Menos festas e banquetes, mais encontros e sabores
Não tem jeito: a pandemia nos fez pisar no freio em vários quesitos. E quando digo “nos fez” refiro-me à classe média, aos ricos privilegiados que viviam uma espiral de excessos, tanto de consumo, quanto de desejos e movimentos sem questionar e, pior, sem parar para respirar.
Isto porque os menos favorecidos, no Brasil imensa maioria, sempre viveram com os mais variados “freios”.
Menos, para eles, é uma constante. A realidade que machuca, e não um adjetivo que inspira a simplicidade da elegância, como definem os ingleses.
Mas eis que chega o vírus, o isolamento, as muitas perdas, o medo.
Enfim, a ficha cai e entendemos que, por um bom tempo, teremos de aprender a viver com menos.
Menos viagens, menos idas a shoppings, menos festas imensas, menos restaurantes lotados, menos shows apinhados, menos churrascos despreocupados, menos encontros loucos e fortuitos.
Vale a pena viver com menos? – “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, já dizia o grande Fernando Pessoa.
Afinal, o que define bem-estar? Não o movimento incessante, o ruído e a pressa perenes da qual estávamos saturados, certamente!
Não acredito que as pessoas sairão melhores ou piores desse ciclo. Mas não há dúvida: todas, serão pessoas “diferentes”.
Entender as prioridades e, mais que isso, aprender e dar a devida importância a elas, descartando os excessos, é imprescindível neste momento.
Mudanças ocorreram e é imperativo que nos acostumemos a elas, e mais: que as incorporemos, que sejamos aliados de uma nova maneira de viver – afinal, quem disse que a forma como caminhava a humanidade era a ideal?
Menos festas, mais vínculos – Lembra daquelas festas tão grandes que você saía sem ter conseguido encontrar os anfitriões? Agora vai conseguir fazer isso, além de conversar e com as outras pessoas.
Menos baladas, mais encontros – Não que seja proibido ouvir música, dançar e se divertir. Mas faremos isso em lugares menores e ambientes mais controlados. Ora, a época de ouro da música brasileira foi nos anos de 1950, quando as casas de shows e “boates” eram espaços para 100 a 200 pessoas.
Lendo “A noite do meu Bem” de Ruy Castro entendemos o que esses encontros musicais significaram para a música brasileira.
Menos banquetes, mais sabores – Vamos combinar: ninguém consegue servir uma refeição inesquecível para 500 ou 100 pessoas. Vira comida de caserna – com preço de restaurante 5 estrelas.
Para menos pessoas, já é possível, não apenas servir, como também saborear melhor o que quer que seja.
Quem está vivo, já deve ter percebido que há uma beleza intrínseca em acordar todos os dias, conseguir respirar fundo e seguir em frente com possibilidades e dificuldades. Mas, principalmente, escolhas, que devem ser feitas pensando no que importa, e não disputando uma louca corrida sem marca de chegada.
Fernando Pessoa, sempre ele, já sabia disso, e dizia “o rio da minha aldeia, não faz pensar em nada. Quem está ao pé dele, está só ao pé dele”.