O comando...
Rogério Ceni ficará no Flamengo para mais uma temporada de vitórias. E não sei porque ainda levantam suspeitas sobre seu futuro no clube.
Afinal, antes mesmo da conquista do bicampeonato brasileiro, naquele momento de maior turbulência, o vice de futebol Marcos Braz já havia informado que o treinador seguiria até o final do contrato, em dezembro.
E chegou a se dizer incomodado com a pressão por outra troca no comando do time: “Não trabalho desta forma”, resumiu o dirigente, segurando o treinador no cargo num momento em que os resultados de campo não referendavam a continuidade.
Aqui no Brasil, depois que o futebol passou a ser atividade por onde passam rios de dinheiro, valoriza-se pouco, ou quase nada, o comando. A má fama dos cartolas, não raramente responsáveis pelas más gestões dos clubes, alguns inclusive flagrados em negócios escusos, fez com que olhássemos de soslaio para essas figuras.
Particularmente, prefiro ver o departamento mais importante do clube nas mãos de profissionais balizados por metas desportivas e financeiras. Mas não desprezo o trabalho de estatutários que conseguem os resultados. É raro, mas de vez em quando surge quem mereça o reconhecimento.
E isso ontem me chamou atenção ao ler na coluna de Ancelmo Gois que o próprio Flamengo não convidou seu vice de futebol para a solenidade de premiação do título brasileiro na sede da CBF.
Preferiu ser representado pelo presidente e pelo executivo Bruno Spindel, nome de confiança da cúpula da diretoria administrativa. A discussão política não me seduz. Mas reconhecer a competência do titular da pasta é um dever.
Braz esteve à frente do futebol rubro-negro nos três últimos títulos brasileiros — e não deve ter sido só por sorte. Nesta era da instantaneidade e do cancelamento sumário, os clubes de massa sofrem horrores para ter uma só voz de comando.
E se antes a crônica esportiva os fiscalizava e cobrava pela má condução, hoje o controle externo se dá em tempo real, e por formadores de opinião de várias matizes.
O suporte para que Rogério Ceni pudesse se impor junto a um elenco milionário e incensado pelas conquistas de 2019 foi tão decisivo quanto o gol de Gabriel Barbosa no 2 a 1 sobre o Internacional na penúltima rodada.
O trio que administra o Flamengo (Rodolfo Landim, Luís Eduardo Baptista e Rodrigo Tostes) apenas tolera Marcos Braz. E por interesses políticos o varre para debaixo do tapete. Mas, no fundo, sabe que foi a eficiência dele na montagem e na gestão do elenco que deu ao clube o tamanho que a torcida gostaria.