Psiquiatria humanizada é respeito, dignidade e cidadania
A psiquiatria vem se transformando ao longo dos anos, mas ainda existem muitas ideias distorcidas sobre transtornos psíquicos e tratamentos, o que impede muitos de buscar ajuda. Mesmo que hoje tenhamos mais espaço para falar de saúde mental, medicações e internações ainda são temas desconfortáveis, tabus.
Isso torna esse diálogo extremamente necessário, principalmente na luta por uma prática mais humanizada.
Medicamentos são considerados por algumas pessoas itens compartilháveis (sem orientação adequada) ou mesmo viciantes. Internar um paciente em clínica psiquiátrica ainda é visto por muitos como decisão extrema.
Tudo isso se deve a inúmeros estigmas, e é até compreensível que exista mal-estar ao pensarmos no assunto, visto que tratamentos já foram associados a atos desumanos, cruéis e usados, em alguns momentos da História, como forma de exclusão social.
Exatamente por essas razões, a compreensão sobre transtornos psiquiátricos e seus sintomas, além das possibilidades de tratamentos, é fundamental. Compreender pode auxiliar na desconstrução de imagens equivocadas e distorcidas sobre o assunto.
A humanização se encontra em uma abordagem clara, honesta e multidisciplinar sobre a psiquiatria, assim como no tratamento digno daqueles que estão em sofrimento psíquico. Falar sobre saúde mental é fundamental para que haja uma separação do que é verdade e o que é mito (ou passado) sobre a realidade dos pacientes que precisam de internação e cuidados mais próximos.
Em alguns casos, quando o acompanhamento ambulatorial com um médico de confiança deixa de ser suficiente e o paciente apresenta riscos a si mesmo e aos outros de seu convívio, a internação é a melhor opção.
A quebra das barreiras dos preconceitos é fundamental para garantir o cuidado adequado, com respeito aos direitos e à individualidade do paciente, ao invés de excluí-lo e deixá-lo à margem da sociedade que o enxerga, muitas vezes, com lentes negativas.
As políticas públicas e campanhas sobre saúde mental visam conscientizar, informar e ajudar na elaboração de leis que contribuam para melhorar o atendimento desses pacientes, garantindo a todos a imprescindível manutenção de seus direitos sociais. Falar sobre saúde mental também é uma responsabilidade social. Ações como as da campanha capixaba Ame Sua Mente ajudam, e muito, nesse propósito.
Humanizar o tratamento psiquiátrico é acolher, para que o paciente possa, o quanto antes, recuperar seu bem-estar e retomar sua rotina diária, no convívio social, de maneira saudável, sem maiores prejuízos. Mesmo em casos de internação involuntária ou compulsória, o acolhimento do paciente e dos familiares fará toda a diferença.
É preciso orientar, esclarecer dúvidas, ouvir e entender o contexto em que o indivíduo está inserido, para que seja possível atender às suas reais necessidades. Falar sobre psiquiatria e entender a mente é uma atitude de amor-próprio e de amor e respeito ao outro. Isso é o que há de mais humano em todos nós.
Fábio Olmo é psiquiatra.