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Tribuna Livre

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Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

Peste, indiferença e luta

| 02/07/2020, 07:29 07:29 h | Atualizado em 02/07/2020, 07:33

Quando a peste resolve sair de seu recôndito esconderijo e assombrar a humanidade, o desespero e a indiferença vêm na bagagem. Desespero porque, por mais pestes e guerras que já tenham havido na história, como nos lembra Albert Camus, elas sempre nos pegam desprevenidos, o que gera uma inevitável sensação de desalento.

E indiferença, pois, com o passar dos dias (e das mortes), o relativismo e o automatismo tomam conta das pessoas, uma frieza lhes cobre o rosto como um gélido lençol de hospital.

Toda peste causa morte, variam apenas a quantidade e a velocidade do extinguir das vidas. Uma vez vivo, é preciso lidar com o perecimento, mal ou bem, traumaticamente ou com leveza, cada qual ao seu modo.

Seja a morte a conta-gotas, seja aos baldes, não há uma maneira uniforme de encarar a perda da vida. Uns choram muito, outros pouco, alguns nem choram, aguardando resignadamente a sua vez.

O susto que a peste causa, de início, logo se dissipa com a naturalização da tragédia, essa grande especialidade humana – tanto por insensibilidade, como por mecanismo de defesa psicológica ou, até mesmo, por mera necessidade de seguir em frente.

O fato é que a impassibilidade rapidamente ocupa o centro da vida social, em meio à desolação da peste. As mortes transformam-se em estatísticas, números vazios, sem rostos, numa contagem ascendente – ou descendente, a depender do ponto de vista.

A peste pode ter natureza variada, bacteriana, viral ou política. Pois sim, certos regimes políticos merecem ser equiparados à peste, em razão de sua vocação para incutir medos, limitar horizontes e ceifar vidas. E a peste política também deságua em indiferença com o passar do tempo.

O mesmo imobilismo social que se tem diante do empilhar de cadáveres no curso da peste biológica é observado durante a peste política, à medida que abusos, censuras e todo tipo de violência passam a fazer parte do cotidiano.

Enquanto a peste não bate à minha porta, calo-me e sigo a vida, fingindo haver normalidade para além da porta – e para dentro da mente.

Combater os causadores das pestes é tarefa tão hercúlea quanto necessária, ainda que na contramão da frieza coletiva. Se na peste biológica, cientistas trabalham infatigavelmente na pesquisa de remédios, vacinas e medidas profiláticas, quando vem à tona a peste política, devem entrar em ação, também de maneira incansável, os defensores da “saúde política”.

Pessoas racionais e razoáveis, capazes de doar tempo e energia ao desenvolvimento de técnicas de preservação das liberdades e de proteção aos direitos humanos. Muitas vezes, até mesmo contra o discurso de certos líderes e a apatia da opinião pública.

Como em toda peste, os primeiros sintomas são sinais de alerta para a reação do sistema de precauções. Barreiras sanitárias e institucionais devem ser erguidas imediatamente e vozes não obscurantistas merecem ser ouvidas com redobrada atenção.

Na história da humanidade, uma lição clara emana de todo tipo de peste: cuidar de todos é cuidar de si, cuidar de si é cuidar de todos.

Carlos Fonseca é magistrado e escritor

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