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Claudia Matarazzo

Claudia Matarazzo

Colunista

Claudia Matarazzo

Gravidez precoce

| 16/01/2020, 07:30 07:30 h | Atualizado em 16/01/2020, 07:36

A virgindade é a única arma da mulher!”. Cresci ouvindo essa frase de minha mãe. Essa era sua ideia de educação sexual. Parecida com a da ministra Damares. Nós, os filhos – três mulheres e um varão –, com dois anos exatos de diferença entre um e outro, ouvíamos aquilo com diferentes graus de interpretação e entendimento.

Um dia, adolescentes todos, estávamos a argumentar sobre alguma coisa ou alguém, e mais uma vez ela soltou a frase. Andrea perdeu a paciência e perguntou: “Mamãe, desculpe, mas arma contra quem?”

Silêncio – e pausa para pensar. Não me lembro da resposta dada, apenas das risadas das filhas mulheres, finalmente libertas daquele dogma. E mamãe, milagrosamente, começou a pensar e mudou de ideia.
Hoje, discute com minha filha de 22 anos as vantagens de casar mais tarde e com mais experiência.

Não vou entrar no mérito de outras declarações polêmicas da ministra Damares, apenas contar uma experiência de sucesso para prevenir a gravidez precoce, aqui mesmo no Brasil, que ela talvez ignore.

Escola doméstica – Há alguns anos, marcou-me profundamente uma visita à Escola Doméstica de Natal – que, apesar do nome, hoje é mista, e tem o ciclo de ensino completo.

Fundada há mais de 100 anos, naquele momento ainda era viva sua principal diretora – dona Noilde Ramalho, então com 90 e poucos anos.

Ali, meninos e meninas aprendiam, além do currículo oficial, a prática de culinária e elaboração de cardápios em uma fantástica cozinha industrial. A escola é ao pé da serra, e uma construção térrea em meio a um imenso jardim.

Perguntei o que eram as várias casinhas que pareciam casas de boneca espalhadas pela relva. Dona Noilde bateu a porta de uma delas e fomos recebidas por uma adolescente de cerca de 13 anos. Ela estava em seu período de experiência do que era cuidar de uma casa.

Ali, ela ficava “morando” por um tempo: cozinhava, arrumava e, ao fim, recebia os pais e amigos para uma refeição – tudo valendo nota, etc.

Toda equipada, a casinha era um brinco. Naturalmente. nem todas eram assim...

Mas meu espanto foi maior quando visitamos a “casa creche”, onde ficavam os filhos de funcionários da escola, e para onde eram designadas em sistema de rodízio as alunas pré-adolescentes para terem a experiência de serem “mães”.

Orientadas por profissionais, cuidavam dos bebês por períodos prolongados sem muita trégua.
Dona Noilde explicou que era para entender que uma das consequências do sexo na adolescência era que “dava trabalho.”

Perguntei se funcionava. Não apenas funcionava como, ouvi uma aluna pedindo “por favor” que a deixassem continuar por mais aquele dia, pois havia um bebê com febre – e ela queria seguir o progresso da sua melhora.

Ou seja: as alunas aprendiam responsabilidade, a socializar e também criavam vínculos.

Educação sexual é isso: transparência e vivência. Não apontar um único e utópico (para algumas ) ou indesejável caminho.

A liberdade de esperar tem o outro lado, o de não querer esperar – e ter consciência dessa escolha. E não apenas edulcorar a espera com a ilusão de um vestido de noiva.

Ouso sugerir à ministra Damares que, em vez de usar tanta verba e foco para uma campanha apenas conceitual, com duvidosa eficiência, que implante o método de dona Noilde em escolas públicas deste nosso Brasil.

Ganhariam todos: em informação, experiência e, principalmente, na percepção da realidade sem deformações ideológicas.

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