Gafes da Claudia
Sempre me perguntam se não cometo gafes. Claro, e muitas! Apenas – pelo ofício e por serem tantas – já sei que não morrerei disso, e aprendi a aprender com elas. Relato aqui duas das minhas preferidas com o elegante ex-governador de São Paulo Claudio Lembo, em cuja gestão fui nomeada, a convite de José Serra, que o sucedeu.
O quarto da rainha – Em minha primeira visita ao Palácio, Claudio Lembo, gentilmente, fez questão de mostrar todas as dependências do Bandeirantes.
Na ala residencial, estávamos no dormitório em que pernoitou, na década de 1960, a rainha Elizabeth II, da Inglaterra, até hoje chamado de “quarto da rainha”. Também poderia ser chamado “quarto do monge”, tal a frugalidade mobiliária.
Quando me falou que sua majestade havia ficado hospedada lá, disparei:
“Credo, governador, a rainha ficou aqui?! Mas parece um Ibis!”, falei, referindo-me à cadeia de hotéis que é famosa pela sua simplicidade funcional.
Perplexo com a comparação, ele perguntou, espantado e divertido: “É muito grave?”
Acabamos rindo juntos, concordando que, hoje, os quartos modernos dos Ibis saem ganhando disparado do quarto da rainha.
A primeira posse – Sorte de principiante – Minha primeira missão importante no Palácio dos Bandeirantes foi organizar a posse do governador, que ocorre no dia 1º de janeiro.
Para os que organizam, é um mico sem fim por um motivo técnico seriíssimo: na véspera, há comemorações de grande porte por toda a cidade, estado e País – por conta do Réveillon, todo tipo de serviço (montagem, som, iluminação, bufê, garçons, recepcionistas – tudo!) fica comprometido.
Durante a posse, tudo é importante: o discurso do governador eleito, sua aparência, quem ele cumprimenta, encontra e/ou conversa. Quem está presente (e de quem notou-se a ausência ).
Sabendo da delicadeza da missão, pus-me a trabalhar focada no envio de convites, preparação, etc. Estávamos no dia 26 de dezembro quando recebo um telefonema do governador Lembo: “Você esqueceu de mandar um convite”.
“Pode dizer governador, quem faltou?”. Adrenalina a mil, pois, diariamente, recebíamos nomes de pessoas que não poderiam ser esquecidas. Levei um choque quando ouvi: “Eu. Até hoje, não recebi nada”.
Gafe! Aflitíssima, consultei Dalva, há 28 anos à frente do mailing do Cerimonial. Ela, então, respondeu calmíssima:
“Não cabe ao governador receber convite. Ele está convidando para a festa do governador eleito Serra. O evento é em sua casa, aqui no Palácio, não teria por que receber”.
Consciente de que havia sido vítima de uma pegadinha, subi ao gabinete para apresentar o convite ao governador.
Ele, por sua vez, examinou tudo longamente, elogiou papel, formato e cada detalhe do texto, sempre com um olhar meio travesso.
“Gostei” – disse, finalmente. “Pode mandar”.
Saí da sala atarantada: mandar para ele?!. Os demais haviam sido expedidos há semanas. Só no meio da noite – insone –, eu entendi a mensagem.
Lembo, à sua maneira elegante, me fez entender, com toda sutileza, que, com a correria, eu havia ignorado uma regra de cortesia básica: mostrar o convite ao dono da festa para a sua aprovação.