Ondas de choque da pandemia da Covid-19 que atingem a todos
Aqui estamos chegando a um ano de pandemia decretada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Praticamente 12 meses depois ainda estamos atordoados e atarantados com o que estamos vivendo. Temos mais esperança, claro! A vacina está aí. Mas o impacto foi tão forte sobre nós que parece haver reverberação contundente da Covid-19 chegando em etapas e de forma gradativa.
Pensando sobre tal cenário, fiz uma comparação que pode parecer esdrúxula. Parece que estamos sendo atingidos por ondas de choque que dificultam nossa recuperação, e quando pensamos ter certo equilíbrio, surgem novas “ondas” para nos questionar.
Uma “onda de choque” se caracteriza por ser um distúrbio em propagação, tendo suas propriedades de velocidade, pressão, temperatura e densidade, variando de forma brusca e descontínua, podendo propagar-se em qualquer meio (sólido, liquido, gasoso e plasmático).
Não se assemelha este conceito oriundo da física com a pandemia que estamos vivendo?
A velocidade com a qual esta pandemia se espalhou, a pressão exercida sobre cidadãos, governos, sistemas de saúde, laboratórios de pesquisa, etc.
Ou mesmo sua densidade, sua consistência e espessura, debruçando-se pesadamente sobre um mundo confuso, desigual, injusto, e principalmente despreparado para tal momento, afinal estávamos tão inertes na ilusão de uma vida moderna, produtiva, consumista, em um modo de vida pujante e arrogante que jamais imaginamos que um invisível vírus poderia nos afrontar desta forma.
E ela se mostrou de forma ríspida, áspera, violenta e severa, com mais uma característica irrefutável: não é seletiva. Na verdade ela é comutável, metamórfica, mutante, no sentido mais amplo e super-heroico da palavra.
Para afirmar tais características, ela se alastra por qualquer meio, seja ele físico, líquido, gasoso e plasmático. Quer maior volatilidade e aleatoriedade que isso?
Ela não escolhe cor, credo, sexo, raça, posição social, etc., e nos atordoa pacientemente, com suas ondas: a primeira, a segunda, a terceira, a quarta, etc., sejam quantas forem de seu desejo.
Ela caminha calma, serena e indelével, mas perene. Não nos deixa equilibrar plenamente, nos desafia.
Se porta de modo sutil, esmerado, e de forma impassível, implacável e inclemente, nos assombra sem mostrar a face, só os resultados.
Desestrutura governos, testa nossa ciência, resiste de modo inexorável e de forma indelével às tentativas de ser subjugada, desestabiliza economias e deixa uma sociedade aflita.
Não se trata mais de sermos atingidos por ondas, mas de sermos recorrentemente sufocados por ondas que nos deixam em choque.
Esta não é uma declaração de derrota ou uma mensagem pessimista sobre o que estamos passando. Acredito que estamos mais perto do fim de tudo isso do que do início, mas não podemos esquecer de quanto ainda temos a aprender.
JOILTON ROSA é cientista social.