Mau humor pode esconder tipo mais leve de depressão
Quem não conhece alguém meio mal-humorado, pessimista, desinteressado e que vive se queixando de cansaço, indisposição e falta de energia? Essa pessoa pode ter distimia, também conhecida como doença do mau humor ou transtorno depressivo persistente.
A condição pode surgir na infância e durar décadas se não for detectada e tratada adequadamente. No Brasil, cerca de 10% dos atendimentos em unidades de saúde têm relação com a doença.
Por serem mais brandos que na depressão, os sintomas muitas vezes passam despercebidos e são até confundidos com traços de personalidade.
A médica psiquiatra Maria Benedita Reis explicou em entrevista ao AT em Família como a distimia afeta a qualidade de vida.
A especialista pontuou ainda a importância de alguém próximo para auxiliar na identificação do problema e orientar a pessoa a consultar um profissional.
AT em Família – Quais sintomas indicam a distimia?
Maria Benedita Reis – O transtorno depressivo persistente, ou distimia, é uma alteração do estado de ânimo, com sintomas emocionais, cognitivos e fisiológicos, tais como alterações do apetite ou do sono, cansaço frequente, baixa autoestima, falta de prazer, incapacidade ou insegurança para tomar decisões e sentimentos de desesperança frequentes, que aparecem na maior parte do dia por pelo menos dois anos.
Em alguns casos, o doente evita situações de risco e depende das redes vinculares de apoio, como amigos e parentes.
Qual a diferença entre distimia e depressão?
Ela é diferente dos outros tipos de depressão porque seus sintomas são mais leves, mas têm uma longa duração. Isso faz com que o paciente tenha dificuldade de se perceber deprimido, fazendo com que ele conviva com essa depressão, tentando se sobrepor, lutar contra ela.
Como essa condição afeta a vida dos pacientes?
Pacientes que sofrem de distimia tendem a apresentar altas taxas de faltas no trabalho.
Essas pessoas quase não conseguem sentir prazer nas coisas que normalmente as interessava, e por isso têm pouquíssimos interesses. É como se um vazio se esparramasse em toda a sua volta, e houvesse dentro delas uma espécie de buraco que não conseguem preencher com nada.
Às vezes, por isso, desenvolvem obesidade da qual não conseguem se livrar. Essas manifestações acontecem em graus menos acentuados, sem inviabilizar totalmente a rotina.
Qual a maior dificuldade em diagnosticar a doença?
Como a maior parte das doenças psiquiátricas e principalmente os transtornos depressivos, o diagnóstico é clínico. Ou seja, não há exames laboratoriais para auxiliar ou explicitar o diagnóstico, que é feito por exclusão de doenças clínicas que causam sintomas depressivos.
A maior dificuldade é a pessoa se perceber doente, o que atrasa a procura por tratamento especializado. A maioria dos pacientes com distimia acredita que seus sintomas são parte de seu “jeito de ser”, o que reduz bastante a sua qualidade de vida.
Como é o tratamento?
Os melhores resultados acontecem com uma combinação de medicamentos e psicoterapia. Enquanto os remédios atuam para normalizar a bioquímica cerebral, a psicoterapia ajuda a aprender novas formas de pensar e agir.
Esses dois recursos terapêuticos funcionam de modo complementar. Com o tratamento, o paciente pode ter uma grande melhora em sua qualidade de vida, melhorando também a forma como se relaciona com as outras pessoas.
A doença tem cura?
Assim como qualquer transtorno psiquiátrico, a possibilidade de cura é incerta. Portanto, prefere-se o termo remissão de sintomas, uma vez que recaídas acabam sendo comuns após o tratamento.
Entretanto, isso não quer dizer que o tratamento é ineficaz. De fato, medicamentos e terapias podem melhorar muito a qualidade de vida do paciente, mas o tratamento pode durar de meses a anos.
Perguntas dos leitores!
Como identificar uma pessoa com distimia e como ajudá-la?
Alessandra Tonini, 46 anos, jornalista
A percepção dos sintomas apresentados por um familiar ou por uma pessoa próxima é extremamente útil, pois ele pode (e deve) sugerir que a pessoa com distimia procure um médico psiquiatra para o diagnóstico e tratamento, que é composto por medicação antidepressiva e psicoterapia.
Como afeta a vida do paciente?
Sandra dos santos Araújo, 32 anos, dona de casa
Os impactos são altos e a pessoa acometida “paga um preço alto” por isso. Conviver por longos anos com um sofrimento prolongado que leva à diminuição de sua qualidade de vida, diminuição do seu rendimento escolar e laborativo, dificuldades de relacionamentos sociais e afetivos traz impactos negativos para a vida das pessoas.
SAIBA MAIS
Causas desconhecidas
Assim como em outros transtornos do humor, as causas da distimia não estão completamente esclarecidas.
Já se sabe, porém, que está relacionada a fatores como hereditariedade, alterações químicas cerebrais, estresse, traumas e sexo feminino.
Também tem relação com doenças como diabetes, cardiopatias, lesões cerebrais, outros transtornos do humor, abuso de substâncias, e outras.
A Distimia, ou transtorno depressivo persistente,
- é uma forma de depressão crônica, de intensidade leve a moderada, que precisa ser tratada de forma adequada, já que pode durar vários anos ou décadas.
- É caracteriza por um humor depressivo que ocorre na maior parte do dia do indivíduo, com uma duração de, no mínimo, dois anos em adultos ou um ano para crianças e adolescentes.
- Sintomas comuns entre os pacientes são tristeza, irritabilidade e dificuldade para realizar as atividades de rotina.
- Outras pessoas apresentam um mau humor persistente, por isso também é conhecida como a doença do mau humor. A palavra “distimia” vem do grego e significa “mau humor”.
Remissão - Intervalo entre a cessação e o reinício de alguma coisa.
Cognitivo - relativo ao processo mental de memória, percepção, juízo e raciocínio.
Os números
- 2,5 mulheres para cada homem sofrem com a distimia
- 3% a 6% da população mundial é acometido pela doença
- 10% dos atendidos em unidades de saúde têm essa condição
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