“Vendi minha casa para fumar crack”, relata missionária e ex-usuária de drogas
Nislene Caldeira, coordenadora do projeto "Projeto Encontro Com a Vida", foi viciada em crack por duas décadas
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Missionária e coordenadora do “Projeto Encontro Com a Vida”, Nislene Caldeira, de 54 anos, foi viciada em crack por duas décadas e chegou a ser presa por tráfico e quase morreu desnutrida devido ao uso frequente das drogas.
Libertada do vício e principalmente dos crimes que cometia, hoje Mislene usa sua experiência para resgatar jovens que estão passando o que ela viveu anos atrás.
Em entrevista, a missionária de um projeto que fica na Serra contou detalhes do período em que chegou a vender a casa em que morava para comprar drogas.
A Tribuna – Começou a usar drogas com quantos anos?
Mislene – Eu não sei a idade. Eu morava sozinha e criei meus filhos sozinha. Conheci um “coroa”. Só que eu não sabia que ele usava crack. Ele sempre saía na sexta e só voltava na segunda e, uma vez, com ciúmes, eu fui atrás dele e acabei entrando numa boca de fumo. Lá, acabei dando uma tragada e desde então me viciei.
Como foram esses anos no vício?
Eu fui viciada por 20 anos. No início, fiz muita loucura, entre elas a de vender minha casa, avaliada em R$ 80 mil, para comprar crack. Eu a vendi por R$ 25 mil e troquei tudo por drogas. Fumei R$ 25 mil em crack em menos de um mês.
Como seus filhos ficaram?
Eles eram grandes nessa época e tinham as suas casas. Só que o crack me separou deles. Depois que eu vendi minha casa, fui morar com uma amiga, que também era usuária. Fiquei um tempo e daí eu fui para rua. Nisso, uma das minhas filhas me internou em uma clínica, só que ao sair, eu voltei a usar de novo.
E o que aconteceu?
Aí vem a pior parte da história (choro). Fui morar na rua, lá no “Copo Sujo”, que fica em Jardim Limoeiro (Serra). Ali eu quase morri de fome. Cheguei a pesar 30 quilos por causa do crack. Estava muito magra. Ali também comecei a traficar, roubar e fui presa algumas vezes.
E como saiu dessa vida?
Uma pessoa passou lá no local onde eu ficava e falou sobre o Pastor Egrinaldo. Um determinado dia, me avisaram que um agiota ia me matar e eu procurei o projeto do pastor, onde eu atuo, e me libertei.
Agiota de drogas?
Isso. Ele vende a droga por um preço e você paga quase o triplo a prazo. Se não pagar, ele te mata.
Qual foi o pior momento que você passou nessa época?
Quando pensei que fosse morrer de fome. Estava muito fraca e as pessoas não queriam me dar comida porque sabiam que eu era usuária, mas meu corpo pedia comida.
O que o crack representa para você hoje?
O crack é o osso do capeta, que te destrói, destrói famílias. Hoje, sei que existe um Deus e que ele te ama. Se eu consegui sair dessa vida, qualquer pessoa é capaz, basta crer.
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