Obrigado, bola...
Fez-se a vontade de Diego Maradona. Sepultado no final da tarde de ontem no cemitério Jardin de Bella Vista, nos arredores de Buenos Aires, sob a presença de familiares e amigos mais chegados, o corpo do mito argentino recebeu em seu sepulcro a lápide com a frase que sugerira, há 15 anos, em entrevista a si próprio numa das edições do programa “La Noche del 10”, que apresentava numa TV local: “Gracias a la pelota...” (“Obrigado, bola...”), foi a frase.
Sempre às voltas com os problemas de saúde vividos em função da mistura, por vezes desmedida, do álcool com as drogas, o melhor jogador da história do futebol mundial depois de Pelé, parecia mesmo saber que não teria vida longa. A morte aos 60 anos, ocorrida anteontem, depois de inúmeras internações e falsos anúncios de seu falecimento, levou o país à comoção.
Mas, no fundo, já se sabia que de uma hora para outra o boato de sempre se consumaria como triste fato.
Maradona tinha plena consciência de sua representatividade para a história do país.
Do quanto representava dentro e fora dos campos, ainda que seu comportamento errático não o recomendasse como exemplo. E como sempre driblava a morte, fez tudo o que quis, e da forma que quis. Talvez, por isso, tenha forçado a abordagem de tema tão sensível, dividindo-se entre entrevistador e entrevistado num jogo de câmeras formidável.
A “autoentrevista” (se é que pode se chamar desta forma) foi apenas um quadro do programa. Reproduzo o trecho em que, ao falar sobre seu futuro, Maradona manifestava o simples desejo de envelhecer ao lado dos netos, e ter uma morte tranquila.
DIEGO: Se tivesses que dizer umas palavras a Maradona no cemitério o que lhe diria?, perguntou, no papel de entrevistador.
MARADONA: (risos) O que lhe diria? E você pergunta isso a mim?, questionou Maradona, vestido em traje de passeio.
DIEGO: Sacaste você este tema! Não fui eu quem falou da morte, foi você!, pontuou o Diego entrevistador.
MARADONA: Muito obrigado por ter jogado futebol! Porque é o esporte que mais me deu alegria, liberdade. É como tocar o céu com as mãos. Muito obrigado à bola... sim, poria na lápide: “Gracias a la pelota...” (“Muito obrigado, bola...”)
Ficou muito claro para todos que o ídolo maior do futebol argentino estava passando uma mensagem para a posteridade. E assim foi feita a vontade dele. Que descanse em paz...