Login

Esqueci minha senha

Não tem conta? Acesse e saiba como!

Atualize seus dados

Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo

Martha Medeiros

Martha Medeiros

Colunista

Martha Medeiros

Obrigada aos meus dias ruins

| 19/07/2020, 10:25 10:25 h | Atualizado em 19/07/2020, 10:27

Se mordomia fosse mais importante para mim do que liberdade, teria morado na casa dos meus pais até casar. Se depois de 17 anos de casados, eu e meu marido não tivéssemos reavaliado nossa escolha e nos separado, não teríamos vivido outras importantes relações amorosas. Se depois de uma década trabalhando em agências de propaganda, eu não tivesse perdido o entusiasmo pela publicidade, não teria me arriscado a escrever para jornais.

Se depois de duas décadas escrevendo para jornais, eu não tivesse sentido o tédio batendo à porta, não teria arriscado ter um canal no YouTube e escrever um roteiro de cinema. Que sorte eu não ter sido feliz para sempre.

Tenho muito a agradecer aos meus dias ruins. Foram os choros silenciosos, abraçada ao travesseiro, que me colocaram contra a parede: “por que você está se submetendo a essa dor?”. Ter ido atrás da resposta me fez movimentar a vida e trocar de planos.

Quando meu coração esteve apertado, não agendei exames cardíacos: recorri à poesia. Se compus alguns versos bem escritos, devo às angústias das paixões mal concluídas.

Cada vez que fui rejeitada, desenvolvi a humildade e reforcei meu lado bom.

Ando serena há bastante tempo, desde que aprendi que a felicidade “instagramável” é uma busca utópica e meio babaca: como ser feliz num país em desconstrução e com uma desigualdade indecente entre seus habitantes?

Como ser feliz, se além do país à deriva, ainda temos que nos acostumar agora com novas regras de conduta social? E, saindo do geral para o pessoal: insônias, dívidas, desilusões, discussões, como?

O único jeito que conheço: desenvolvendo desde cedo o que se chama hoje de inteligência emocional, um guarda-chuva de múltiplos significados, mas que para mim se resume a usar a finitude a nosso favor.

Vamos morrer – não agora, não de Covid-19 (sou otimista), mas um dia, aquele dia que otimismo nenhum adia. Então qual o sentido de obstruir ainda mais a vida?

As pessoas fazem drama por bobagem, são competitivas, se acham melhores do que são, executam tarefas de forma relaxada, não assumem seus erros, não cuidam de seus afetos e reclamam, reclamam, reclamam. A cada manhã recebem o novo dia com pedras na mão.

Tenho também meus momentos em preto e branco, mas não desapareço de mim. Se for uma incomodação pontual, leio um livro, vou dar uma caminhada, espero o dia terminar.

Se for mais grave, tento terapia, converso com amigos, faço mapa astral, ritual xamânico, troco os móveis de lugar, troco os pensamentos de lugar. Me desacomodo. Uso a instabilidade para inaugurar uma estabilidade nova em folha, outra versão da mesma vida.

O meu “para sempre” nunca foi feito de linhas retas nem de velocidade constante, e é por isso que minha sorte tem durado um bocado.

SUGERIMOS PARA VOCÊ: