Estudante leva tiro após carro não parar em cerco policial e pode ficar paraplégico
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Um estudante de 16 anos foi baleado pela polícia durante buscas para prender bandidos que mataram um DJ no bairro Santo Antônio, na Serra, na noite de domingo (17). O garoto estava em um carro com o tio, de 48 anos, e o patrão do tio, de 38, voltando de um sítio. O motorista não obedeceu a ordem de parada da polícia e os PMs atiraram. O garoto, no banco traseiro, levou um tiro nas costas e está sem os movimentos das pernas.
A Polícia Militar confirma que houve o disparo e informou que estava na região procurando os bandidos que mataram Vitor Teixeira de Jesus, o DJ Vitor, de 21 anos, morto minutos antes com mais de 15 disparos no rosto. O assassinato aconteceu também no bairro Santo Antônio e os criminosos, de acordo com relatos da PM, estariam em uma moto e carro da cor vermelho.
Para tentar prender os assassinos, os militares passaram a fazer buscas na região e uma viatura se deslocou para uma estrada rural, normalmente usada por criminosos como rota de fuga. Três soldados e um subtenente estavam na radiopatrulha quando viram se aproximar um carro do modelo Cruze cor vermelho - onde estavam o estudante, o tio e o patrão do tio, que era quem dirigia.
Segundo consta na ocorrência policial, os PMs acenderam o giroflex e saíram da viatura, dando ordem de parada ao motorista do Cruze. No entanto, o condutor não obedeceu e, inclusive, teria acelerado e "lançado o veículo contra os militares", conforme nota encaminhada pela corporação.
Em seguida, os policiais efetuaram vários disparos, usando três armas de calibre .40 e outra de calibre 556. A PM alega que os tiros "foram na direção dos pneus". Os três soldados e o subtenente deram cada um dois tiros contra o veículo, sendo que um deles acertou as costas do adolescente de 16 anos.
Mesmo com os disparos, o motorista do Cruze passou pelo cerco e só parou um quilômetro depois, perto da entrada do bairro Cascata. Segundo o boletim feito da PM, o motorista tinha "sinais nítidos de embriaguez". Foi quando a polícia viu que o estudante estava baleado. Ele foi levado na viatura para a UPA da Serra-Sede e depois para o Hospital Estadual de Urgência e Emergência, em Vitória.
O veículo Cruze foi atingido por quatro tiros: retrovisor, coluna central, maçaneta traseira e coluna traseira.

No boletim registrado pelos policiais militares, eles afirmam que o motorista do Cruze declarou que "não parou no cerco policial porque havia ingerido bebida alcoólica durante o dia e não estava em suas perfeitas razões de discernimento, decidindo furar o cerco policial para não sofrer as sanções legais da lei de trânsito, mas quando percebeu o erro, além de ouvir que o menor estava ferido, decidiu parar".
O tio do adolescente e o patrão prestaram depoimento no DPJ da Serra. A Polícia Civil vai apurar a informação de embriaguez ao volante. Ainda não foi divulgada se alguém foi autuado.
A Polícia Militar informou que as armas dos militares foram recolhidas e a corporação abrirá um Inquérito Policial Militar para apurar as circunstâncias dos fatos.
Família diz que giroflex não estava ligado
A família do estudante baleado contou que ele tinha ido a um sítio com o tio e o patrão do tio. Na volta para casa, viram um carro parado em uma estrada, mas o motorista alega que o farol alto da viatura impediu de ver quem era, por isso acelerou, com receio.
"É um local muito escuro e o giroflex do carro da polícia estava desligado. Eles só viram o farol alto em cima deles, por isso aceleraram, pensando que podia ser algum assalto. Logo depois ouviram os disparos e em seguida o motorista freou. Meu filho disse na hora: ‘tio, não estou sentindo minhas pernas’”, relatou a mãe do estudante, uma auxiliar de serviços gerais.
Ela disse ainda que o filho pode ficar paraplégico: “O médico não descartou a possibilidade dele ficar paraplégico, já que a bala está alojada na coluna. Não pode fazer cirurgia e ele não sente da cintura para baixo”. O garoto permanece internado.
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