Olhar cômico de Bruno Mazzeo sobre o isolamento
Todos os desafios da quarentena, todas as pirações vindas do isolamento social ganham o olhar cômico e ao mesmo tempo trágico de Bruno Mazzeo, que protagoniza “Diário de um Confinado”, série que chega nesta sexta (26) à Globoplay.
Criado em casa e em família pelo autor e ator e pela esposa, Joana Jabace, o projeto foi produzido durante a quarentena, de forma remota. Joana assina a direção artística.
“Temos na mesma casa um autor que também é ator e eu, que sou diretora. Usamos essa nossa especificidade a favor da arte. O tipo de humor que o Bruno faz é engraçado, mas tem melancolia. E nos interessa falar deste momento que estamos vivendo de um jeito leve, mas também realista”, salienta Joana.
A obra faz uma crônica sobre o dia a dia de um cidadão, Murilo (Bruno Mazzeo), que, de repente, se vê obrigado a tocar a vida dentro de casa.
Seus compromissos pessoais e profissionais são todos remotos: a terapia, o encontro com os amigos. Pedir uma pizza nunca foi tão desafiador e tantas dúvidas fazem com que muitas relações, mesmo que virtualmente, sejam estreitadas. Nunca se precisou tanto dos conselhos de mãe, tia ou médico.
Esses personagens que interagem com o confinado Murilo na trama são vividos por grandes nomes, como Arlete Salles, Debora Bloch, Fernanda Torres, Lázaro Ramos, Lúcio Mauro Filho e Renata Sorrah.
Bruno conta que as ideias do texto foram surgindo sempre a partir da realidade, diante da situação que o mundo atual enfrenta.
“Como tudo o que escrevo, sobretudo quando escrevo sob o olhar da crônica, normalmente tem um pé na biografia – na autobiografia e na de cada um que está participando do projeto comigo. ‘Diário de um Confinado’ é um programa que busca uma identificação. Ao mesmo tempo, tem pitadas de uma loucurinha, que é o que a gente está vivendo, com sentimentos alterados. E é aí que entra a carga do humor”, detalha.
A partir do dia 4, “Diário de um Confinado” será exibido aos sábados na Globo e, a partir do dia 6, no Multishow e em pílulas ao longo do mês no canal GNT.
Bruno Mazzeo | Autor e ator “Um cara tentando não enlouquecer”
Alguma das situações vividas por Murilo no isolamento já aconteceu com você?
Bruno Mazzeo: Tem um ditado italiano que eu gosto muito e diz que “na arte, tudo é autobiográfico”, porque tudo vem de sensações minhas, de referências que recebo do mundo, coisas que vivo, que os amigos vivem.
Não é a primeira vez que você e Joana trabalham juntos, mas esta é uma nova configuração. Como está sendo?
Fomos descobrindo juntos como fazer, em casa, com dois filhos, tocando todas as fases. Eu já trabalho muito em casa escrevendo, mas agora tudo passou a acontecer aqui. Confesso que já vivi, no confinamento, uma gangorra de sensações e sentimentos. Num dia, a gente acorda mais pra baixo, no outro está tranquilo. Num dia, não quer sair do quarto, no outro está super querendo malhar pela internet. É uma loucura!
Murilo mostra uma certa melancolia. Para você, quais são as características da obra?
A melancolia é uma característica que eu gosto muito, porque, para mim, caminha junto. O humor vem de uma tragédia, e o que a gente está vivendo é uma tragédia. O que muda é o olhar, que transforma a tragédia em uma comédia, mas com essa base trágica.
Quais têm sido os aprendizados para vocês?
Se tem uma coisa boa que veio com essa pandemia, para mim, foi a união da família. Durante boa parte desse tempo, as crianças ficaram felicíssimas, porque eles nunca têm a oportunidade de estar só com pai e mãe o tempo todo, como tem acontecido.
Mas tem as dificuldades do momento também: trabalho, as tarefas domésticas, eu com meu filho mais velho longe, a Joana longe dos pais. Acho que isso também fez a gente ficar muito unido, nos ajudando e convivendo harmonicamente. Além de estar há um tempo sem sofrer com jogo do Vasco, o que não deixa de ser um grande alívio. (Risos)
O que o público pode esperar da série?
O público pode esperar crônicas separadas por assuntos e vivências, porque é como a gente está vivendo agora. Passamos por muitas fases dentro de um confinamento.
Eu já vivi muitas coisas nesse período: a frustração pela interrupção de projetos; meu aniversário, o aniversário de todos os meus filhos, já tive momentos de tédio, desesperança, depois esperança.
São muitos acontecimentos e aprendizados. Essas crônicas falam de mim, e espero que de todos nós. Está engraçado, está humano. É, realmente, um olhar cômico sobre essa tragédia que estamos vivendo. É um cara lidando com a solidão, com as tarefas domésticas. Um cara tentando não enlouquecer. Como eu.
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