Pandemia está fazendo as pessoas comerem mais
Quem, neste período de isolamento social por conta do novo coronavírus, já ouviu alguém dizer que não para de comer e que ganhou uns quilinhos? Quem pode repetir essa queixa? Parece um problema generalizado: a pandemia está fazendo as pessoas comerem mais.
E isso é confirmado por especialistas. A compulsão alimentar é fruto da ansiedade. O médico psiquiatra Jairo Navarro explica que a pessoa ansiosa tende a descontar a ansiedade na alimentação.
“A neurociência tem mostrado que, no momento em que a pessoa se alimenta, ela passa por uma situação prazerosa, havendo o estímulo de uma área cerebral chamada núcleo accumbens, que tem a função de gerar a sensação de prazer. Alimentos com mais gordura, fritura e açúcar tendem a ter uma ação maior sobre ele. E a sensação de prazer gerada pela alimentação pode ser tão grande, a ponto de se tornar uma dependência”.
O médico explicou que acaba se instalando um círculo vicioso: ao comer por estar muito ansiosa, a pessoa ingere nutrientes que a deixam mais agitada e que a levam a comer ainda mais.
A psicóloga Fernanda Almeida explica que o isolamento social está aumentando a ansiedade das pessoas, e o alívio temporário na comida pode criar problemas ainda mais sérios.
“O alimento, principalmente os doces, pode temporariamente fazer esses sentimentos 'desaparecerem no ar”, mas o alívio é apenas temporário e pode criar problemas de saúde mental ainda maiores”.
O assistente em comunicação Juliano Araujo, de 27 anos, vive essa vontade de comer mais diariamente. Trabalhando em home office e tendo aulas online, ele passa os dias de quarentena em casa, na frente do computador e confessa que a ida à geladeira é constante.
“Eu fico sentado no mesmo lugar o dia o inteiro e o que a gente faz para distrair a mente? Comer”, diz ele, descontraindo a situação.
“Eu trabalho com criação e às vezes tem dia que não vem uma luz para criar algo, aí eu vou na geladeira e pego um bolo, um biscoito... Além disso, minha mãe está em casa e faz doces para nós... Eu sou muito hiperativo e quando estou ansioso eu vou comer alguma coisa. O resultado? Fui colocar uma camisa essa semana e estava apertadinha”.
Saiba mais
Horários
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Estabeleça horários para se alimentar, concentre-se nisso e coma devagar. Comer a toda hora, rapidamente e prestando atenção em outras coisas leva a consumir mais do que o necessário.
Longe da TV
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Evitar fazer refeições ouvindo notícias negativas. Isso pode gerar mais ansiedade, influenciando até no processo de digestão e contribuindo para dores e sensação de má digestão, por exemplo.
Atividades
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Descubra atividades que lhe dão prazer, em vez de buscar prazer somente na comida.
Comida saudável
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Em vez de focar no que não pode comer e no que precisa evitar, eduque-se para sentir prazer de comer o que é saudável. O que não pode, geralmente, aguça o desejo.
Forma de pensar
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Mudar a alimentação não é suficiente. É preciso mudar a forma de pensar o ato de comer. Quando sentir vontade de comer, certifique-se de que é porque está realmente com fome. Não porque está feliz, porque quer se alegrar, aliviar a ansiedade ou por outro motivo ligado ao emocional.
Estratégias
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É importante, neste momento de isolamento, criar estratégias como manter contato com as pessoas queridas – mesmo que virtualmente, realizar atividades como leitura e exercícios de respiração
Ajuda especializada
- Se estiver difícil controlar a forma de se alimentar porque ela é diretamente influenciada pelas suas emoções, busque ajuda especializada, para que consiga controlar suas emoções.
Fonte: Psicólogas Fernanda Almeida e Rubia Passamai
Análise
O Brasil está enfrentando momentos difíceis com a pandemia da Covid-19, sendo um deles, o isolamento social. Temos ficado longe dos colegas de trabalho, de escola, de parentes queridos em prol comum de superarmos, o mais rápido possível, essa pandemia que assola o País.
Como umas das consequências, tem-se registrado o aumento dos problemas de saúde mental, como ansiedade, estresse e depressão. A verdade é que estamos com medo, angustiados, pois estamos lutando contra um inimigo invisível e isso tem aparecido em comportamentos como insônia e o apetite em excesso.
A comida, na nossa cultura está associada ao prazer e ao bem-estar e pode ser usada como estratégia compensatória ou como uma tentativa de gerenciar emoções desagradáveis, como estresse, depressão, solidão, medo e ansiedade, sentimentos esses gerados pelo isolamento social.
Fernanda Almeida, psicóloga na Clínica Ipaneuro e professora universitária