Pescaria deixa Reino Unido e França em pé de guerra

Países travam disputa pelo direito de pescar em águas territoriais britânicas, no Canal da Mancha, e tensão fica elevada após o Brexit

Jornal A Tribuna | 15/11/2021, 17:17 17:17 h | Atualizado em 15/11/2021, 17:18

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/100000/372x236/inline_00106423_00/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F100000%2Finline_00106423_00.jpg%3Fxid%3D259513&xid=259513 600w, Peixes: exigência de licença emitida pelo Reino Unido causa problemas para pesca no Canal da Mancha
 

De quem são os peixes que o Reino Unido e a França disputam, afinal? A queda de braço entre os vizinhos separados pelo Canal da Mancha segue na conta do Brexit – a saída dos britânicos da União Europeia. 

A nova burocracia que, desde janeiro, dita as regras da relação deu origem a desentendimentos. E a confusão sobre o direito de pesca levou a tensão a ponto de ebulição. 

Pelo menos no discurso. Teve ameaça por parte da França de cortar a luz que é levada por cabos submarinos do continente à ilha britânica de Jersey e até a mobilização de navios da Real Marinha Britânica, mantidos em prontidão para a eventual necessidade de interceptar pesqueiros franceses.

A questão técnica parece clara. Agora, para pescar em águas territoriais britânicas, os europeus precisam de licenças emitidas pelas autoridades do Reino Unido. E vice-versa. 

O documento só é concedido a quem provar que já atuava na área entre fevereiro de 2017 e janeiro do ano passado, o que não é fácil, principalmente para pequenos pesqueiros.

Sem um acordo que agilize a burocracia, o que se vê são entregas atrasadas, peixes estragando nos portos, prateleiras vazias em supermercados e até a falência de empresas, sobretudo familiares. 

Na semana passada, em vez de malas de passageiros, saíram em uma das esteiras do Terminal 5 do aeroporto de Heathrow dezenas de caixas de peixes congelados. 

A pendenga afeta a qualidade do produto, que tem pouco tempo para ir do mar à mesa. Viajar de avião pode ser mais rápido (e caro).

Em janeiro deste ano, em um discurso no Parlamento que entrou para o anedotário político, o conservador Jacob Rees-Mogg, líder da Câmara dos Comuns, afirmou que os “os peixes estavam melhor e mais felizes” porque “agora são britânicos”. 

Ele respondia ao líder do  Partido Nacional Escocês, Tommy Sheppard, que falou em “desastre da pesca” do Brexit e pediu que os pescadores na Escócia fossem compensados. Por enquanto, comunidades de um lado e outro do canal estão sendo afetadas.


Saiba mais


Peixes da família real

A disputa pelas águas territoriais não é nova. Há séculos Reino Unido e França brigam pelo direito de explorar os recursos marítimos. 

Curiosamente, pela lei em vigor desde 1324 no Reino Unido, baleias, golfinhos e esturjões que circulam nos mares do reino a uma distância de até cinco quilômetros da costa pertencem a ninguém menos do que à rainha Elizabeth II.

Em 2004, um pescador que fisgou um esturjão de quase três metros, nas proximidades do País de Gales, teve de pedir autorização à monarca para vendê-lo. 

Guerra do Bacalhau

No anos 1950 e 1970, o Reino Unido se viu num papel inverso, quando a Islândia suspendeu um acordo antigo e excluiu os pescadores britânicos de suas águas territoriais. 

No auge da chamada Guerra do Bacalhau, uma fragata da Marinha real chegou a colidir com uma canhoneira islandesa. 

Limites

No século XVIII, chegou-se a um entendimento sobre o que seriam os limites das águas territoriais europeias: três milhas da costa, mais ou menos o alcance de uma bala de canhão. 

Mais tarde, no século XX, quando os armamentos ficaram muito mais potentes, o assunto voltou às mesas de negociação. A bala de canhão já não era mais parâmetro. E os peixes perderam o peso quando são comparados à exploração de minerais, como o petróleo. 

Acertou-se, em um acordo nas Nações Unidas, que o limite passaria a 200 milhas. Alguns países como os Estados Unidos, contudo, nunca ratificaram a Convenção sobre o Direito do Mar.

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