Bebeto, campeão brasileiro pelo Vasco em 1989, lamentou a situação dramática do clube. “Triste chegar na última rodada precisando tirar 12 gols… Era impossível. Meu filho Roberto é vascaíno e está muito triste. Eu fico também. Tive a felicidade de jogar lá e ser campeão”.
Quem vai e quem fica no Vasco
A reformulação do elenco do Vasco para a nova temporada, visando a Série B, está no planejamento. A dificuldade, porém, mora na crise financeira do clube e nos contratos a longo prazo com a maioria dos jogadores.
Dos 31 atletas do grupo profissional, apenas seis têm contrato por vencer. Pela lei, caso um clube decida rescindir o contrato antes do término, terá de pagar integralmente os salários que o atleta teria direito até o fim do acordo. A alternativa é negociar venda ou empréstimo.
O contrato do lateral Henrique termina em agosto, e o clube já tenta renovação. Os outros cinco são empréstimos que terminam nos próximos meses. O lateral Neto Borges, o volante Léo Gil e o meia Benítez não devem permanecer. Já o zagueiro Marcelo Alves e o atacante Ygor Catatau, vindos do Madureira, têm negociação mais fácil e podem ficar.
Com a expectativa de queda de receita na ordem dos R$ 100 milhões e os três meses de salários atrasados – dezembro, janeiro e o 13º – qualquer reformulação esbara nos cofres fragilizados do clube.
Ídolo vascaíno, Mauro Galvão não poupou críticas à diretoria pelos erros de planejamento ao logo da temporada. O ex-zagueiro, campeão estadual, brasileiro, da Mercosul e da Libertadores com a camisa cruz-maltina, questionou a qualidade do elenco montado.
“O Vasco tem jogadores médios. Antes de contratar precisa ver aonde jogou, o que ganhou. Tem que trazer jogadores do nível do Vasco. Não dá para trazer qualquer um. Jogador tem que ter histórico”.
Análise
“Tem que trabalhar a base”
Donizete Pantera
Campeão da Libertadores pelo Vasco e Brasileiro pelo Botafogo
"Ver o Vasco nessa situação é muito difícil para nós que trabalhamos e gostamos do clube e para o torcedor que ama essa camisa. Pela sua história, pela quantidade de jogadores revelados no clube e que foram para a Seleção Brasileira, é muito vergonhoso tudo isso.
A culpa de Vasco e Botafogo estarem nessa enfrentando essa situação é dos dirigentes. Esses times têm camisa e torcida, só falta organização.
Quem movimenta o dinheiro no clube tem que avaliar as contratações com mais carinho. Os jogadores que tem sido contratados não estão a altura do clube. Tem que trabalhar a base, que é o coração do time, para tirar o clube do buraco.
Era melhor ter deixado o Vanderlei Luxemburgo no comando, fazer um projeto a longo prazo. Ele tem experiência, conhece os jogadores e a malandragem do futebol. Para o Vasco voltar a ser poderoso, tem que ter um treinador poderoso.
Tem que colocar os garotos da base para jogar, trazer uns dois ou três mais experientes e aproveitar os mais rodados que lá estão".
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