Mulheres fazem cursos para pintar e reformar a casa
As mulheres estão ganhando mais espaço nas atividades ainda consideradas masculinas. Provando que essa história de “coisa de homem” já saiu de moda, elas contrariam a expectativa em profissões tradicionalmente dominadas pelos homens.
De acordo com o Ministério do Trabalho, a participação delas na construção civil cresceu 65% em pouco mais de 10 anos. A estimativa é de que o setor já tenha 200 mil mulheres trabalhando no País.
No Espírito Santo, o cenário é semelhante, com mulheres atuando em obras e buscando cursos para aprender a reformar e a pintar.
No Instituto da Construção de Vitória, elas já representam 15% do total de alunos nos cursos de construção civil. Há um ano, a matrícula feminina não chegava a 2%, segundo o diretor do instituto, Júnior Aparecido Batista.
“A procura aumentou tanto que abrimos turmas só para mulheres em cursos de pedreiro, eletricista, pintura e decoração. A ideia é gerar esse conhecimento para que elas possam trabalhar na área”, afirmou.
A cabeleireira Léa Moreto, de 46 anos, se matriculou no curso de pintura para servir como mão de obra na casa que comprou. Só que ela se apaixonou pelo ramo e já pensa em gerar renda com a atividade.
“A princípio, foi para minha própria casa, mas estou mudando de ideia e vou investir mais nessa área. Já estou me programando para mais cursos”, contou.
A efeitodesign Juliana Sales, 42, também está investindo no segmento, mas na área de decoração. “Estou me realizando”, disse.
O ensino superior também registra crescimento na demanda. Dados do Censo da Educação Superior indicam que o número de mulheres matriculadas em cursos de Engenharia Civil vem registrando alta desde 2017. Nas salas de aula, elas ainda são minoria, mas a presença aumentou.
Este ano, na Ufes, dos 38 aprovados para o curso de Engenharia Civil, 13 eram mulheres. As três maiores notas para ingressar também são delas. “Estamos chegando mais perto da igualdade”, afirmou Clara Batista, 17 anos, uma das aprovadas.
Projetos
Aos 59 anos, a comerciante Lam Shuk Yee não descarta a possibilidade de entrar no ramo da construção. Ela está fazendo um curso de alvenaria e já quer emendar com outro de elétrica.
“Tenho dois irmãos engenheiros civis que me deram força para fazer o curso. Acho o mercado deficiente de pedreiros com conhecimento técnico. Quero ganhar mais experiência”, afirmou Lam.
O primeiro “teste” será na própria casa. “Estou fazendo projetos de recuperação. Não estava nos meus planos, mas acabei me interessando muito por alvenaria”, disse.
Aumento em atividades consideradas de homens
Além da construção civil, outras áreas estão ganhando mais presença feminina. É o caso do setor produtivo das indústrias, onde a participação delas cresceu 19%, de acordo com o Ministério do Trabalho.
O levantamento também indica que as mulheres estão buscando qualificação e espaço em áreas como tecnologia da informação e mecânica.
Em 2009, por exemplo, a única graduação especializada em mecânica automotiva do País teve apenas uma mulher inscrita entre 85 alunos. Passados 11 anos, elas ainda são minoria, mas já ultrapassam os 8% do total de alunos.
De acordo com a psicóloga, Martha Zouain, o crescimento já vem acontecendo há alguns anos e a partir da década de 1990 de forma mais acelerada, com destaque para os setores técnicos.
“Área de mineração, siderurgia, cargos de manutenção elétrica e mecânica, onde no passado a ocupação era de 90% masculino, hoje você tem 40% de mulheres ocupando esses cargos. Não e a mesma coisa, mas se nota um crescimento grande”, disse.
Dandara Bicalho, 29, é Analista de Processos de Negócio e trabalha em um meio, que antes, era predominantemente masculino. “Era perceptível, desde a faculdade, onde eu era a única mulher”, disse.
Além disso, ela notou que mesmo com esse crescimento ainda existe um preconceito no setor.
“Foi desafiador em alguns momentos, mas hoje eu vejo que as mulheres têm ganhado voz. Onde eu trabalho existe um grande respeito”, salientou.
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