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Doutor João Responde

Doutor João Responde

Colunista

Dr. João Evangelista

Tenho medo de infartar de novo

| 03/03/2020, 07:35 07:35 h | Atualizado em 03/03/2020, 07:36

Vítimas de infarto costumam temer o retorno da doença. É comum esse tipo de paciente confundir seus sintomas, acreditando que dores e desconfortos sejam sinais de um novo ataque cardíaco.

Atendi um desses casos, no ambulatório, durante a semana. Pelo seu semblante, notei que aquele senhor trazia um diagnóstico pronto, antes mesmo de ser examinado: “Acho que estou tendo um novo ataque cardíaco”, dizia ele.

Solicitei que deitasse na maca e fosse descrevendo aquilo que estava sentindo, enquanto eu tomava sua pressão arterial, verificava o pulso e escutava o coração. Ele disse que acordou de madrugada acometido por dor no peito, azia e sensação de vômito. Muito importante foi ter se lembrado de que a dor melhorou quando se levantou e bebeu água. Mesmo assim, ficou bastante preocupado e resolveu buscar socorro.

Aos poucos fui percebendo que o quadro daquele senhor estava mais para refluxo gastresofágico, doença que consiste no retorno do ácido clorídrico do estômago em direção ao esôfago, do que para infarto agudo do miocárdio. Tranquilizei o paciente e solicitei um eletrocardiograma e algumas enzimas cardíacas.

É curioso como alguns doentes reagem, melhorando os sintomas, quando recebem esclarecimentos sobre seus males. Minha tese foi confirmada quando os exames complementares se mostraram normais.

Direcionando o tratamento para o estômago do paciente, expliquei para ele que alguns sintomas num órgão podem simular doenças em outro órgão. Informei que a presença de ácido dentro do esôfago também irrita nervos encontrados no músculo cardíaco. Essa situação pode causar uma “dor torácica não cardíaca”, frequentemente diagnosticada pelo gastroenterologista.

“Pois é, doutor, desde que coloquei duas pontes de safena, me tornei meio hipocondríaco. Não posso sentir um ligeiro incômodo, uma pequena dor, uma discreta falta de ar, que logo me vem à mente um ataque cardíaco”.

Eu perguntei ao paciente qual era sua atividade antes de sofrer infarto. Ele disse que era empresário. Confessou que estava levando uma vida muito estressante.

Trabalhava até tarde da noite e vivia metido em negociações complexas, que geravam muita tensão emocional. Ansioso, o paciente fumava um cigarro após o outro, que desencadeou uma tosse crônica. Tentou parar de fumar, mas não conseguiu. Seus exames de colesterol, triglicerídeos e glicose alcançavam níveis preocupantes.

Lembrou-se que alguns parentes haviam morrido de doenças cardiovasculares. Apesar da presença desses sinais de alarme, nada mudou e ele infartou.

Eu perguntei: Como está sua vida hoje? De que forma o senhor tem colaborado para que esse drama não se repita? Sua pressão está controlada? Tem tirado férias? Quantos quilômetros o senhor tem caminhado por dia?

“Aprendi a lição. O medo foi meu conselheiro”, disse ele.

Que assim seja. O coração não é um músculo apenas. O coração também tem coração. Ou damos a ele a devida atenção, ou ele nos deita no caixão.

João Evangelista Teixeira Lima é clínico geral e gastroenterologista

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