Muitos flancos e uma retaguarda: o Centrão
Um aspecto da atual crise política (descontada a pandemia) é capaz de tornar a vida de Jair Bolsonaro ainda mais complicada do que a de seus antecessores, também fustigados por tempestades quando estavam na Presidência:
agora, as nuvens negras avançam em muitas frentes, várias no STF, onde, além do inquérito sobre as acusações de Sergio Moro, existem ainda apurações tocadas por Alexandre de Moraes (ataques à democracia e gabinete do ódio) e a ocultação dos exames do Presidente. Muitos flancos desprotegidos para pouca retaguarda.
Fechando... Diante do perigo, a estratégia do governo federal é concentrar forças no ponto onde todos os furacões devem convergir futuramente: o Congresso.
...a casinha. Fica cada vez mais claro o motivo dos movimentos mais recentes. A coluna apurou que pelo menos dez ministérios, ou seja, praticamente metade da Esplanada, têm cargos em negociações com partidos do Centrão.
Cálculo. No melhor dos mundos para o governo, ele espera ter entre 200 e 250 votos no Congresso, o suficiente para manter Bolsonaro na Presidência até o fim do atual mandato.
Coxia. Líderes do Centrão preferem os cargos de segundo e terceiros escalões porque poderão deter muitos recursos sem precisar mostrar a cara no governo. Ainda não há 100% de confiança de nenhum dos dois lados.
Pega mal. Os novos aliados de Bolsonaro avaliaram que o conteúdo do vídeo da famosa reunião ministerial, se for confirmado, pode gerar constrangimentos.
Pega mal II. Esses deputados evitaram tecer comentários sobre o episódio, mas demonstraram preocupação em privado. Porém, ele não deve, por enquanto, enfraquecer a amizade entre o grupo e o governo.
Contra a grilagem. Apresentada pelo deputado Vinícius Poit (Novo-SP), emenda à MP da regularização de terras estipula pena de cinco anos de reclusão e multa para quem apresentar declaração falsa para a regularização fundiária de terras da União e do Incra. A mudança pode ajudar a viabilizar a votação.
Alerta. O vídeo da surpresa de Nelson Teich ao ser informado do decreto de Jair Bolsonaro classificando como serviços essenciais salões de beleza e academias viralizou também entre secretários de Saúde.
Alerta II. Apesar da gestão de Teich na Saúde não ser vista como operante e eficiente, secretários entendem que, sem ele, a pasta poderia parar de vez.
Relax. Ao menos por enquanto, no entorno do ministro, não há qualquer expectativa de confronto dele com o Presidente.
Repulsa. O Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil “Henry Sobel” repudiou o uso pela Secom de Bolsonaro de frase análoga ao tenebroso “arbeit macht frei” (“o trabalho liberta”), lema nazista.
Repulsa II. “Essas manifestações mereceram o repúdio da sociedade civil, no Brasil e no exterior.” O observatório cita o Talmud: “Todo lugar só é bom para os judeus se for bom para todos os que o habitam”.
CLICK. Enfermeiros fizeram ato em Brasília pelas vítimas da Covid-19 e em defesa da saúde. Usaram um boneco de Jair Bolsonaro com as mãos sujas de sangue.
Bombou nas redes!
Sobre o vídeo da reunião ministerial
"Ainda que a tal reunião venha a confirmar o show de horrores que vem sendo anunciado, crime, ao que tudo indica, não há. E inquérito apura crime”.
Janaína Paschoal, deputada estadual (PSL-SP)